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Vírus JC e Vírus BK

O vírus BK (BKV) e o vírus JC (JCV) são pequenos vírus de DNA de cadeia dupla, não envelopados, pertencentes à família Polyomaviridae, que são onipresentes na população humana. Embora a infeção primária seja geralmente assintomática, o vírus permanece latente nos rins e nos órgãos linfoides. As infeções latentes podem tornar-se ativas em pacientes imunossuprimidos. A reativação do BKV é mais frequentemente observada em pacientes transplantados e pode levar a nefropatia, perda do enxerto, cistite hemorrágica e estenose uretral. A reativação do JCV causa leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP), que é considerada uma doença definidora de SIDA. O diagnóstico pode ser confirmado com PCR ou biópsia de tecido. A terapia específica não está disponível. O tratamento visa reduzir a imunossupressão.

Última atualização: Jul 6, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Classificação

Fluxograma de classificação de vírus de dna

Identificação de vírus de DNA:
Os vírus podem ser classificados de várias formas. Contudo, a maioria dos vírus possui um genoma formado por DNA ou RNA. Os vírus com genoma de DNA podem ainda ser caracterizados como de cadeia simples ou dupla. Os vírus com envelope são revestidos por uma camada fina de membrana celular, que geralmente é retirada da célula hospedeira. Os vírus sem envelope são apelidados de vírus “nus”. Alguns vírus com envelope traduzem DNA em RNA antes de serem incorporados no genoma da célula hospedeira.

Imagem por Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Características Gerais e Epidemiologia

Taxonomia

  • Família: Polyomaviridae
  • Género: Betapoliomavírus
  • Espécies:
    • Poliomavírus humano 1: vírus BK (BKV, pela sigla em inglês)
    • Poliomavírus humano 2: vírus JC (JCV, pela sigla em inglês)

Características gerais

Os vírus BKV e JCV compartilham características semelhantes:

  • Vírus de DNA:
    • Circular
    • Cadeia dupla
  • Estrutura:
    • Pequena
    • Sem envelope
    • Icosaédrica
Micrografia eletrônica mostrando vírus bk vírus jc e vírus bk

Micrografia eletrónica onde é possível observar as características dos viriões do vírus BK (BKV):
o tamanho pequeno e a simetria icosaédrica.

Imagem: “Viral inclusions seen on electron microscopy of urine epithelial cells” por Perram J et al. Licença: CC BY 3.0

Doenças associadas

  • BKV:
    • Nefropatia associada ao BKV
    • Estenose ureteral
    • Cistite hemorrágica
  • JCV:
    • Leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP)
    • Encefalopatia e meningite (raro)

Epidemiologia

  • Grande parte da epidemiologia do BKV e JCV na população geral é desconhecida
  • Seroprevalência:
    • Nos Estados Unidos e Europa: 30%-90%
    • Aumenta com a idade
  • A infeção assintomática é detetável em 10%–30% dos indivíduos saudáveis.
  • As manifestações clínicas são raras.

Patogénese

Reservatório

Os seres humanos são os hospedeiros naturais do JCV e do BKV (sem reservatório animal).

Transmissão

  • Os métodos de transmissão ainda são pouco compreendidos tanto para o BKV como para o JVC.
  • Hipóteses possíveis:
    • Oral
    • Respiratória
    • Perinatal
    • Tecido de doador

Fatores de risco do hospedeiro

A doença clínica surge mais frequentemente da reativação do vírus em pacientes imunodeprimidos:

  • VIH/SIDA (a LMP é considerada uma condição definidora de SIDA)
  • Transplante de órgão
  • Transplante de células hematopoiéticas (TCH)
  • Neoplasias malignas hematológicas

Fisiopatologia

  • A infeção primária leva a uma persistência subclínica ao longo da vida no tecido do hospedeiro.
  • Uma vez dentro da célula, o vírus percorre até ao núcleo e estabelece uma infeção latente ou lítica.
  • A infeção é controlada por anticorpos e células T citotóxicas.
  • Falha da resposta imune → reativação
    • JCV:
      • Estabelece a latência (principalmente nos rins e tecido linfoide)
      • Reativação → replicação e produção de variantes neurotrópicas
      • Pode atravessar a barreira hematoencefálica → replicação lítica em oligodendrócitos → desmielinização → LMP
    • BKV:
      • Latência nos rins
      • Reativação → ↑ replicação → lesão das células tubulares renais e uroepiteliais e infiltração inflamatória
      • Inflamação intersticial → fibrose e lesão tubular

Apresentação Clínica

BKV

Infeção primária:

  • A maioria dos pacientes é assintomática.
  • Alguns indivíduos podem manifestar doença respiratória ligeira.

Infeção secundária:

  • Ocorre em pacientes imunodeprimidos
  • Nefropatia associada ao BKV (mais comum em pacientes submetidos a transplante renal):
    • Lesão renal aguda
    • Hematúria, piúria e cilindros celulares
    • Pode resultar em disfunção ou perda do aloenxerto renal
  • Estenose ureteral:
    • Obstrução do trato urinário
    • Lesão renal aguda
  • Cistite hemorrágica (mais comum em recetores de HCT):
    • Disúria
    • Urgência miccional
    • Dor abdominal inferior
    • Hematúria
    • Lesão renal aguda (secundária à obstrução)

JCV

A LMP é uma doença progressiva (e muitas vezes fatal) mais frequentemente observada em pacientes com SIDA (considerada uma doença definidora de SIDA) com contagem de CD4 < 200 células/µL.

  • Descoordenação
  • Hemiparesia (achado mais comum)
  • Afasia e disartria
  • Hemianopsia ou diplopia
  • Ataxia da marcha
  • Défice cognitivo
  • Lentificação motora
  • Cefaleia
  • Convulsões (raro)

Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico

BKV:

  • Técnica de PCR quantitativo de plasma para DNA de BKV:
    • Teste de escolha
    • Deve ser realizada em todos os pacientes transplantados renais.
  • Citologia da urina para identificação de células infetadas
  • Biópsia de aloenxerto renal:
    • É o exame “gold standard” para o diagnóstico
    • A imunohistoquímica pode ser usada para detetar antigénios de BKV.
    • Achados:
      • Inclusões virais basofílicas intranucleares
      • Variação no tamanho dos núcleos celulares ou hipercromasia (indica lesão nuclear)
      • Lesão tubular com infiltrados celulares inflamatórios intersticiais
      • Tubulite (linfócitos na membrana basal tubular)

JCV:

  • TC ou RM do cérebro:
    • Lesões disseminadas, sem realce, de substância branca (indica desmielinização)
    • Não se limita aos territórios cerebrovasculares
    • Sem efeito de massa
  • Punção lombar com análise do LCR: PCR para DNA de JCV (exame preferencial)
  • Biópsia cerebral:
    • Deve ser considerada se a PCR for negativa, mas a suspeita diagnóstica permanecer alta
    • Achados:
      • Desmielinização
      • Astrócitos anormais
      • Núcleos oligodendrogliais aumentados
      • Habitualmente não há infiltrados inflamatórios
Leucoencefalopatia multifocal de imagens de ressonância magnética

Ressonância magnética (RM) de um paciente com leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP):
a: RM cerebral axial ponderada em T2 a demonstrar hiperintensidade de sinal bilateral na substância branca parietooccipital
b: imagem axial ponderada em difusão em T2

Imagem: “Axial T2-Flair MRI and axial T2-Flair diffuse-weighted image” por Jeyaraman VA et al. Licença: CC BY 2.0

Tratamento

Não existe um tratamento específico disponível para BKV ou JCV. O tratamento visa reduzir a imunossupressão.

  • Reduzir a terapêutica imunossupressora (quando possível)
  • Terapêutica antirretroviral para VIH/SIDA
  • Tratamento de suporte

Diagnósticos Diferenciais

  • Linfoma do SNC: neoplasia associada à infeção por Epstein-Barr, que pode ocorrer em pacientes com SIDA com contagem de CD4 < 50 células/µL. Os pacientes podem manifestar-se com cefaleia, confusão, défices neurológicos focais, convulsões e sintomas constitucionais. O diagnóstico pode ser estabelecido através de exames de imagem cerebrais, estudo do LCR para citologia e PCR e biópsia cerebral. O tratamento inclui terapêutica antirretroviral e quimioterapia.
  • Demência associada ao VIH: situação clínica em pacientes com SIDA com contagem de CD4< 200 células/µL. Os pacientes apresentam perda de memória, comprometimento do funcionamento executivo, alterações do comportamento e humor e perda gradual da capacidade motora. A RM pode revelar hiperintensidades difusas e irregulares da substância branca. Devem ser excluídas outras possíveis causas, como LMP e linfoma, através da análise do LCR. O tratamento inclui terapêutica antirretroviral e medidas de suporte.
  • Esclerose múltipla (EM): doença autoimune inflamatória crónica que leva à desmielinização do SNC. A apresentação clínica pode incluir sintomas neurológicos, que afetam a visão, função motora e autonómica. A apresentação varia dependendo do local das lesões. O diagnóstico é obtido através de ressonância magnética cerebral e da coluna vertebral e ainda exame do LCR. O tratamento envolve corticoterapia nas exacerbações agudas e agentes modificadores da doença, de forma a retardar a progressão da doença.
  • Citomegalovírus: vírus de DNA de cadeia dupla, ubíquo, pertencente à família Herpesviridae. A infeção inicial é geralmente assintomática no hospedeiro imunocompetente. No entanto, a reativação pode ocorrer em pacientes imunodeprimidos, manifestando-se de várias formas, como colite, hepatite, pneumonite, meningoencefalite e nefrite. O diagnóstico pode ser confirmado com PCR ou biópsia. O tratamento inclui antivirais e diminuição da imunossupressão.

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