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Tosse Convulsa

A tosse convulsa é uma infeção bacteriana altamente contagiosa e potencialmente fatal do trato respiratório causada pela Bordetella pertussis. A doença tem 3 fases clínicas, sendo a segunda e a terceira caracterizadas por tosse paroxística intensa com um estridor inspiratório e que pode provocar o vómito. A tosse convulsa pode ser prevenida com uma vacina que faz parte da maioria das vacinações de rotina, sendo geralmente iniciada às 6 semanas de idade. O diagnóstico é baseado na história clínica e confirmado pela deteção do organismo através de culturas ou de PCR. Se houver suspeita de tosse convulsa, deve ser iniciada imediatamente a antibioterapia com macrólidos, mesmo que a confirmação laboratorial esteja pendente.

Última atualização: Jul 28, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Descrição Geral

Epidemiologia

  • Incidência em todo o mundo: 24 milhões de casos por ano
  • Mortes em todo o mundo: cerca de 161.000 por ano
  • Incidência nos Estados Unidos: aproximadamente, 18.000 casos em 2019
  • Mais comum nos países em desenvolvimento, com a maior taxa de mortalidade em crianças
  • Comum e mais grave em lactentes < 1 ano de idade (geralmente a imunidade passiva materna é escassa ou ausente, a menos que a mãe tenha recebido uma vacina de reforço Tdpa no início do terceiro trimestre)
  • Cada vez mais comum em adolescentes, pois a imunidade protetora conferida pela vacinação diminui após 4 a 12 anos.

Etiologia

  • Infeção causada pela bactéria Bordetella pertussis (um cocobacilo gram-negativo)
  • A transmissão ocorre:
    • Pela via aérea através de gotículas (tosse, espirros ou fala)
    • Por contacto direto com secreções orais ou nasais de um indivíduo infetado.
  • Alta infeciosidade durante cerca de 3 semanas após o início da tosse, se não tratada (apenas 5 dias com tratamento).
  • Período de incubação: 7-10 dias (em média)

Fatores de risco

Os indivíduos em risco de contrair tosse convulsa e/ou doença grave incluem:

  • Indivíduos não vacinados
  • Lactentes (especialmente < 4 meses)
  • Mulheres grávidas
  • Aqueles com imunodeficiência
  • Aqueles com condições respiratórias subjacentes (e.g., DPOC)
  • Adultos mais velhos (> 65 anos de idade)
  • Aqueles que cuidam de bebés

Fisiopatologia

  • A infeção ocorre através da inalação, pela via aérea, de gotículas que contêm B. pertussis.
  • As bactérias aderem (via adesinas) ao epitélio ciliar da nasofaringe, onde proliferam.
    • Os fatores de virulência (e.g., citotoxina traqueal, toxina dermonecrótica, adenilato ciclase) → danos nos tecidos
    • Inflamação e destruição dos cílios → inibição do elevador mucociliar (podendo proliferar para a árvore brônquica e para os pulmões, nos casos graves)
    • Secreção de exsudado inflamatório no trato respiratório (TR)
  • Remoção deficitária de muco e detritos do TR → microaspiração, resulta em:
    • Tosse
    • Maior risco de infeções secundárias (e.g., pneumonia)
  • Foram encontrados organismos nos macrófagos alveolares, bem como nas células epiteliais respiratórias ciliadas do trato respiratório inferior, o que pode explicar a duração prolongada da tosse.
  • A toxina da B. pertussis causa a maioria das manifestações sistémicas associadas à tosse convulsa (e.g., linfocitose, hipertensão pulmonar).
Bordetella pertussis causando coqueluche

Fisiopatologia da Bordetella pertussis, que causa a tosse convulsa.

Imagem de Lecturio.

Apresentação Clínica

Primeira fase: catarral

  • Dura 1-2 semanas
  • Apresenta-se com sintomas inespecíficos de uma infeção do trato respiratório superior:
    • Tosse leve
    • Coriza (ou seja, corrimento nasal)
    • Esternutos
    • Conjuntivite
    • Febre baixa (invulgar)

Segunda fase: paroxística

  • Dura de 2 a 8 semanas
  • Apresenta-se com paroxismos de tosse intensa característicos, seguidos de um som inspiratório semelhante a um “guincho”:
    • Ocorre frequentemente à noite
    • Os guinchos ocorrem com mais frequência em crianças mais velhas e bebés.
    • Alguns bebés (< 6 meses de idade) podem apresentar períodos de asfixia ou apneia devido à incapacidade dos músculos respiratórios de produzirem uma tosse forte.
  • Também podem manifestar vómitos provocados pela tosse, dispneia e cianose.

Terceira fase: convalescença

  • Dura em média 4 semanas, mas pode-se estender por meses.
  • Caracterizada pela redução progressiva de toda a sintomatologia.

Diagnóstico

  • A história clínica permite uma forte suspeita diagnóstica, no entanto, este necessita de confirmação laboratorial.
  • História clínica: história de contacto com outros casos de tosse convulsa e vacinação (como a vacina não oferece proteção total, a tosse convulsa deve ser considerada mesmo em crianças vacinadas!)
  • Estudos laboratoriais:
    • Zaragatoa nasofaríngea → culturas (gold standard) ou PCR
      • Apenas é fidedigna se realizada nas primeiras 2 a 3 semanas da infeção
    • Testes serológicos:
      • Podem ser usados até várias semanas após o início dos sintomas.
      • Um aumento de 2 vezes no título de anticorpos contra a tosse convulsa permite o diagnóstico.
    • O hemograma mostra linfocitose inespecífica.
Coloração de gram da bactéria bordetella pertussis

Coloração de Gram da bactéria Bordetella pertussis

Imagem: “Gram stain of the bacteria Bordetella pertussis” do CDC/Public Health Image Library. Licença: Domínio Público

Tratamento e Prevenção

Tratamento de suporte

  • A hospitalização pode ser necessária nos lactentes e crianças que apresentam apneias e dificuldade respiratória.
  • Pode ser necessária a administração de oxigénio nos casos graves.
  • O tratamento antitússico não se mostrou eficaz.

Terapêutica médica

Se a história clínica apoiar fortemente o diagnóstico de tosse convulsa, é sugere-se fortemente iniciar a antibioterapia, enquanto se aguardam os resultados dos testes.

  • Macrólidos (e.g., azitromicina, claritromicina, eritromicina)
    • Tratamento de eleição
    • Reduzem a disseminação da tosse convulsa, mas não afetam a evolução clínica.
    • A azitromicina é a escolha de primeira linha para lactentes < 1 mês de idade e para mulheres grávidas.
  • O trimetoprim-sulfametoxazol pode ser utilizado se existir uma contraindicação aos macrólidos.

Prevenção e profilaxia

  • Imunização ativa através da administração da vacina de toxoides diftéricos e tetânicos e acelular da tosse convulsa (DTPa)
    • Apenas 80%–90% eficaz
    • 5 doses no total (aos 2, 4, 6 e 18 meses; e 5 anos)
    • Vacina de reforço necessária aos 11-18 anos de idade (10 anos após a última dose) ou em mulheres grávidas (no terceiro trimestre) com a vacina de toxoide tetânico, toxoide diftérico reduzido e acelular da tosse convulsa (Tdpa)
  • Profilaxia pós-exposição:
    • Mesmo que sejam vacinados, também se devem tratar os contactos próximos, especialmente se existir um alto risco de desenvolver doença grave.
    • Os antibióticos utilizados são os mesmos que os utilizados para a infeção documentada.

Diagnóstico Diferencial

  • Bronquite aguda: infeção do trato respiratório inferior que leva à inflamação da árvore traqueobrônquica. A maioria dos casos são víricos e as infeções bacterianas são geralmente causadas por bactérias atípicas. Os indivíduos apresentam tosse, que pode ser produtiva e dura tipicamente 1-3 semanas. A febre e outros sintomas do trato respiratório superior também podem estar presentes. O diagnóstico é clínico, embora a radiografia ao tórax possa ser realizada para exclusão de pneumonia. O tratamento é de suporte e os antibióticos não estão indicados em adultos saudáveis.
  • Pneumonia: infeção respiratória caracterizada pela inflamação do espaço alveolar e/ou do tecido intersticial pulmonar. As causas incluem infeção por bactérias, vírus ou fungos. Os sintomas podem incluir febre, tosse, dispneia e dor torácica pleurítica. A radiografia do tórax mostra frequentemente infiltrados e/ou consolidação pulmonar. O tratamento inclui antibioterapia empírica, que pode ser adaptada se o organismo causador for identificado.
  • Croup: também conhecida como laringotraqueobronquite, uma doença habitualmente causada por um agente vírico ou, mais raramente, bacteriano e que resulta numa inflamação grave da traqueia. Apresenta-se geralmente em crianças < 3 anos de idade. Os indivíduos desenvolvem uma tosse rouca descrita como “tosse de cão” e um estridor inspiratório. A croup é geralmente diagnosticada clinicamente ou com a ajuda de radiografia (“sinal do campanário”). O tratamento consiste em corticoides e epinefrina racémica nebulizada.
  • Aspiração de corpo estranho: aspiração de um objeto que fica alojado na laringe, traqueia ou brônquios. A aspiração de corpos estranhos é uma emergência potencialmente fatal que ocorre frequentemente em crianças < 3 anos de idade. Os indivíduos podem apresentar-se com sintomas relacionados com asfixia, que podem consistir em tosse, pieira, estridor e/ou angústia respiratória. Os corpos estranhos raramente são visualizados na radiografia, pelo que devem ser utilizados outros métodos de imagem (e.g., TC, broncoscopia). A remoção imediata do objeto é o tratamento definitivo.

Recursos

  1. Mandell, L.A., et al. (2007). Infectious Diseases Society of America/American Thoracic Society consensus guidelines on the management of community-acquired pneumonia in adults. Clinical Infectious Diseases 44:S27–S72. https://www.thoracic.org/statements/resources/tb-opi/idsaats-cap.pdf
  2. Morbidity and Mortality Weekly Report. (2005). Recommended antimicrobial agents for the treatment and postexposure prophylaxis of pertussis. Centers for Disease Control and Prevention. Retrieved February 14, 2022, from https://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/rr5414a1.htm
  3. Centers for Disease Control and Prevention. (2007). Guideline for isolation precautions: preventing transmission of infectious agents in healthcare settings. Retrieved February 14, 2022, from https://www.cdc.gov/infectioncontrol/guidelines/isolation/appendix/type-duration-precautions.html
  4. Centers for Disease Control and Prevention. (2019). Pertussis (whooping cough): treatment. Retrieved February 14, 2022, from https://www.cdc.gov/pertussis/clinical/treatment.html
  5. Centers for Disease Control and Prevention. (2017). Tdap (Pertussis) and pregnancy. Retrieved May 1, 2022, from https://www.cdc.gov/vaccines/pregnancy/hcp-toolkit/tdap-vaccine-pregnancy.html
  6. Bush, L.M., Vazquez-Pertejo, M.T. (2022). Pertussis. MSD Manual Professional Version. Retrieved June 29, 2022, from https://www.msdmanuals.com/professional/infectious-diseases/gram-negative-bacilli/pertussis
  7. Yeh, S., Mink, C.M. (2022). Pertussis infection in infants and children: clinical features and diagnosis. UpToDate. Retrieved June 29, 2022, from https://www.uptodate.com/contents/pertussis-infection-in-infants-and-children-clinical-features-and-diagnosis
  8. Yeh, S. (2021). Pertussis infection in infants and children: treatment and prevention. UpToDate. Retrieved June 29, 2022, from https://www.uptodate.com/contents/pertussis-infection-in-infants-and-children-treatment-and-prevention
  9. Cornia, P., Lipsky, B.A. (2021). Pertussis infection in adolescents and adults: clinical manifestations and diagnosis. UpToDate. Retrieved June 29, 2022, from https://www.uptodate.com/contents/pertussis-infection-in-adolescents-and-adults-clinical-manifestations-and-diagnosis
  10. Cornia, P., Lipsky, B.A. (2022). Pertussis infection in adolescents and adults: treatment and prevention. UpToDate. Retrieved June 29, 2022, from https://www.uptodate.com/contents/pertussis-infection-in-adolescents-and-adults-treatment-and-prevention

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