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Taenia/Teníase

Taenia pertence à classe dos Céstodos de helmintas. Os humanos são infetados por estas ténias quando é consumida carne bovina (T. saginata) ou suína (T. solium e T. asiatica) mal cozinhada. A teníase é frequentemente assintomática, mas a ingestão de larvas pode causar desconforto abdominal, náuseas e obstipação ou diarreia. A excreção de proglótides nas fezes é o sinal mais comum da teníase. Um paciente que ingere ovos de T. solium pode desenvolver cisticercose, apresentando quistos musculares e cutâneos, envolvimento ocular ou manifestações neurológicas (neurocisticercose). O diagnóstico é obtido através da identificação de proglótides ou ovos nas fezes. Os achados característicos da TC ou RM ajudam a diagnosticar a neurocisticercose. O tratamento inclui geralmente terapêutica anti-helmíntica.

Última atualização: Jul 28, 2023

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Características Gerais e Epidemiologia

Características gerais da Taenia

Taenia é um género de céstodos parasitas (ténias).

Ovos:

  • Esféricos
  • Parede espessa e estriada
  • Contêm um embrião de 6 ganchos (hexacanto)

Adultos:

  • Tamanho:
    • T. saginata: < 5 m de comprimento
    • T. solium: aproximadamente 2-7 m de comprimento
  • Corpo segmentado, em forma de fita:
    • Escoléx:
      • Rostelo com 2 anéis em forma de gancho em T. solium
      • 4 ventosas musculares
    • Estróbilo com aproximadamente 1000 proglótides:
      • Segmentado
      • Possui aparelhos de órgãos reprodutores

Espécies clinicamente relevantes

As doenças a seguir abordadas são causadas por ténias:

  • Teníase:
    • T. saginata (ténia de bovino)
    • T. solium (ténia de porco)
    • T. asiatica (ténia asiática)
  • Cisticercose: T. solium

Epidemiologia

Distribuição geográfica das espécies:

  • T. solium e T. saginata: distribuição mundial
  • T. asiatica: Ásia

Teníase:

  • Afeta aproximadamente 50 milhões de pessoas a nível mundial
  • Rara nos Estados Unidos
  • Maior incidência em zonas onde:
    • Há menos acesso a água limpa.
    • A ingestão de carne crua ou mal cozinhada é comum

Cisticercose:

  • Aproximadamente 1000 casos diagnosticados por ano nos Estados Unidos
  • Mais comum em imigrantes

Patogénese

Hospedeiros

  • Hospedeiro definitivo: humanos
  • Hospedeiros intermédios:
    • T. saginata: gado
    • T. solium e T. asiatica: suínos

Fatores de risco para os hospedeiros

  • Consumo de carne de vaca ou porco crua ou mal cozinhada
  • Habitantes nas seguintes condições:
    • Áreas rurais
    • Países em desenvolvimento
  • Falta de saneamento básico
  • Contacto próximo com animais infetados

Transmissão

  • Teníase: ingestão de fases larvares na carne
  • Cisticercose: ingestão de ovos de T. solium através:
    • Alimentos ou água contaminados
    • Transmissão fecal-oral

Ciclo de vida e fisiopatologia

Teníase:

  1. Os porcos ou bovinos ingerem vegetação contaminada com ovos ou proglótides grávidas.
  2. Os ovos eclodem no intestino → oncosferas
  3. Invasão da parede intestinal → circulação sanguínea → migração para o músculo estriado → transformação em cisticerco (larva dentro de um saco cheio de líquido)
  4. Os humanos ingerem carne de vaca ou porco crua ou mal cozinhada → desenvolve-se uma ténia adulta no intestino, fixando-se à parede intestinal com o escólex
  5. A forma adulta produz proglótides → amadurecem e engravidam → desprendem-se da ténia
  6. Os proglótides e os ovos são excretados nas fezes → continuação do ciclo

Cisticercose:

  1. Os humanos consomem alimentos ou água contaminados com ovos de T. solium ou proglótides grávidas.
  2. Os ovos eclodem no intestino → oncosferas
  3. Invasão da parede intestinal → circulação sanguínea → migração para os tecidos e órgãos → transformação em cisticerco → cisticercose
  4. O cisticerco pode migrar para o SNC → neurocisticercose
Life cycle of taenia solium cysticercosis taeniasis

Ciclo de vida de Taenia solium e desenvolvimento da cisticercose versus teníase.

Imagem: “Cisticercose” por CDC. Licença: Public Domain

Apresentação Clínica

Teníase

A maioria dos pacientes (sobretudo adultos) são assintomáticos.

  • Os sintomas mais comuns incluem:
    • Excreção de proglótides nas fezes (mais comum)
    • Náuseas
    • Anorexia
    • Dor abdominal
    • Prurido anal
  • Menos comuns:
    • Obstipação ou diarreia
    • Cefaleias
    • Tonturas
    • Ansiedade
  • Complicações resultantes da obstrução por segmentos de ténias:
    • Obstrução biliar:
      • Colecistite
      • Pancreatite
    • Obstrução intestinal
    • Apendicite

Cisticercose

Os sinais e sintomas dependem dos tecidos envolvidos.

Cisticercose muscular e cutânea:

  • Maioritariamente assintomática.
  • É possível palpar os quistos sob a pele.
  • Mialgias
  • Miosite

Cisticercose ocular:

  • Sensação de corpo estranho
  • Dor ocular
  • Moscas volantes
  • Diminuição da acuidade visual
  • Tremor ocular
  • Olho vermelho
  • Fotofobia

Neurocisticercose:

  • Convulsões
  • Défices neurológicos focais
  • Hipertensão intracraniana:
    • Cefaleias
    • Náuseas
    • Vertigens
    • Papiledema
  • Distúrbios psiquiátricos:
    • Alteração do estado de consciência
    • Distúrbios de personalidade
    • Dificuldades de aprendizagem
Cisticercose ocular

Cisticerco de ténia solium na pupila do olho de um paciente:
Embora seja raro, os cisticercos podem flutuar no olho, afetando a visão.

Imagem: “14629” por CDC/Dr. H. Zaiman, Dr. Myron G. Schultz. Licença: Public Domain

Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico

  • Achados laboratoriais inespecíficos:
    • Anemia
    • Eosinofilia
  • Análise das fezes:
    • A identificação de ovos ou proglótides estabelece o diagnóstico de teníase.
    • ELISA para pesquisa de antigénios de Taenia
    • PCR para identificar o ADN
  • Teste serológico para a cisticercose: “enzyme-linked immunoelectrotransfer blot” (EITB)
  • A TAC ou RM pode ser utilizada em pacientes com suspeita de neurocisticercose.
    • Aparência de “queijo suíço”
    • As lesões podem ser:
      • Quísticas
      • Calcificadas
      • Em formato de anel
    • Outras achados sugestivos:
      • Hidrocefalia com alargamento dos ventrículos
      • Envolvimento leptomeníngeo
Neurocisticercose

RM de um paciente com neurocisticercose:
Lesões quísticas do tipo “queijo suíço” dispersas pelo cérebro.

Imagem: “Neurocysticercosis” de Shushruth. Licença: Public Domain

Tratamento da teníase

A teníase pode ser tratada com fármacos anti-helmínticos:

  • Praziquantel (preferencialmente)
  • Niclosamida

Tratamento da cisticercose

  • Geral: A doença assintomática não requer tratamento.
  • Cisticercose ocular: avaliação oftalmológica
  • Neurocisticercose:
    • Terapêutica anti-helmíntica
      • Albendazole
      • Pode ser associado Praziquantel.
    • Corticosteróides
      • Prednisona ou dexametasona
      • Admnistrados antes e durante a terapêutica anti-helmíntica
      • Reduzem a inflamação causada por quistos degenerados
    • Fármacos anti-epiléticos
    • Seguimento em consulta de neurocirurgica devido a:
      • ↑ Pressão intracraniana
      • Cisticercos intraventriculares

Prevenção

  • Cozinhar bem a carne.
  • Identificar e tratar os pacientes infetados.
  • Medidas de higiene adequadas.
  • Evitar alimentos e água potencialmente contaminados.

Comparação de Espécies de Ténias

Tabela: Características e doenças de diferentes espécies de ténias
Microrganismo Diphyllobothrium latum Taenia saginata Echinococcus granulosus
Características
  • Aproximadamente 10 m de comprimento
  • Sem ganchos
  • Bothria presente
  • > 3000 proglótides
  • < 5 m de comprimento
  • Sem ganchos
  • Sem pescoço
  • Aproximadamente 1000 proglótides
  • 2-7 mm de comprimento
  • Ganchos presentes
  • 3-6 proglótides
Transmissão Ingestão de peixe cru infetado Ingestão de carne bovina crua infetada Fecal-oral (ingestão de alimentos ou água contaminados)
Doença Difilobotríase Teníase Equinococose quística
Clínica
  • Desconforto abdominal
  • Perda de peso
  • Défice de vitamina B12
  • Obstrução intestinal
  • Frequentemente assintomática
  • Sintomas GI ligeiros
Dependente da localização e tamanho dos quistos hidáticos
Diagnóstico Ovos ou proglótides nas fezes Ovos ou proglótides nas fezes
  • Imagiologia
  • Serologia
Tratamento
  • Praziquantel
  • Niclosamida
  • Praziquantel
  • Niclosamida
  • Albendazole
  • Drenagem percutânea
  • Excisão cirúrgica
Prevenção
  • Congelar peixe.
  • Cozinhar bem o peixe.
  • Medidas de saneamento da água
Cozinhar bem a carne.
  • Higiene pessoal
  • Evitar o contacto com cães vadios.
  • Evitar alimentos potencialmente contaminados.
  • Melhorar o saneamento da água.

Diagnósticos Diferenciais

  • Ascaridiose: infeção causada pelo parasita Ascaris lumbricoides. A sua transmissão ocorre por ingestão de água ou alimentos contaminados com ovos de Ascaris. Os pacientes podem ser assintomáticos ou apresentar tosse e hemoptises. Uma grande quantidade de larvas pode levar a obstrução intestinal e afetar o crescimento das crianças. A análise das fezes pode revelar a presença de larvas ou ovos. O tratamento é feito com fármacos anti-helmínticos.
  • Gastroenterite: inflamação gástrica e intestinal, geralmente causada por bactérias, vírus ou parasitas: As características clínicas mais comuns incluem dor abdominal, diarreia, vómitos, febre e desidratação. Nem sempre é necessária a análise ou cultura das fezes para confirmar o diagnóstico, embora possa ajudar a estabelecer a etiologia em determinadas circunstâncias. A maioria dos casos são autolimitados; portanto, o único tratamento necessário é o de suporte (hidratação).
  • Doença inflamatória intestinal (DII): inclui a doença de Crohn e a colite ulcerativa e é caracterizada por inflamação crónica do tubo digestivo, por efeito de uma resposta imunomediada por células contra a mucosa gastrointestinal. Os sintomas mais comuns são diarreia, dor abdominal, perda de peso e manifestações extraintestinais. O diagnóstico envolve imagiologia, endoscopia e biópsia. O tratamento inclui corticosteróides, aminossalicilatos, imunomoduladores e agentes biológicos.
  • Anemia perniciosa: ausa deficiência de vitamina B12 e anemia megaloblástica, devido à deficiência do fator intrínseco, que é necessário para a absorção da vitamina B12. Os pacientes podem manifestar fadiga, diminuição da função cognitiva, neuropatia, ataxia e glossite. Níveis de vitamina B12 baixos, anticorpos anti-fator intrínseco e o teste de Schilling podem ser usados para chegar ao diagnóstico. O tratamento inclui a reposição de vitamina B12.
  • Meningite bacteriana: infeção bacteriana das meninges, que acarreta maior risco de vida: A meningite bacteriana pode cursar com febre, cefaleias, sinais meníngeos e convulsões. O diagnóstico é feito através da história clínica e confirmado pela deteção de bactérias no LCR, obtido por punção lombar. O tratamento envolve corticosteróides e antibioterapia intravenosa dirigida contra as bactérias identificadas.
  • Tumores intracranianos: crescimento benigno ou maligno de células no cérebro: Os tumores intracranianos manifestam-se clinicamente por cefaleias, náuseas ou vómitos inexplicáveis, visão desfocada e dificuldades na fala ou audição. O diagnóstico é obtido através de um exame neurológico, exames imagiológicos (RM ou TAC) e, por vezes, biópsia. O tratamento inclui radioterapia, quimioterapia e/ou cirurgia.
  • Abcesso cerebral: coleção de pus no parênquima cerebral provocada por uma infeção: Um abcesso cerebral manifesta-se clinicamente por febre, cefaleias, convulsões, náuseas e vómitos. O diagnóstico é confirmado por exame imagiológico, uma vez que é difícil obter um diagnóstico definitivo apenas com base na apresentação clínica. O tratamento inclui antibioterapia e drenagem cirúrgica do abcesso.

Referências

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