Sinapses e Neurotransmissão

A ligação entre 2 neurónios é chamada de sinapse. A sinapse permite que um neurónio envie um sinal elétrico ou químico a outro neurónio, ou a uma célula alvo efetora. O neurónio que envia o sinal para o outro neurónio é chamado neurónio pré-sináptico, enquanto o neurónio que recebe o sinal é chamado neurónio pós-sináptico. As membranas plasmáticas dos 2 neurónios estão colocadas muito próximas, sendo mantidas no lugar por moléculas de adesão sináptica que provêm tanto dos neurónios pré-sinápticos como pós-sinápticos. O espaço localizado entre os 2 neurónios é chama-se fenda sináptica. As moléculas que medeiam a interação são chamadas neurotransmissores.

Última atualização: Mar 31, 2025

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Sinapses

Anatomia da sinapse

No SNC, uma sinapse corresponde à parte estrutural de um neurónio que envia um sinal elétrico ou químico para outro neurónio ou para uma célula-alvo.

Estrutura do neurónio:

  • Membrana celular
  • Corpo celular (soma)
  • Dendrites
  • Axónio
  • Bainha de mielina
  • Nódulos de Ranvier (entre as bainhas de mielina)
  • Sinapse
Anatomia de um neurónio

Anatomia de um neurónio

Imagem: “Anatomy of the neuron” de Phil Schatz. Licença: CC BY 4.0

Numa sinapse:

  • Um neurónio transmissor do sinal (neurónio pré-sináptico)
  • O neurónio alvo (o neurónio pós-sináptico)
  • As 2 membranas criam uma fenda sináptica onde se realiza o processo de sinalização (neurotransmissão)
Visão geral da neurotransmissão na sinapse

Visão geral da neurotransmissão na sinapse

Imagem por Lecturio.

Sinapses por localização

  • Axo-dendrítica: axónio para uma dendrite
  • Axo-somática: axónio para um corpo celular
  • Axo-secretora: axónio para um vaso sanguíneo
  • Axo-axónica: axónio para outro axónio
  • Dendro-dendrítica: dendrite para outra dendrite
  • Axo-extracelular: axónio sem conexão
Tipos de sinapses

Diferentes tipos de sinapses por localização

Imagem : “Synapse types” por BruceBlaus. Licença: CC BY 3.0

Tipos de sinapses

Sinapses elétricas:

  • Lacuna nas proteínas de canal, que conectam 2 neurónios, para que um sinal elétrico possa percorrer a sinapse.
  • 2 neurónios conectados através de canais especiais conhecidos por junções comunicantes
  • Não reguladas
  • Permitem que os sinais sejam transferidos rapidamente entre as células
  • Encontradas em localizações específicas:
    • Coração
    • Músculo liso
    • Polpa dentária
    • Retina do olho

Sinapses químicas:

  • Lacuna entre 2 neurónios onde a informação passa quimicamente sob a forma de moléculas neurotransmissoras
  • Contêm:
    • Membrana pré-sináptica
    • Fenda sináptica
    • Membrana pós-sináptica
  • Sinapse química mais comum:
    • Junção neuromuscular
    • Formada pelo contacto entre um neurónio motor e uma fibra muscular
  • Condutância pós-sináptica ou potenciais pós-sinápticos (PPSs)
    • Potenciais pós-sinápticos excitatórios (PPSEs): PPSs que ↑ a probabilidade de ocorrer um potencial de ação pós-sináptico
    • Potenciais pós-sinápticos inibitórios (PPSIs): PSPs que ↓ a probabilidade de ocorrer um potencial de ação pós-sináptico
    • Uma resposta pós-sináptica ser PPSE ou PPSI depende de:
      • Tipo de canal acoplado ao recetor.
      • Concentração dos iões que se encontram permanentemente dentro e fora da célula.
Junção neuromuscular

Exemplo de sinapse química, uma junção neuromuscular
ACH: acetilcolina

Imagem : “Junção neuromuscular” por Doctor Jana. Licença: CC BY 4.0, editada por Lecturio.
Exemplos de sinapses excitatórias e inibitórias

Exemplos de sinapses excitatórias e inibitórias:
À esquerda: sinapse excitatória utilizando um potencial pós-sináptico excitatório (PPSE) e o neurotransmissor glutamato para criar uma despolarização positiva.
À direita: potencial pós-sináptico inibitório (PPSI) utilizando o neurotransmissor GABA, provocando hiperpolarização

Imagem por Lecturio.

Neurotransmissores

> 500 neurotransmissores diferentes foram identificados no ser humano. Os neurotransmissores são:

  • Proteínas armazenadas nas vesículas sinápticas
  • Mensageiros químicos que transmitem sinais de um neurónio para uma célula-alvo
  • Agrupados junto da membrana celular do axónio terminal
  • Libertados na fenda sináptica como resultado do limiar de potencial de ação no neurónio pré-sináptico
  • Excitatórios ou inibitórios

Classes de neurotransmissores

  • Aminoácidos:
    • Glutamato
    • Glicina
    • GABA
  • Colinérgicos:
    • Acetilcolina
  • Catecolaminas:
    • Dopamina
    • Norepinefrina
    • Epinefrina
  • Monoaminas:
    • Serotonina
    • Histamina
  • Opióides:
    • Dinorfinas
    • Endorfinas
    • Encefalinas
  • Gases solúveis:
    • NO
    • CO

Neurotransmissores comuns e respetivas ações

Tabela: Neurotransmissores comuns e respetivas ações
Neurotransmissor Características Local de síntese
Dopamina Excitatória e inibitória SNC: substância negra, área tegmental ventral e outros
Norepinefrina Excitatória SNC: locus coeruleus, sistema nervoso simpático e medula da suprarrenal
Epinefrina Excitatória Medula da suprarrenal
Serotonina
  • Inibitória
  • Envolvida no humor, sono e inibição da dor
SNC: núcleo da rafe e células enterocromafins
Histamina Excitatória e inibitória
  • SNC: neurónios histaminérgicos nos gânglios da base
  • Periferia: mastócitos e basófilos
Acetilcolina Excitatória (habitualmente) Junções neuromusculares, sinapses pré-simpáticas e sinapses simpáticas pré-ganglionares
Glutamato
  • Principal neurotransmissor excitatório
  • Papel na aprendizagem e memória
  • Sintetiza GABA
SNC: em quase todas as partes do sistema nervoso
GABA
  • Inibitório
  • Sintetizado a partir do glutamato
  • Principal neurotransmissor inibitório
SNC
Glicina Inibitória SNC: medula espinhal, tronco cerebral e retina
Encefalinas Inibitórias (dor) SNC
Endorfinas Inibitórias SNC e SNP
Neuroquininas Trato gastrointestinal: modulam a motilidade, os fluidos e a secreção de eletrólitos Neurónios entéricos intrínsecos e fibras nervosas aferentes primárias extrínsecas
Substância P Modula a vasodilatação, inflamação, dor e o processo de vómito Neurónios entéricos intrínsecos e fibras nervosas aferentes primárias extrínsecas
Peptídeo libertador de gastrina Estimula a libertação de gastrina a partir das células G Fibras pós-ganglionares do nervo vago
SNP: sistema nervoso periférico

Neurotransmissão

  1. No corpo celular formam-se vesículas preenchidas com neurotransmissores e as mesmas são transportadas até e armazenadas no botão pré-sinático.
  2. O potencial de ação chega através do axónio.
  3. Abertura dos caanais de Ca2+ dependentes de voltagem.
  4. As vesículas são estimuladas.
  5. As vesículas do neurotransmissor fundem-se com as membranas sinápticas e libertam o conteúdo do neurotransmissor na fenda sináptica.
  6. O recetor pós-sináptico liga-se ao transmissor e abre-se.
  7. O transmissor não ligado é destruído, reciclado ou difundido para fora da fenda.
Ações-neurotransmissão-na-sinapse

Ações de neurotransmissão na sinapse

Imagem por Lecturio.

Relevância Clinica

  • Miastenia gravis: doença autoimune caracterizada pela produção de autoanticorpos contra os recetores de acetilcolina na membrana pós-sináptica. Quando esses recetores são bloqueados, é inibida a contração muscular. Indivíduos com miastenia gravis referem exaustão e fadiga. O sintoma clássico inicial é a queda das pálpebras à medida que a noite se aproxima.
  • Doença de Parkinson: doença neurodegenerativa na qual a produção de dopamina se encontra diminuída devido à destruição das células que a produzem ao nível da substância negra. Esta destruição resulta em sintomas como tremores, perda do controlo dos movimentos, hipocinésia, rigidez, demência e depressão.
  • Toxina tetánica: impede a libertação de GABA, um neurotransmissor inibitório. Esta libertação resulta em sinais excitatórios não controlados para os músculos esqueléticos, que entram em espasmo. Os músculos da mandíbula são particularmente afetados, provocando o clássico sinal de lockjaw. Conforme a doença progride, existe envolvimento dos músculos respiratórios , causando a morte.
  • Botulismo: a toxina botulínica está entre as proteínas tóxicas mais conhecidas. Essa toxina é produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Quando a toxina botulínica se liga às proteínas da vesícula sináptica e aos gangliosídeos, impede a libertação de acetilcolina, um neurotransmissor estimulatório, inibindo os efeitos estimuladores, evitando a contração muscular e provocando paralisia flácida.
  • Perturbação do espectro do autismo: perturbação do neurodesenvolvimento marcada por deficientes skills sociais, interesses e interações sociais restritos e comportamentos repetitivos e estereotipados. Essa condição é denominada de “espectro” devido à grande variabilidade na gravidade dos sintomas apresentados. Alguns indivíduos sofrem de défices severos a nível intelectual e da linguagem, enquanto outros podem ter um intelecto normal ou até avançado.
  • Doença de Huntington: doença neurodegenerativa progressiva com transmissão hereditária autossómica dominante. A doença de Huntington é causada pela repetição do trinucleotídeo CAG (citosina-adenina-guanina) no gene da Huntingtina (HTT, pela sigla em inglês), levando à morte do neurónio e à atrofia do núcleos caudato e putamen. É comum a apresentação clínica na idade adulta como um distúrbio do movimento conhecido como coreia – movimentos abruptos e involuntários da face, tronco e membros. O tratamento é de suporte.
  • Esquizofrenia: distúrbio mental crónico grave. A esquizofrenia é caracterizada pela presença de sintomas psicóticos, discurso ou comportamento desorganizado, aplanamento afetivo, abolição, anedonia, défice de atenção e alogia. O tratamento inclui antipsicóticos em associação a terapia comportamental.
Tabela: Alterações nos neurotransmissores em diferentes doenças
Dopamina Acetilcolina Norepinefrina Serotonina GABA
Esquizofrenia
Ansiedade
Depressão
Doença de Alzheimer
Doença de Huntington
Doença de Parkinson

Referências

  1. Arancibia-Cárcamo, I. L., Ford, M. C., Cossell, L., Ishikawa, K., Monyer, H., & Attwell, D. (2024). Regulation of myelin thickness by oligodendrocyte membrane tension. Nature Neuroscience, 27(2), 298-309.
  2. Ashrafi, G., & Ryan, T. A. (2022). Synaptic vesicle exocytosis: An orchestra with many conductors. Nature Reviews Neuroscience, 23(4), 240-258.
  3. Caroni, P., & De Roo, M. (2024). Activity-dependent structural plasticity at excitatory synapses. Nature Reviews Neuroscience, 25(3), 151-167.
  4. Dittman, J. S., & Ryan, T. A. (2019). The control of release probability at nerve terminals. Nature Reviews Neuroscience, 20(3), 177-186.
  5. Fauth, M., & Tetzlaff, C. (2024). Homeostatic regulation of synaptic strength through calcium-dependent mechanisms. Progress in Neurobiology, 222, 102354.
  6. Harris, A. L. (2018). Electrical coupling and its channels. Journal of General Physiology, 150(12), 1606-1639.
  7. Jones, R. A., Harrison, C., Eaton, S. L., Llavero Hurtado, M., Graham, L. C., Alkhammash, L., Oladiran, O. A., Gale, A., Lamont, D. J., Simpson, H., Simmen, M. W., Soeller, C., Wishart, T. M., & Gillingwater, T. H. (2017). Cellular and molecular anatomy of the human neuromuscular junction. Cell Reports, 21(9), 2348-2356.
  8. Kaeser, P. S., & Regehr, W. G. (2023). Molecular mechanisms for synchronous, asynchronous, and spontaneous neurotransmitter release. Annual Review of Physiology, 85, 299-322.
  9. Kandel, E. R., Koester, J. D., Mack, S. H., & Siegelbaum, S. A. (2021). Principles of Neural Science (6th ed.). McGraw Hill.
  10. Lisman, J. E., Raghavachari, S., & Tsien, R. W. (2007). The sequence of events that underlie quantal transmission at central glutamatergic synapses. Nature Reviews Neuroscience, 8(8), 597-609.
  11. Missler, M., Südhof, T. C., & Biederer, T. (2012). Synaptic cell adhesion. Cold Spring Harbor Perspectives in Biology, 4(4), a005694.
  12. Palay, S. (1956). Synapses in the central nervous system. Journal of Biophysical and Biochemical Cytology, 2(4), 193-202.
  13. Perea, G., Navarrete, M., & Araque, A. (2009). Tripartite synapses: astrocytes process and control synaptic information. Trends in Neurosciences, 32(8), 421-431.
  14. Rebola, N., Carta, M., & Mulle, C. (2024). Role of AMPA and kainate receptors in synaptic plasticity: Implications for neuropsychiatric disorders. Pharmacological Reviews, 76(1), 86-112.
  15. Südhof, T. C. (2018). Towards an understanding of synapse formation. Neuron, 100(2), 276-293.
  16. Südhof, T. C. (2012). The presynaptic active zone. Neuron, 75(1), 11-25.
  17. Tansey, E. M. (1997). Not committing barbarisms: Sherrington and the synapse, 1897. Brain Research Bulletin, 44(3), 211-212.
  18. Tora, A. S., Rovira, X., Dione, I., Bertrand, H. O., Doornbos, T., Provasi, D., & Brock, C. (2024). Allosteric modulation of orphan GPCR GPR158 reveals a mechanism for regulation of synaptic transmission. Science Advances, 10(10), eadi8044.
  19. Volk, L., & Huganir, R. L. (2025). Homeostatic synaptic plasticity: Molecular mechanisms and therapeutic potential. Nature Reviews Neuroscience, 26(1), 48-63.
  20. Yang, Y., & Zhou, Q. (2023). Structural basis of synaptic vesicle fusion and recycling. Cell, 186(5), 898-916.

Aprende mais com a Lecturio:

Complementa o teu estudo da faculdade com o companheiro de estudo tudo-em-um da Lecturio, através de métodos de ensino baseados em evidência.

Estuda onde quiseres

A Lecturio Medical complementa o teu estudo através de métodos de ensino baseados em evidência, vídeos de palestras, perguntas e muito mais – tudo combinado num só lugar e fácil de usar.

User Reviews

Details