Os recetores são proteínas localizadas na superfície ou dentro de uma célula que podem ligar-se a moléculas sinalizadoras, conhecidas como ligantes (e.g., hormonas) e causar algum tipo de resposta dentro da célula. Os recetores de superfície estão ligados à membrana celular, sendo que recebem sinais do ambiente circundante e transmitem estes sinais para a célula, muitas vezes através da geração de mensageiros secundários (como o monofosfato de adenosina cíclico (cAMP, pela sigla em inglês)) ou através de cascatas de fosforilação. Existem várias subclasses diferentes de recetores de superfície, e 3 das classes mais importantes incluem recetores de canais iónicos controlados por ligantes, recetores ligados a enzimas (os mais comuns são recetores de tirosina cinase (RTKs, pela sigla em inglês)) e recetores acoplados à proteína G (GPCR, pela sigla em inglês). Os recetores intracelulares, por outro lado, estão localizados dentro do citoplasma e muitas vezes atuam como fatores de transcrição, interagindo diretamente com o ADN e afetando a expressão génica.
Última atualização: Jul 4, 2022
Os recetores são proteínas localizadas na superfície ou dentro de uma célula que podem ligar-se a moléculas sinalizadoras conhecidas como ligantes (e.g., hormonas) e causar algum tipo de resposta dentro da célula.
Os recetores podem ser divididos em 2 categorias principais: recetores de superfície celular (transmembranares) e recetores intracelulares.
Três tipos primários de recetores de superfície celular (ou seja, transmembranares):
canais iónicos quimicamente controlados, recetores enzimáticos e recetores acoplados à proteína G (GPCRs, pela sigla em inglês)
Recetores intracelulares:
Os recetores intracelulares podem estar localizados no citoplasma ou no núcleo. Os recetores localizados no citoplasma movem-se para o núcleo quando se ligam ao seu ligante (isto é, hormona). Dentro do núcleo, o complexo hormona-recetor liga-se aos elementos de resposta hormonal (HREs, pela sigla em inglês), que são sequências específicas de ADN. O complexo liga-se, posteriormente, a outros fatores de transcrição para alterar a expressão génica.
Tipos de recetores | Exemplos de ligantes | |
---|---|---|
Recetores intracelulares | Recetores nucleares | Hormonas esteroides (e.g., glicocorticoides) |
Recetores de superfície celular | GPCR | Catecolaminas |
RTKs | Insulina | |
Canais iónicos controlados por ligantes | Acetilcolina (ACh) |
Os recetores de canais iónicos controlados por ligantes (quimicamente controlados) são um subtipo de recetores de superfície celular.
Canais iónicos controlados por ligantes (controlados quimicamente):
Esta imagem demonstra um ligante (bola a bronze) a ligar-se a um recetor de canal iónico controlado por ligante (estrutura verde), que causa uma alteração conformacional no canal, permitindo a passagem de iões.
Miastenia gravis (MG): distúrbio neuromuscular autoimune caracterizado por fraqueza e fadiga dos músculos esqueléticos, causada por disfunção/destruição de recetores de acetilcolina (AChRs) na junção neuromuscular (JNM) (tipo de recetor de canal iónico controlado por ligante). Quando a ACh se liga, os canais abrem-se, permitindo um influxo de Na+ para o interior da célula, resultando em despolarização que, por fim, leva à contração muscular. Sem AChRs normais, a contração muscular fica alterada e a MG apresenta-se com fadiga, ptose, disfagia, dificuldades respiratórias e fraqueza progressiva nos membros, levando à dificuldade nos movimentos.
A estrutura de 3 partes dos recetores de tirosina cinase (RTKs, pela sigla em inglês) é demonstrada juntamente com os ligantes que se ligam aos seus locais de ligação extracelulares.
Imagem por Lecturio.Função do recetor de tirosina cinase (RTK, pela sigla em inglês):
Quando um ligante se liga ao domínio extracelular do RTK, 2 RTKs unem-se num processo conhecido como dimerização. Uma vez dimerizado, cada RTK transfere um grupo fosfato do trifosfato de adenosina (ATP) para o seu parceiro num processo conhecido como autofosforilação. Após a autofosforilação, as fosfotirosinas atuam como locais de ancoragem e ativação para outras proteínas, que geralmente são outras enzimas. O tipo de resposta celular depende de que proteínas adicionais estão presentes.
Tyr, pela sigla em inglês: tirosina
P, pela sigla em inglês: fosfato
Recetores de insulina:
O receptor de insulina, um receptor de tirosina quinase (RTK):
Quando a insulina se liga, a proteína de resposta à insulina desencadeia uma cascata de fosforilação, resultando na ativação da sintase de glicogénio (GS, pela sigla em inglês), que converte a glicose extra em glicogénio.
Recetores do fator de crescimento epidérmico (EGFRs, pela sigla em inglês) e a via de sinalização RAS:
O fator de crescimento epidérmico (EGF, pela sigla em inglês) liga-se ao recetor de EGF (EGFR, pela sigla em inglês), o que resulta na fosforilação do RAS.
Imagem por Lecturio.O RAS fosforilado ativa, posteriormente, uma cascata de sinalização que resulta na divisão celular.
Imagem por Lecturio.Alterações nos RTKs são conhecidas por causarem uma série de diferentes síndromes de malformações congénitas e neoplasias, especialmente se associadas a mutações de ganho de função, causando divisão celular excessiva. Alguns exemplos incluem:
Os recetores acoplados à proteína G (GPCRs, pela sigla em inglês) são proteínas transmembranares que se ligam a ligantes hormonais no seu lado extracelular, o que induz uma alteração conformacional dentro da célula, ativando uma proteína G associada, que desencadeia uma cascata de sinalização via mensageiros secundários.
Diagrama que descreve um recetor acoplado à proteína G (GPCR, pela sigla em inglês) ligado a uma proteína G:
As proteínas G consistem em 3 subunidades: alfa (que se liga ao difosfato de guanosina (GDP, pela sigla em inglês) na sua forma inativa e trifosfato de guanosina (GTP, pela sigla em inglês) na sua forma ativa), beta e gama (que ajudam a subunidade alfa a associar-se ao GPCR).
Via de ativação ddos recetores acoplados à proteína G (GPCRs, pela sigla em inglês):
Um ligante liga-se ao GPCR, induzindo uma alteração conformacional internamente. Esta alteração conformacional faz com que a subunidade alfa da proteína G troque um difosfato de guanosina (GDP, pela sigla em inglês) por um trifosfato de guanosina (GTP, pela sigla em inglês), que ativa a proteína G. A subunidade alfa ligada ao GTP separa-se das subunidades beta e gama e vai ativar uma enzima efetora (via fosforilação do GTP). A enzima efetora ativa, posteriormente, um segundo mensageiro (aqui sendo o monofosfato de adenosina cíclico (cAMP)), que retransmite o sinal dentro da célula.
A adenilato ciclase (também denominada adenilil ciclase) é uma proteína efetora de GPCR comum. Uma proteína G ativada fosforila a AC, ativando-a para converter ATP em AMPc, um segundo mensageiro comum.
Exemplo 1: Via do glucagon
Recetor acoplado à proteína G (GPCR, pela sigla em inglês) acoplado à adenilato ciclase (AC):
Observar que as enzimas ativas são mostradas a verde enquanto que as inativas são mostradas a vermelho. A AC converte a adenosina trifosfato (ATP) em adenosina monofosfato cíclico (cAMP), que posteriormente ativa a proteína quinase A (PKA). Depois, a PKA fosforila tanto a glicogénio sintase (GS) inativando a GS, quanto a fosforilase quinase (PK, pela sigla em inglês) ativando a PK. A PK ativada ativa a glicogénio fosforilase, que estimula a quebra do glicogénio em glicose.
GTP, pela sigla em inglês: guanosina-5′-trifosfato
GDP, pela sigla em inglês: difosfato de guanosina
ATP, pela sigla em inglês: trifosfato de adenosina
cAMP, pela sigla em inglês: monofosfato de adenosina cíclico
Exemplo 2: Via da epinefrina (1 molécula com efeitos diferentes dependendo das proteínas presentes na célula alvo)
Duas proteínas G diferentes podem ativar a mesma via de transdução de sinal interno:
Aqui, a epinefrina e o glucagon podem ativar a degradação do glicogénio em glicose.
GPCR, pela sigla em inglês: Recetores acoplados à proteína G
cAMP, pela sigla em inglês: monofosfato de adenosina cíclico
PKA, pela sigla em inglês: proteína cinase A
Um recetor acoplado à proteína G (GPCR, pela sigla em inglês) ativa a fosfolipase C (PLC, pela sigla em inglês), que converte fosfatidilinositol 4,5-bifosfato (PIP2, pela sigla em inglês) em trifosfato de inositol (IP3, pela sigla em inglês) e diacilglicerol (DAG, pela sigla em inglês). O IP3 liga-se, posteriormente, a um canal iónico controlado por ligante no RE, fazendo com que o canal se abra e o Ca eflua para o citoplasma, causando uma resposta celular (e.g., desencadeia a libertação de hormonas das células endócrinas).
GTP, pela sigla em inglês: guanosina-5′-trifosfato
GDP, pela sigla em inglês: difosfato de guanosina
Mais de 30 doenças humanas diferentes podem estar ligadas a mutações em GPCRs. Estas mutações podem ser ativadoras ou inativadoras. Um exemplo é a diabetes insipidus nefrogénica (DIN).
Diabetes insipidus nefrogénica: distúrbio causado por alterações no recetor da hormona antidiurética (ADH, pela sigla em inglês), levando à resistência à ADH. O recetor de ADH é um GPCR que normalmente desencadeia a inserção de canais de aquaporinas nas membranas das células do ducto coletor renal, permitindo a reabsorção de água. Na presença de um recetor alterado, o GPCR transmite de forma ineficaz o sinal da ADH para o interior da célula, resultando em resistência à ADH e diminuição da capacidade de concentrar a urina.
Síndrome de insensibilidade androgénica completa (SIA): condição recessiva ligada ao cromossoma X em que uma mutação genética afeta a função dos recetores androgénicos, levando à resistência à testosterona. Os recetores androgénicos são recetores nucleares, localizados no citoplasma, que se movem para o núcleo quando ligados aos androgénios e aumentam a transcrição de proteínas que causam efeitos androgénicos. Na presença de recetores alterados, os indivíduos terão um cariótipo 46,XY e testículos não descidos, com genitália feminina externa e desenvolvimento mamário (devido à conversão periférica do excesso de testosterona em estrogénio).