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Perturbações do Ritmo Circadiano Sono-Vigília

As perturbações do ritmo circadiano sono-vigília são um grupo de condições marcadas por padrões recorrentes de perturbações do sono. Estas perturbações podem ser devidas a uma alteração do sistema circadiano (intrínseco) ou a um desequilibro entre o ritmo circadiano interno de um indivíduo e o ambiente (extrínseco). A perturbação cursa com prejuízo funcional. Existem 6 subtipos diferentes, incluindo o tipo “fase do sono atrasada”, o tipo “fase do sono avançada”, o tipo “sono-vigília irregular”, o tipo “sono-vigília não de 24 horas”, tipo de “trabalho em turnos” e jet lag. O diagnóstico é geralmente clínico, mas um diário do sono e uma actigrafia são ferramentas que podem ajudar na determinação da perturbação. O tratamento das perturbações do ritmo circadiano sono-vigília envolve terapia com luz, modificações comportamentais e farmacoterapia (por exemplo, com melatonina).

Última atualização: Nov 5, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Descrição Geral

Definição

As perturbações do ritmo circadiano sono-vigília descrevem um desequilíbrio entre o sistema circadiano interno e as horas de despertar. Estas perturbações afetam a sincronização do sono e não a iniciação do mesmo. A etiologia das perturbações do ritmo sono-vigília podem ser classificada em:

  • Intrínseca:
    • Anomalias no próprio sistema circadiano, que pode dever-se à idade, a fatores genéticos ou a condições médicas.
    • Presente nos tipos fase de sono atrasada e avançada
  • Extrínseca:
    • Alteração no ambiente, o que requer que o doente esteja acordado em momentos anormais
    • Presente no tipo jet lag e de trabalho por turnos

Sistema circadiano intrínseco

  • Sistema cíclico endógeno biologicamente ativo 24 horas por dia que controla o sono
  • Regulado pelo núcleo supraquiasmático do hipotálamo
  • Funções:
    • Influencia a profundidade, a qualidade e o tempo de vigília dos episódios de sono
    • Mantém a vigília durante o dia
    • Modula outros sistemas, tais como:
      • Temperatura corporal
      • Cortisol
      • Apetite

Apresentação Clínica

Subtipos de perturbações do ritmo circadiano

Tipo fase do sono atrasada:

  • Descrição:
    • Início do sono: atrasado
    • Horários de acordar: atrasados
    • Qualidade e duração do sono: preservada
  • Fatores de risco:
    • Puberdade (associada a alterações na secreção de melatonina)
    • Uso de cafeína e nicotina
    • Horário de sono irregular
    • Depressão
    • PDAH em crianças
  • Apresentação:
    • Dificuldade com empregos que começam de manhã
    • O sono é normal quando o doente consegue organizar os seus horários.
    • Exemplo: O doente não consegue adormecer até às 3 da manhã, mas acorda às 11 da manhã a sentir-se bem.
    • Noctívago

Tipo fase do sono avançada:

  • Descrição:
    • Início do sono: mais cedo do que desejado
    • Horários de acordar: mais cedo do que o desejado
    • Qualidade e duração do sono: preservada
  • Fatores de risco:
    • Velhice
    • Variante familiar autossómica dominante (mutações de missense encurtam o período circadiano)
  • Apresentação:
    • O doente não consegue ficar acordado durante a noite.
    • Exemplo: O doente vai para a cama às 8:00 da noite para se levantar de manhã cedo.
    • Madrugador

Tipo sono-vigília irregular:

  • Descrição:
    • Os períodos de vigília e de sono não estão consolidados, levando a vários episódios fragmentados de sono em 24 horas.
    • A disfunção do núcleo supraquiasmático tem, provavelmente, um papel.
  • Fatores de risco: distúrbios neurodegenerativos (por exemplo, demência)
  • Apresentação: O doente relata ≥ 3 episódios de sono, com duração de 1-4 horas cada um.

Tipo sono-vigília não de 24 horas:

  • Descrição:
    • Padrão de ciclos de sono-vigília > 24 horas ou < 24 horas sem reiniciar pela manhã
    • Ritmo de curso livre
  • Fatores de risco:
    • Cegueira (perda do ciclo claro-escuro)
    • Traumatismo cranioencefálico
    • Atraso no desenvolvimento, como no autismo (perceção prejudicada dos sinais de tempo ambientais)
  • Apresentação:
    • Insónia à noite
    • Dificuldade no despertar pela manhã
    • Sonolência diurna aumentada
    • Às vezes, o dormir-despertar do doente está alinhado com o ambiente.

Tipo trabalho em turnos:

  • Descrição: o ciclo de sono está alterado devido aos turnos de trabalho que são opostos ao ciclo claro-escuro.
  • Fatores de risco:
    • Horários invertidos dos trabalhadores do turno da noite
    • Turnos com duração > 16 horas
  • Apresentação:
    • Sonolência ao acordar
    • Diminuição da cognição e da função psicomotora
    • Erros e acidentes (por exemplo, durante a condução)

Tipo jet-lag:

  • Descrição:
    • Dificuldade em iniciar e/ou manter o sono após viajar por ≥ 2 fusos horários
    • Também é afetado pelas condições de viagem (por exemplo, mobilidade, ingestão de álcool) e direção da viagem (sendo mais difícil de adaptar quando se vai para Este)
    • Transitório
  • Apresentação:
    • Sonolência diurna excessiva até haver alinhamento com o ciclo claro-escuro
    • Sintomas somáticos: diminuição do apetite, obstipação

Características clínicas

Sintomas:

  • Sonolência diurna
  • Insónia (dificuldade para adormecer)
  • Inércia do sono (incapacidade cognitiva e sensório-motora após o despertar)
  • Cefaleias
  • Irritabilidade
  • Diminuição da concentração e aumento dos erros de desempenho
  • Despertar em momentos inapropriados
  • Fadiga

Os sintomas podem ser:

  • Episódicos: os sintomas ocorrem ≥ 1 mês mas < 3 meses
  • Persistentes: os sintomas estão presentes por ≥ 3 meses
  • Recorrentes: ≥ 2 episódios no prazo de um ano

Diagnóstico

Abordagem

  • O diagnóstico é clínico e baseado nos critérios supramencionados.
  • Polissonografia:
    • Normalmente não está indicada
    • Deve ser realizada se houver suspeita de patologia do sono comórbida (por exemplo, sindrome da apneia obstrutiva do sono)

Exames

  • Diário do sono:
    • É uma ferramenta útil de auto-relato para auxiliar no diagnóstico
    • Deve-se pedir ao doente que registe:
      • Hora de dormir e de acordar
      • Tempo estimado para adormecer
      • Frequência de despertares
      • Tempo total de sono
  • Actigrafia:
    • O doente usa um sensor de movimento no pulso não dominante para determinar o tempo total de sono e a eficiência do mesmo.
    • Útil quando o diário de sono não é exequível (por exemplo, em doentes com perturbações neurodegenerativas)
  • Deteção de índices de melatonina:
    • Pode proporcionar uma avaliação objetiva do comprometimento do ritmo circadiano
    • Melatonina:
      • Libertada pela glândula pineal cerca de 90-120 minutos antes da hora habitual de dormir
      • A libertação é suprimida pela luz
    • Protocolo Dim Light Melatonin Onset (DLMO):
      • Utiliza normalmente uma amostra de saliva (embora também possa ser com amostra sanguínea)
      • A amostra é obtida a cada 30-60 minutos durante 6 horas antes e 1 hora depois do horário normal de sono.
      • O momento em que a melatonina aumenta acima do limiar é um marcador para a fase circadiana.

Tratamento

Abordagem terapêutica

O objetivo do tratamento é conseguir o realinhamento do tempo de dormir-despertar.

Opções não-farmacológicas:

  • Intervenções comportamentais:
    • Higiene do sono:
      • Evitar estimulantes como a cafeína e o álcool antes de deitar.
      • Usar a cama apenas para dormir ou para fazer sexo.
      • Evitar atividades estimulantes 2 horas antes de dormir.
      • Evitar sestas diurnas.
      • Praticar exercício físico regularmente
    • Cronoterapia:
      • Técnica utilizada para reiniciar o relógio biológico
      • O ciclo de sono-vigília é ajustado gradualmente (por exemplo, atrasando a hora de dormir e de acordar) até que o horário desejado seja alcançado.
  • Luz ou fototerapia (num período de tempo específico e regular):
    • Terapia com luz brilhante (por exemplo, com utilização de caixas de luz com 10.000 lux)
    • Fototerapia com luz azul durante as horas da manhã (para estimular a vigília)

Opções farmacológicas:

  • Melatonina:
    • Funciona como o sinal da noite; os níveis sobem à noite
    • Opções: melatonina exógena ou agonistas de melatonina
  • Modafinil: indicado para tratar sonolência durante os turnos noturnos

Tratamento de condições específicas

Tabela: Tratamento de perturbações específicas do ritmo circadiano sono-vigília
Condição Tratamento
Tipo fase do sono atrasada
  • Higiene do sono
  • Minimizar a exposição à luz durante a noite.
  • Terapia com luz durante a madrugada (para melhorar a vigília)
  • Melatonina à noite
  • Avançar na hora de dormir todas as noites
Tipo fase do sono avançada Terapia com luz à tarde ou antes de dormir (ao contrário do tipo fase do sono atrasada)
Tipo sono-vigília irregular:
  • Terapia com luz pela manhã
  • Intervenções comportamentais (consolidar o sono durante a noite e aumentar as atividades sociais/físicas durante o dia)
Tipo sono-vigília não de 24 horas
  • Terapia com luz
  • Melatonina
  • Agonistas da melatonina (tasimelteão, ramelteona)
Tipo trabalho em turnos
  • Terapia com luz para uma adaptação rápida ao turno da noite
  • O modafinil pode ser útil em casos graves.
Jet lag Transtorno autolimitado; não é necessário tratamento

Diagnóstico Diferencial

  • Parassonias: perturbações caracterizadas por ações, atividades ou eventos fisiológicos incomuns que ocorrem durante o sono ou durante as transições sono-vigília. Os sintomas podem incluir movimentos anormais, emoções, sonhos e atividade autonómica. Ao contrário das parassonias, nas perturbações do ritmo circadiano sono-vigília não é necessário polissonografia para o diagnóstico e o doente está consciente dos problemas com o sono.
  • Narcolepsia: uma perturbação do sono caracterizada por sonolência diurna e pelo adormecer em momentos inapropriados. A perturbação está associada à cataplexia (uma perda do tónus muscular desencadeada emocionalmente), a alucinações hipnagógicas (alucinações auditivas que ocorrem ao adormecer) e à paralisia do sono (breve imobilidade ao acordar). Ao contrário da narcolepsia, as perturbações do ritmo circadiano sono-vigília são marcadas por problemas em iniciar o sono.
  • SAOS: apneia episódica ou interrupção da respiração durante o sono, onde o período de apneia dura > 10 segundos. Normalmente é resultado do colapso parcial ou completo das vias aéreas superiores e está associado à roncopatia, a agitação, a dores de cabeça durante o dia e a sonolência.

Referências

  1. Abbott, S. (2024). Non-24-hour sleep-wake rhythm disorder. UpToDate. Retrieved November 5, 2024, from https://www.uptodate.com/contents/non-24-hour-sleep-wake-rhythm-disorder
  2. Cheng, P., Drake, C. (2024). Sleep-wake disturbances in shift workers. UpToDate. Retrieved November 5, 2024, from https://www.uptodate.com/contents/sleep-wake-disturbances-in-shift-workers
  3. Ganti, L., Kaufman, M., Blitzstein, S. (2016). Sleep-wake disorders. First Aid for the Psychiatry Clerkship, 4th ed. McGraw-Hill, pp. 165–166.
  4. Neikrug, A., Ancoli-Israel, S. (2024). Sleep-wake disturbances and sleep disorders in patients with dementia. UpToDate. Retrieved November 5, 2024, from https://www.uptodate.com/contents/sleep-wake-disturbances-and-sleep-disorders-in-patients-with-dementia
  5. Sadock, B. J., Sadock, V. A., Ruiz, P. (2014). Sleep-wake disorders. Chapter 16 of Kaplan and Sadock’s Synopsis of Psychiatry: Behavioral Sciences/Clinical Psychiatry, 11th ed. Philadelphia: Lippincott Williams and Wilkins, pp. 533–563.
  6. Goldstein, C.A. (2023) Overview of circadian sleep-wake rhythm disorders. UpToDate. Retrieved November 5, 2024, from https://www.uptodate.com/contents/overview-of-circadian-sleep-wake-rhythm-disorders
  7. Zhu, L., Zee, P. C. (2012). Circadian rhythm sleep disorders. Neurologic Clinics 30:1167–1191. https://doi.org/10.1016/j.ncl.2012.08.011

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