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Parâmetros Pancreáticos

O pâncreas é um órgão composto que contém uma combinação distinta de linhagens celulares. O tecido exócrino compreende células acinares, que secretam enzimas digestivas no intestino. A função endócrina é realizada pelas ilhotas de Langerhans, que consistem em tipos celulares distintos que secretam 4 hormonas diferentes na circulação (células α, glucagon; células β, insulina; células δ, somatostatina; e células γ, polipeptídeo pancreático). As hormonas endócrinas, bem como algumas enzimas exócrinas, podem ser medidas em fluidos corporais e fornecem informações diagnósticas importantes na doença pancreática aguda e crónica.

Última atualização: Jan 11, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Descrição Geral

Pâncreas

O pâncreas é um órgão posicionado na face posterior do abdómen, atrás do estômago e tem 2 funções principais:

  • Endócrina: ilhotas de Langerhans
  • Exócrina: realizada por estruturas feitas de ácinos e ductos intercalares
O pâncreas

O pâncreas

Imagem: “The pancreas” por CDC. Licença: CC BY 3.0

Fisiologia do pâncreas endócrino

As ilhotas de Langerhans, espalhadas pelo pâncreas, possuem diferentes tipos de células, que correspondem às seguintes hormonas:

  • Insulina (origem em células B ou células β)
  • Glucagon (origem em células A ou células α)
  • Somatostatina (origem em células D ou células δ)
  • Polipeptídeo pancreático (origem em células PP ou células γ)

Funções e estímulos diferem com cada hormônio.

Fisiologia do pâncreas exócrino

  • Atividade digestiva
  • Produção de enzimas pancreáticas e bicarbonato
  • Enzimas:
    • Amilase (digestão de hidratos de carbono/amido)
    • Lipases (digestão de gorduras):
      • Lipase
      • Fosfolipase A2
      • Esterase não específica
    • Proteases (armazenadas como formas/proenzimas inativas para evitar a autodigestão):
      • Tripsinogénio → tripsina (digere proteínas e ativa outras proenzimas)
      • Proelastase → elastase (digere o tecido conjuntivo, particularmente a elastina)
      • Quimotripsinogénio → quimotripsina (digere proteínas)
      • Procarboxipeptidase → carboxipeptidase (digere proteínas)
    • Nucleases (degradar ácidos nucleicos):
      • DNase
      • RNase
  • Regulação:
    • Colecistoquinina:
      • Estimula a secreção acinar
      • Ativada por ácido gástrico, ácidos gordos de cadeia longa e aminoácidos essenciais
    • Secretina:
      • Das células S da mucosa duodenal
      • Libertação estimulada pelo ácido gástrico/declínio do pH (< 4,5), estimulando a produção e secreção de bicarbonato
  • Neuropeptídeos inibitórios:
    • Somatostatina
    • Polipeptídeo pancreático, peptídeo YY, neuropeptídeo Y
    • Encefalina
    • Pancreatatina
    • Peptídeo relacionado com o gene da calcitonina
    • Glucagon

Pâncreas Endócrino

Insulina

  • Libertada pelas células B com peptídeo C (separa-se antes da secreção de insulina)
  • Efeitos hormonais:
    • Promove a absorção de glicose do sangue para as células do fígado, gordura e músculo esquelético
    • Regula o metabolismo de hidratos de carbono, gorduras e proteínas
  • Testes associados:
    • Peptídeo C sérico:
      • Fornece um índice da função das células B
      • Um nível baixo indica baixa produção de insulina endógena.
    • Insulina sérica:
      • ↓ Na diabetes mellitus tipo 1 (destruição autoimune das células β, o que leva a uma falta quase completa de insulina)
      • ↓ Na diabetes mellitus tipo 2 (destruição não autoimune das células β, que causa deficiência parcial de insulina)
      • ↑ No insulinoma (tumor pancreático que produz insulina)
      • ↑ Na resistência à insulina (síndrome metabólica)
      • ↑ Na hipertrofia das células β-ilhotas
      • ↑ No hiperinsulinismo congénito

Somatostatina

  • Também conhecido como hormona inibidora da hormona do crescimento
  • Produzida no SNC
  • As funções hormonais são geralmente inibitórias na:
    • Secreção endócrina e exócrina
    • Neurotransmissão e proliferação celular
    • Motilidade GI
  • O teste associado é a somatostatina plasmática:
    • Níveis aumentados na seguinte condição ou situação:
      • Somatostatinoma (tríade de diabetes, litíase e diarreia/esteatorreia)
      • Outros tumores neuroendócrinos
      • Estímulos semelhantes que aumentam a secreção de insulina (glicose e aminoácidos)
    • Níveis diminuídos na gastrite crónica (infeção persistente por Helicobacter pylori)

Glucagon

  • Hormona peptídica produzida pelo pâncreas em resposta à hipoglicemia
  • Inibida pela insulina, somatostatina e secretina
  • Efeitos hormonais (geralmente para aumentar os níveis de glicose):
    • Promoção da glicogenólise
    • Promoção da neoglicogénese
    • Inibição da glicogénese hepática
  • O teste associado é o glucagon plasmático:
    • Aumentado nas seguintes condições:
      • Glucagonoma (eritema migratório, intolerância à glicose, anemia e desnutrição)
      • Glucagonoma como parte da neoplasia endócrina múltipla (MEN, pela sigla em inglês) tipo 1
      • Diabetes mellitus
      • Condições relacionadas com stress (por exemplo, sépsis, enfarte agudo do miocárdio, trauma, pancreatite aguda, queimaduras)
      • Insuficiência renal
      • Cirrose hepática ou carcinoma hepatocelular
    • Níveis diminuídos na pancreatectomia

Polipeptídeo pancreático

  • Sintetizado e secretado por células PP (também conhecidas como células F ou células γ) do pâncreas
  • Efeitos hormonais:
    • Inibição da secreção exócrina pancreática, contração da vesícula biliar e motilidade intestinal
    • Pode influenciar a ingestão de alimentos ao regular a fome e a saciedade
  • Secreção aumentada via estimulação vagal:
    • Após uma refeição proteica
    • Jejum
    • Exercício físico
    • Hipoglicemia
  • Secreção diminuída por:
    • Somatostatina
    • Glicose IV
  • O teste associado é o polipeptídeo pancreático plasmático:
    • Aumentado nas seguintes condições:
      • Anorexia nervosa
      • Tumores neuroendócrinos pancreáticos
    • Diminuído nas seguintes condições:
      • Pancreatite crónica
      • Síndrome de Prader-Willi e outras formas de obesidade

Pâncreas Exócrino

Amilase pancreática

  • Facilita a fragmentação do amido dietético em polissacarídeos menores
  • Isoformas mais abundantes:
    • Forma S (origem principalmente salivar)
    • Forma P (derivada do pâncreas)
  • O teste associado é amilase sérica ou plasmática:
    • Testes serológicos usuais não conseguem discriminar as 2 isoformas.
    • Na pancreatite aguda, o nível aumenta em 6 a 12 horas e normaliza em 5 dias.
    • Elevada nas seguintes condições:
      • Pancreatite aguda (forte indicador se mais > 3x que o valor normal)
      • Complicações da pancreatite (pseudoquistos, abcessos)
      • Outras condições pancreáticas: trauma, cirurgia, carcinoma
      • Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica
      • Fibrose quística
      • Patologia salivar
      • Patologia GI (perfuração/obstrução intestinal)
      • Gravidez ectópica
      • Macroamilasemia (amilase ligada a macromoléculas)
      • Fármacos (salicilatos, estrogénios, tiazidas, sulfonamidas)
      • Insuficiência renal (amilase é eliminada pelos rins)

Lipase pancreática

  • Hidrolisa os triglicerídeos em glicerol e ácidos gordos livres
  • A atividade é inibida pelos ácidos biliares.
  • Requer a presença de outra enzima, a colipase, que impede que os sais biliares causem desativação
  • O teste associado é a lipase sérica:
    • Semi-vida mais longa do que a amilase (até 14 dias para normalizar) devido à reabsorção renal
    • Na pancreatite aguda, o aumento é observado em 4 a 8 horas.
    • Elevada em todas as condições pancreáticas com aumento da amilase
    • O aumento predominante da lipase pode ser observado em:
      • Pancreatite alcoólica
      • Pancreatite crónica agudizada (amilase normal devido à depleção da glândula)
      • Apresentação tardia de pancreatite aguda (devido à semi-vida mais longa)
      • Pancreatite induzida por hipertrigliceridemia

Elastase pancreática (elastase-1)

  • Pertence à família das serina proteases
  • Teste sensível e específico para função pancreática:
    • Permanece não degradado ou estável durante o trânsito intestinal
    • Os níveis nas fezes refletem a função exócrina pancreática e correlacionam-se diretamente com a concentração no líquido pancreático.
  • O teste associado é a elastase-1 fecal:
    • Um teste de elastase-1 fecal < 200 μg/g é anormal.
    • Elevada na pancreatite aguda
    • Níveis diminuídos na insuficiência pancreática exócrina crónica devido a:
      • Fibrose quística
      • Pancreatite crónica

Outros exames

  • Tripsinogénio sérico:
    • Teste sensível para insuficiência exócrina avançada (↓ níveis)
    • Menos confiável na insuficiência exócrina leve
    • Pode aumentar na pancreatite aguda e outras patologias abdominais não pancreáticas
  • Quimotripsina fecal:
    • Menos sensível e específico que a elastase-1 fecal
    • Sensibilidade diminuída para insuficiência exócrina leve
    • Pode estar diluída em caso de diarreia
Tabela: Resumo dos parâmetros pancreáticos
Parâmetro Testes associados Situações clínicas
Insulina
  • Peptídeo C (sérico)
  • Insulina sérica
Aumentada em:
  • Insulinoma
  • Resistência à insulina
  • Hipertrofia das células beta dos ilhéus
  • Hiperinsulinismo congénito
Diminuída em:
  • Diabetes mellitus tipo 1
  • Diabetes mellitus tipo 2
Somatostatina Somatostatina plasmática Aumentada em:
  • Somatostatinoma
  • Outros tumores neuroendócrinos
Diminuída em: gastrite crónica
Glucagon Glucagon plasmático Aumentado em:
  • Glucagonoma
  • Glucagonoma como parte da neoplasia endócrina múltipla tipo 1
  • Diabetes mellitus
  • Doenças relacionadas com stress (por exemplo, sépsis, enfarte agudo do miocérdio, trauma, pancreatite aguda queimaduras)
  • Insuficiência renal
  • Cirrose hepática ou carcinoma hepatocelular
Diminuída em: pancreatectomia
Polipeptídeo pancreático Polipeptídeo pancreático plasmático Aumentado em:
  • Anorexia nervosa
  • Tumores neuroendócrinos pancreáticos
Diminuído em:
  • Pancreatite crónica
  • Síndrome de Prader-Willi
  • Obesidade
Amilase pancreática Amilase sérica/plasmática Aumentada em:
  • Pancreatite aguda (indicador importante se > 3x valor da normalidade)
  • Complicações de pancreatite (por exemplo, pseudoquisto, abcesso)
  • Outras doenças pancreáticas (por exemplo, trauma, cirurgia, carcinoma)
  • Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica
  • Fibrose quística
  • Patologia das glândulas salivares
  • Patologia gastrointestinal (perfuração/obstrução intestinal)
  • Gravidez ectópica
  • Macroamilasemia (ligação da amilase a macromoléculas)
  • Fármacos (por exemplo, salicilatos, estrogénios, tiazidas, sulfonamidas)
  • Insuficiência renal (a amilase é eliminada pelos rins)
Lipase pancreática Lipase sérica Aumentada em:
  • Pancreatite alcoólica
  • Pancreatite aguda em contexto de pancreatite crónica
  • Pancreatite aguda com apresentação tardia
  • Pancreatite induzida por hipertrigliceridemia
Elastase pancreática Elastase-1 (fezes) Aumentada em: pancreatite aguda
Diminuída em:
  • Fibrose quística
  • Pancreatite crónica
Tripsinogénio Tripsinogénio sérico Aumentada em: pancreatite aguda
Quimotripsina Quimotripsina (fezes) Insuficiência pancreática: teste negativo

Relevância Clínica

  • Pancreatite aguda: doença inflamatória do pâncreas devido à autodigestão. A pancreatite aguda é frequentemente associada a cálculos biliares e uso excessivo de álcool. Os doentes geralmente apresentam dor epigástrica, que irradia para as costas. O diagnóstico requer 2 dos 3 critérios a seguir: dor abdominal característica, achados radiológicos característicos e amilase e lipase séricas 3x o limite superior do normal. O tratamento inclui hidratação intravenosa agressiva, analgesia, suporte nutricional e tratamento da causa subjacente.
  • Pancreatite crónica: resulta de inflamação persistente, fibrose e dano celular irreversível do pâncreas, que causa perda da função das glândulas endócrinas e exócrinas. As etiologias mais comuns são o abuso de álcool e a obstrução do ducto pancreático. Os doentes geralmente apresentam dor abdominal epigástrica recorrente, náusea e características da síndrome de má absorção (diarreia, esteatorreia e perda de peso). Os achados característicos da TC incluem atrofia pancreática, ductos pancreáticos dilatados e calcificações pancreáticas. A terapia concentra-se na cessação do álcool, mudanças na dieta, controlo da dor e tratamento da insuficiência pancreática.
  • Fibrose quística: doença hereditária autossómica recessiva das glândulas exócrinas que afeta principalmente os pulmões e o sistema digestivo devido a um espectro de defeitos no gene regulador da condutância transmembranar da fibrose quística (CFTR, pela sigla em inglês). A mutação leva a uma incapacidade de transportar adequadamente o cloreto. Resulta em muco desidratado, espesso, viscoso, que obstruí as glândulas mucosas nos órgãos e sistemas afetados. A insuficiência pancreática é uma das características de apresentação da fibrose quística.

Referências

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