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Ortopoxvírus

Ortopoxvírus é um género de grandes vírus de DNA de cadeia dupla, em forma de tijolo. Existem várias espécies clinicamente relevantes, que incluem o vírus da varíola (a causa da varíola), o vírus da varíola do macaco, o vírus da vaccinia e o vírus da varíola bovina. A transmissão varia de acordo com a espécie, mas pode ser através do contacto com secreções corporais infetadas, lesões cutâneas ou fómites. A varíola é a doença mais grave, apresentando-se com sintomas constitucionais e uma erupção maculopapular difusa e bem circunscrita, que progride através de um processo evolutivo que resulta em cicatrização. A varíola está associada a uma elevada taxa de mortalidade. A varíola do macaco apresenta-se de forma semelhante, mas apresenta menor mortalidade e está associada a linfadenopatia. A vaccinia e a varíola bovina produzem doenças mais ligeiras com lesões localizadas adquiridas por contacto direto pele a pele. O diagnóstico destas infeções pode ser obtido por PCR, serologia, cultura viral e/ou microscopia eletrónica. Não existe nenhum tratamento disponível para estas patologias, apenas medidas de suporte. A vacinação levou à erradicação da varíola.

Última atualização: Aug 16, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Classificação

Fluxograma de classificação de vírus de dna

Identificação de vírus de DNA:
Os vírus podem ser classificados de várias formas. Contudo, a maioria dos vírus possui um genoma formado por DNA ou RNA. Os vírus com genoma de DNA podem ainda ser caracterizados como de cadeia simples ou dupla. Os vírus com envelope são revestidos por uma camada fina de membrana celular, que geralmente é retirada da célula hospedeira. Os vírus sem envelope são apelidados de vírus “nus”. Alguns vírus com envelope traduzem DNA em RNA antes de serem incorporados no genoma da célula hospedeira.

Imagem por Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Características Gerais e Epidemiologia

Principais características dos ortopoxvírus

  • Vírus maiores e mais complexos
  • Taxonomia:
    • Família: Poxviridae
    • Género: Orthopoxvirus
  • Vírus de DNA:
    • Cadeia dupla
    • Linear
  • Estrutura:
    • Nucleossoma (em vez de uma cápside)
    • Envelope proteolipídico
    • Oval ou em forma de tijolo

Espécies clinicamente relevantes

Os ortopoxvírus que infetam humanos mais relevantes são:

  • Vírus da varíola
  • Vírus da varíola do macaco
  • Vírus vaccinia (usado na vacina contra a varíola)
  • Vírus da varíola bovina

Epidemiologia

  • As infeções por ortopoxvírus são raras.
  • Varíola:
    • O último caso de varíola de ocorrência natural foi na década de 1970.
    • Foi considerada erradicada em 1980.
    • A mortalidade atingiu os 25%–30%.
  • Varíola do macaco:
    • Ocorreram epidemias esporádicas em África.
    • Em agosto de 2022, um surto global resultou em milhares de infeções (incluindo nos EUA).
    • A mortalidade pode chegar aos 17%.
      • Depende dos recursos de saúde locais e do estado de saúde subjacente do indivíduo
      • Mais recentemente, a razão caso/fatalidade é de ~ 3%-6%.
      • A fatalidade durante o surto de 2022 tem sido rara.
  • Varíola bovina:
    • < 150 casos relatados
    • A maioria dos casos ocorre em indivíduos < 18 anos de idade.

Patogénese

Transmissão

Tabela: Transmissão de Orthopoxviridae
Vírus Reservatório Transmissão
Varíola Humanos
  • Aerossóis respiratórios
  • Contacto com lesões
  • Fómites
Varíola do macaco Desconhecida (talvez pequenos roedores)
  • Aerossóis respiratórios
  • Contacto com fluidos corporais infetados
  • Contacto com lesões
  • Fómitos
  • Mordeduras de animais ou contacto com fluídos de animais
  • Secreções respiratórias
Vaccinia Desconhecido Contacto pele a pele (frequentemente entre indivíduos recentemente vacinados)
Varíola bovina Roedores Contacto direto com animais infetados (sobretudo vacas, gatos)

Fatores de risco do hospedeiro

As formas de doença mais grave estão mais associadas a:

  • Pacientes imunodeprimidos
  • Certas patologias da pele (por exemplo, eczema)

Ciclo de replicação viral

  • Ao contrário de muitos outros vírus:
    • A replicação viral é citoplasmática.
    • Não é direcionado nenhum recetor celular ou proteína específica pelo vírus, para entrar na célula.
  • A entrada na célula hospedeira é mediada por endocitose → o núcleo viral é libertado no citoplasma
  • Os genes intermediários são expressos → replicação do DNA
  • Ocorre a montagem da linhagem de viriões → os viriões maduros são libertados da célula após a lise celular

Fisiopatologia

  • Varíola:
    • Secreções inaladas e vírus → entrada no trato respiratório
    • Replicação viral → disseminação para o tecido linfático regional → replicação → viremia
    • Disseminação para órgãos linfoides → viremia secundária → sintomas
    • O vírus localiza-se nos vasos sanguíneos dérmicos → edema endotelial
    • Infeção de células epidérmicas → manifestações cutâneas
  • Vaccinia: o vírus replica-se no local da inoculação → manifestações cutâneas localizadas

Apresentação Clínica

A tabela abaixo resume as doenças clínicas causadas por ortopoxvírus mais relevantes:

Tabela: Doenças clínicas causadas por ortopoxvírus
Doença Incubação Sintomas constitucionais Rash
Varíola 7-19 dias
  • Febre
  • Mal-estar
  • Cefaleia
  • Lombalgia
  • Começa nas membranas mucosas → lesões cutâneas
  • Propagação centrífuga (face → porção proximal dos membros e tronco → porção distal dos membros)
  • Pode envolver palmas das mãos e plantas dos pés
  • Pápulas → vesículas → pústulas → crostas
  • Profundo
  • Firme
  • Arredondado
  • Bem circunscrito
  • As lesões deixam cicatriz
Varíola do macaco 5-21 dias
  • Febre
  • Mal-estar
  • Cefaleia
  • Mialgias
  • Linfadenopatia
  • Rash doloroso que se assemelha ao da varíola
  • As lesões ocorrem de forma agrupada
  • Por vezes, mais concentradas na face e extremidades
  • Também podem afetar as membranas mucosas e genitália
Vaccinia 2-4 dias
  • Febre
  • Linfadenopatia
  • Lesões localizadas
  • Pode ocorrer a partir da vacinação
  • Pode disseminar (forma grave)
Varíola bovina 2-4 dias
  • Febre
  • Linfadenopatia
  • Lesões localizadas
  • Semelhante à vacina

Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico

O diagnóstico pode ser sustentado com os seguintes testes:

  • Técnica de PCR de amostras de lesões para detetar o DNA viral (orofaringe, conjuntiva, urina, lesões cutâneas)
  • Serologia (não identifica o vírus individual)
  • Cultura viral
  • Microscopia eletrónica de estirpes de uma lesão

Tratamento

  • Não existe nenhum tratamento específico disponível para estas patologias.
  • O tratamento é de suporte.
  • Potenciais tratamentos antivirais:
    • Tecovirimat
      • Aprovado pela FDA para o tratamento da infeção por varíola
      • A eficácia é desconhecida
    • Brincidofovir
      • Apresenta atividade in vitro contra ortopoxvírus
      • Não existem dados clínicos em humanos

Prevenção

A vacina contra a varíola é responsável pela sua erradicação e ainda:

  • Confere proteção contra alguns outros ortopoxvírus, como a varíola dos macacos
  • Reduz a evolução clínica da varíola se administrada após a exposição

Diagnósticos Diferenciais

  • Varicela: infeção primária causada pelo vírus varicela-zoster. A apresentação clínica típica engloba sintomas prodrómicos, um enantema oral e uma erupção vesicular generalizada e intensamente pruriginosa. Estas lesões podem surgir em qualquer parte do corpo e encontram-se em diferentes estadios de evolução. O diagnóstico é essencialmente clínico. O tratamento é de suporte, embora a terapêutica antiviral possa ser usada em certas populações de pacientes.
  • Molusco contagioso (MC): infeção viral limitada à epiderme. O molusco contagioso é observado sobretudo em crianças com < 5 anos de idade. As lesões correspondem a pápulas agrupadas, da cor da pele, em forma de cúpula, com umbilicação central. A doença é ligeira em doentes imunocompetentes e resolve em poucos meses. O diagnóstico é essencialmente clínico. Esta infeção é altamente transmissível e as medidas para prevenir e controlar o risco de contágio são fundamentais. O tratamento de 1ª linha é a crioterapia com nitrogénio líquido.
  • Doença da mão, pé e boca: doença ligeira e autolimitada causada pelo vírus coxsackie do grupo A. Os pacientes podem apresentar febre, dor na boca e faringite. Pode estar presente um enantema oral. As lesões cutâneas podem ser maculares, papulares ou vesiculares e geralmente incluem as palmas das mãos, plantas dos pés e nádegas. O diagnóstico é clínico. O tratamento é de suporte.
  • Angiomatose bacilar: condição observada em pacientes com VIH/SIDA, que resulta em lesões cutâneas angiomatosas devido à infeção por Bartonella. As lesões cutâneas caracterizam-se por pápulas eritematosas protuberantes ou nódulos friáveis. Podem ocorrer lesões ósseas osteolíticas dolorosas. O diagnóstico pode ser obtido por biópsia, culturas e PCR. O tratamento inclui antibioterapia e terapêutica antirretroviral para o HIV.

Referências

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