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Microsporídios/Microsporidiose

Os microsporídios são um grupo de organismos intracelulares obrigatórios que foram recentemente reclassificados como fungos. Este grupo é composto por cerca de 15 espécies clinicamente relevantes, sendo a mais comum o Enterocytozoon bieneusi. Há muitos aspetos que não se compreendem acerca deste grupo de organismos, mas o conhecimento está a evoluir. As espécies de microsporídios são ubíquas, com uma grande variedade de reservatórios. Os indivíduos imunocomprometidos (particularmente aqueles com SIDA e com a contagem de CD4< 100 células/µL) desenvolvem mais frequentemente microsporidiose sintomática. A doença gastrointestinal varia de diarreia aquosa aguda e autolimitada a diarreia crónica, causando má absorção e emaciação. Também podem ocorrer manifestações extraintestinais e disseminação, afetando os olhos, trato respiratório, cérebro, via biliar, trato urinário e/ou músculos. O diagnóstico baseia-se na identificação de esporos no exame das fezes. Antimicrobianos como o albendazol e a fumagilina podem ser utilizados para tratar as infeções pela maioria das espécies de microsporídios.

Última atualização: Jun 19, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Características Gerais e Epidemiologia

Características básicas dos microsporídios

  • Foram recentemente reclassificados como um grupo de fungos (anteriormente classificados como protozoários), que inclui aproximadamente:
    • 200 géneros
    • 1500 espécies
  • Variam em:
    • Tamanho dos esporos
    • Morfologia do núcleo
    • Ciclo de vida
  • Intracelulares obrigatórios
  • Unicelulares
  • Formação de esporos
    • Geralmente ovais
    • Resistentes à degradação (sobrevivem por longos meses no meio ambiente)
    • Contêm um organelo único chamada túbulo (ou filamento) polar → ajuda a injetar o conteúdo dos esporos nas células do hospedeiro
  • Não possuem muitos organelos eucariotas, incluindo:
    • Mitocôndrias convencionais (contêm mitossomas em alternativa)
    • Peroxissomas
    • Aparelho de Golgi

Espécies clinicamente relevantes

A microsporidiose é causada por aproximadamente 15 espécies, incluindo:

  • Enterocytozoon bieneusi é a espécie mais comum que causa infeções humanas.
  • Encefalitozoário intestinal
  • Encefalitozoon hellem
  • Encephalitozoon cuniculi
  • Nosema connori
  • N. ocularum
  • Trachipleistophora hominis
  • T. antropoptera
  • Pleistophora spp.
  • Vittaforma corneae
  • Microsporidium spp.

Epidemiologia

  • Distribuição mundial
  • A maioria das infeções ocorre em indivíduos com VIH/SIDA.

Patogénese

Reservatórios

Os microsporídios têm uma extensa variedade de reservatórios, incluindo (mas não se limitando a):

  • Humanos
  • Porcos
  • Primatas
  • Gado
  • Gatos
  • Cães
  • Roedores
  • Peixes
  • Aves
  • Mosquitos
  • Abelhas

Fatores de risco do hospedeiro

Apesar da doença ligeira ou subclínica poder ocorrer em indivíduos imunocompetentes, a maioria das infeções sintomáticas ocorre nos imunocomprometidos:

  • VIH/SIDA (particularmente se CD4 < 100 células/µL)
  • Indivíduos com transplantes de órgãos sólidos
  • Recetores de enxerto de medula óssea

Transmissão

A transmissão dos microsporídios não é totalmente compreendida, mas as possibilidades incluem:

  • Pela água
  • Alimentar
  • Contacto com animais infetados
  • Vetorial
  • Aérea

Ciclo de vida e fisiopatologia

A fisiopatologia não é completamente compreendida.

  • Os esporos (forma infeciosa) podem persistir no ambiente por meses.
  • O esporo entra no hospedeiro (por exemplo, por inalação ou ingestão) → pulmões ou trato GI
  • Ocorre a germinação e o túbulo polar injeta esporoplasma numa célula hospedeira
  • A proliferação ocorre por:
    • Fissão binária
    • Esquizogonia (fissão múltipla)
  • Formas plasmodiais multinucleadas produzidas → esporogonia (processo de maturação) → são formados esporos maduros
  • Há lise da célula e os esporos são libertados para:
    • Infetar outras células
    • Passar para o meio ambiente (expelidos nas fezes)
  • Algumas espécies podem, através dos macrófagos, disseminar-se para outros órgãos:
    • Rins
    • Olhos
    • Cérebro
    • Via biliar
    • Músculo
Microsporidiosis

Este diagrama representa o ciclo de vida dos microsporídios:
Depois dos esporos entrarem no corpo, o túbulo polar liga-se a uma célula hospedeira e injeta o esporoplasma. Ocorre a replicação, seguida pela maturação dos esporos. Quando a célula hospedeira fica cheia, a membrana celular rompe-se e liberta os esporos, e o ciclo continua.

*O desenvolvimento dentro do vacúolo parasitóforo também ocorre em E. hellem e E. cuniculi

Imagem por Lecturio.

Apresentação Clínica

A apresentação clínica da microsporidiose depende do/a:

  • Espécie que causa a infeção
  • Estado imunológico do hospedeiro:
    • Indivíduos imunocompetentes apresentam mais frequentemente:
      • Infeção assintomática ou
      • Doença ligeira e autolimitada
    • Indivíduos imunocomprometidos são mais propensos a ter:
      • Infeção sintomática
      • Doença disseminada

Infeção do trato gastrointestinal:

  • Doença aguda (mais comum em indivíduos imunocompetentes):
    • Febre
    • Diarreia:
      • Aquosa
      • Sem sangue
    • Náuseas
    • Dor abdominal
  • Diarreia crónica (mais comum em indivíduos com SIDA):
    • Má absorção
    • Perda de peso (pode causar emaciação grave)

Infeção extra-intestinal

  • Infeção ocular (queratoconjuntivite)
  • Miosite
  • Via biliar:
    • Colecistite alitiásica
    • Colangite
  • Respiratório:
    • Sinusite
    • Pneumonia
    • Bronquiolite
  • Urinário:
    • Diminuição da função renal
    • Infeção do trato urinário
  • Infeção do SNC

Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico

  • O diagnóstico é feito através da deteção dos esporos.
    • As amostras podem ser obtidas de:
      • Fezes
      • Tecido
      • Fluidos corporais
    • Requer uma coloração tricrómica modificada: os esporos são corados de rosa
  • Outras opções:
    • Imunofluorescência indireta
    • PCR para detetar o DNA do organismo

Tratamento

  • Os seguintes antimicrobianos são eficazes contra a maioria das espécies de microsporídios:
    • Albendazol
    • Fumagilina
  • Terapêutica antirretroviral para os doentes com SIDA
  • Reposição IV de fluidos e eletrólitos na diarreia grave
  • Suporte nutricional nos doentes com má absorção e perda de peso

Diagnósticos Diferenciais

  • Cistoisosporíase: infeção causada pelo Cystoisospora belli, um protozoário intracelular obrigatório que causa doença GI. Os indivíduos imunocompetentes podem apresentar diarreia aquosa ligeira e autolimitada. Os indivíduos imunocomprometidos tendem a ter diarreia crónica ou grave, resultando em má absorção, perda de peso e desidratação. O diagnóstico é feito pela identificação dos oocistos em amostras de fezes. O tratamento inclui cuidados de suporte e terapêutica antimicrobiana, usando, por exemplo, o trimetoprim-sulfametoxazol.
  • Ciclosporíase: infeção causada pelo Cyclospora cayetanensis, um protozoário intracelular obrigatório que causa doença GI. Esta doença causa diarreia aquosa, que pode durar semanas a meses se não for tratada. O diagnóstico é feito pela identificação dos oocistos em amostras de fezes. O tratamento inclui terapêutica antimicrobiana, usando, por exemplo, o trimetoprim-sulfametoxazol.
  • Gastroenterite: inflamação do estômago e intestinos, frequentemente resultante de infeções por bactérias, vírus ou parasitas. A maior pate dos casos são virais. As características clínicas mais comuns incluem dor abdominal, diarreia, vómitos, febre e desidratação. A análise ou cultura de fezes nem sempre é necessária para o diagnóstico, no entanto, pode ajudar a determinar a etiologia em determinadas circunstâncias. A maioria dos casos é autolimitada pelo que o único tratamento necessário é a terapia de suporte (fluidos).
  • Criptosporidiose: infeção por Cryptosporidium. Os doentes apresentam diarreia aquosa, cólicas abdominais, náuseas e febre que duram de 2 a 3 semanas, no entanto, a infeção pode ser mais persistente e grave em indivíduos imunocomprometidos. O diagnóstico é feito através da identificação do organismo numa amostra de fezes. A criptosporidiose é geralmente autolimitada, mas os casos persistentes ou graves podem necessitar de nitazoxanida.
  • Giardíase: causada pela Giardia lamblia, um protozoário flagelado que pode infetar o trato intestinal. O sintoma mais característico da giardíase é a esteatorreia fétida. Os indivíduos que desenvolvem infeção crónica podem apresentar perda de peso, défice de crescimento e deficiências vitamínicas como resultado da má absorção. O diagnóstico é feito através da deteção dos organismos de Giardia, antigénios ou DNA nas fezes. O tratamento inclui cuidados de suporte e terapêutica antimicrobiana com metronidazol, tinidazol ou nitazoxanida.
  • Diarreia do viajante: gastroenterite que é geralmente causada por bactérias ou vírus com origem na água local, como a E. coli enterotoxigênica (ETEC, pela sigla em inglês) ou o norovírus. Os sintomas surgem após o consumo de água ou alimentos contaminados e incluem diarreia aquosa, mal-estar e cólicas abdominais. O diagnóstico é clínico e a doença é autolimitada.

Referências

  1. Leder, K., Weller, P.F. (2020). Microsporidiosis. UpToDate. Retrieved August 30, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/microsporidiosis
  2. Centers for Disease Control and Prevention. (2019). DPDx—Microsporidiosis. Retrieved August 30, 2021, from https://www.cdc.gov/dpdx/microsporidiosis/index.html
  3. Pearson, R.D. (2020). Microsporidiosis. MSD Manual Professional Version. Retrieved August 30, 2021, from https://www.msdmanuals.com/professional/infectious-diseases/intestinal-protozoa-and-microsporidia/microsporidiosis
  4. Mazumder, S.A. (2019). Microsporidiosis. In Chandrasekar, P.H. (Ed.), Medscape. Retrieved August 30, 2021, from https://emedicine.medscape.com/article/221631-overview
  5. Han, B., Takvorian, P.M., Weiss, L.M. (2020). Invasion of host cells by microsporidia. Frontiers in Microbiology. https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmicb.2020.00172/full

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