A vigilância de doenças é uma parte importante e fundamental da saúde pública. São usadas diferentes medidas epidemiológicas para informar os profissionais de saúde e os formuladores de políticas sobre as taxas de incidência, incidência cumulativa, taxas de ataque, prevalência e a pessoa-tempo em risco de uma doença ou condição. A vigilância pode ajudar a determinar a causa de uma doença, bem como monitorizar os riscos de desenvolver a mesma. A vigilância também acompanha as alterações nos níveis de risco, orientando o desenvolvimento e implementação de programas de prevenção e controlo de doenças.
A incidência refere-se ao número de novos casos de uma determinada doença ou evento, numa população, durante um período de tempo específico. Existem 2 formas de medir a incidência: incidência cumulativa (CI, pela sigla em inglês) e taxa de incidência (IR, pela sigla em inglês). Ambas são medidas do risco de contrair uma doença ou condição.
Incidência cumulativa por 1.000 = (Número de novos casos de doença ocorridos numa população durante um período de tempo específico) / (Número total de indivíduos na população que estão em risco de desenvolver a doença, durante o período de tempoespecifico) x 1.000:
A CI também é conhecida como a proporção de incidência cumulativa, proporção de incidência, risco, taxa de ataque ou probabilidade de desenvolver a doença.
O CI não é uma taxa verdadeira, mas antes uma proporção, porque as pessoas incluídas no numerador também estão incluídas no denominador (população total)
O denominador deve incluir apenas indivíduos “em risco“ . Indivíduos que já têm a doença ou são incapazes de contrair a doença devem ser excluídos da população.
O número usado para multiplicar depende da frequência da doença. Por exemplo, 1.000 pode ser suficiente para usar numa doença comum, mas será necessário 100.000 ou 1.000.000 para uma doença rara. Usar 100 como multiplicador faz da proporção de CI uma percentagem.
A CI não tem em consideração:
Pessoas que perderam o seguimento
Pessoas que morreram por outra causa (um “risco competitivo”) durante o período de observação
Quando as pessoas desenvolvem a doença (ou seja, no início, no meio ou no fim do período de observação)
O sinónimo taxa de ataque é usado frequentemente durante surtos de doença e em predições hipotéticas.
A taxa de ataque específica da comida por 100 = (número de indivíduos suscetíveis ou em risco que foram expostos a um agente patogénico ou alimento suspeitos que ficam doentes) / (Número total de indivíduos que foram expostos a um agente patogénico ou alimento)
Exemplo: Se 30 pessoas desenvolveram gastroenterite após comer salada de batata, e um total de 100 pessoas comeram a salada, a taxa de ataque = 30 / 100 x 100 = 30%, que é o risco de ficar doente após comer a salada
A CI é mais usada em situações em que o tempo de seguimento é relativamente curto e em que há rlativamente poucas perdas de seguimento. Por outro lado, os epidemiologistas geralmente usam a taxa de incidência.
Taxa de incidência por 1.000 = (Número de novos casosde doença que ocorre na população, durante um período de tempo especifico) / (Total pessoa-tempo, ou a soma dos períodos de observação de cada pessoa que foi observada) x 1.000
A IR é uma taxa verdadeira e também é conhecida como taxa pessoa-tempo ou densidade de incidência.
Total pessoa-tempo: baseado nos critérios de elegibilidade para a população em estudo, em que um indivíduo deve estar em risco (livre de doença) e ser ativamente seguido. Assim que um indivíduo desenvolva a doença ou este perca seguimento, a sua contribuição de tempo em risco termina. Se a sua contribuição terminar após 1 ano, essa pessoa contribuiu com 1 pessoa-ano (py, pela sigla em inglês) para o estudo. Por exemplo:
1 indivíduo em risco que está num estudo de 1 ano = 1 py
5 indivíduos em risco que estão num estudo de 5 anos = 25 py
5 indivíduos em risco que estão num estudo de 5 anos, sendo que 2 perdem acompanhamento ou contraem a doença após 1 ano, enquanto os 3 restantes continuam em risco pelos 5 anos completos = 2 py + (3 x 5) = 17 py
No ano passado, num determinado hospital, 500.000 doentes foram internados para substituição do fémur ou do joelho. Cinco mil desses doentes, naquele ano, tiveram um tromboembolismo venoso (TEV) durante a admissão. Qual é o risco de desenvolver TEV, no último ano, neste hospital?
Existem 5.000 novos casos de TEV ao longo do ano numa população em risco de 500.000.
Portanto, 1% dos internados, ou 1 em cada 100 doentes, apresentou TEV durante o internamento.
Taxa de incidência
No período de 2000 a 2009, em Quebec, no Canadá, existiram 91.000 casos de TEV numa população, com um tempo livre de doença nesse período que totaliza 74.200.000 anos. Qual é o IR de TEV, em Quebec, durante este período de tempo?
Portanto, o IR é de 0,0012 casos por py. Por convenção, este número é multiplicado por 10.000 para obter 12 casos por 10.000 py de observação.
Prevalência
Definição
A prevalência é o número de indivíduos afetados presentes numa população num determinado momento, dividido pelo número total de indivíduos na população naquele momento (prevalência pontual) ou durante um período de tempo (prevalência de período). A prevalência é normalmente expressa como uma proporção ou percentagem.
A prevalência pontual é como uma “fotografia instantânea”da população, que determina quem tem a doença e quem não tem; esta é usada muito mais frequentemente do que a prevalência de período.
Não mede o risco, mas fornece uma medida importante da carga da doença numa comunidade, a qual é necessária para a alocação equilibrada de recursos.
A prevalência não pode fornecer uma estimativa de risco, pois não fornece informações sobre quando a doença se desenvolveu. Alguns indivíduos podem ter desenvolvido a doença há uma semana, alguns no ano passado e outros à cerca de 20 anos atrás.
Existe uma relação entre a prevalência e a incidência (Prevalência = Incidência × Duração da doença) desde que:
A população esteja em estado estável.
A taxa de doença seja constante.
A prevalência não seja muito alta.
Exemplo
Prevalência versus incidência
Em 2 cidades hipotéticas, com 1.000 habitantes em cada, há uma doença contagiosa com uma prevalência de 100/1.000 na cidade A e uma prevalência de 60/1.000 na cidade B.
Não há informações suficientes para determinar qual seria a cidade “menos arriscada” para se viver sem considerar a incidência.
No entanto, se a cidade B tem uma incidência de 20 casos/ano, enquanto que a cidade A tem apenas 4 casos/ano, então a cidade B é mais arriscada.
A prevalência na cidade B é menor porque a sobrevida média de uma pessoa doente na cidade B é de apenas 3 anos, enquanto que uma pessoa doente na cidade A vive em média 25 anos.
Para a Cidade A: 4 / ano x 25 anos = 100 / 1.000
Para a Cidade B: 20/ano x 3 anos = 60/1.000
Prevalência de período
No ano passado, existiam 12 milhões de doentes no banco de dados da Medicare e 200.000 doentes da Medicare sofreram um TEV. Qual é a prevalência de período de TEV em doentes da Medicare, nos Estados Unidos, no último ano?
A prevalência de período este ano é uma medida da proporção de doentes da Medicare que tiveram TEV. Existiam 12 milhões de doentes no banco de dados da Medicare; 200.000 desses doentes tiveram TEV.
Portanto, a prevalência de período de TEV em doentes da Medicare, este ano, foi de 1,6%.
Referências
Greenberg, R. S. (2014). Epidemiologic measures. R. S. Greenberg (Ed.), Medical Epidemiology: Population health and effective health care, 5e (). New York, NY: McGraw-Hill Education. accessmedicine.mhmedical.com/content.aspx?aid=1108589766
Thacker, S. B. et al. (2006). Measuring the public’s health. Public health reports (Washington, D.C.: 1974), 121(1), 14–22. DOI:10.1177/003335490612100107
Celentano, David D., ScD., M.H.S., & Szklo, Moyses, MD, M.P.H., DrP.H. (2019). The occurrence of disease: I. disease surveillance and measures of morbidity. Celentano, David D., ScD, MHS, & Szklo, Moyses, MD, MPH,DrPH (Eds.), Gordis epidemiology(pp. 41-64)https://www.clinicalkey.es/#!/content/3-s2.0-B9780323552295000036
Celentano, David D., ScD., M.H.S., & Szklo, Moyses, MD, M.P.H., DrP.H. (2019). The occurrence of disease: II. mortality and other measures of disease impact. Celentano, David D., ScD, MHS, & Szklo, Moyses, MD, MPH,DrPH (Eds.), Gordis epidemiology (pp. 65-93) from https://www.clinicalkey.es/#!/content/3-s2.0-B9780323552295000048
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