Mastite

Uma mastite corresponde à inflamação do tecido mamário com ou sem infeção. A forma mais comum de mastite associa-se à lactação nas primeiras semanas após o nascimento. A mastite não lactacional inclui a mastite periductal e a mastite granulomatosa idiopática (MGI). A mastite lactacional é causada mais frequentemente por Staphylococcus aureus, introduzido no leite materno durante a amamentação. A etiologia da mastite não lactacional é pouco compreendida, mas a mastite periductal associa-se frequentemente ao tabagismo, e a MGI é frequentemente associada à Corynebacterium. As doentes apresentam edema, eritema, dor e, possivelmente, uma massa na mama. O diagnóstico é tipicamente clínico, embora, nalguns casos, a ecografia, culturas e biópsia possam ser necessárias. O tratamento envolve antibióticos, analgésicos, drenagem na presença de abcesso e excisão cirúrgica do ducto na mastite periductal.

Última atualização: Mar 28, 2025

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Definição

O termo mastite refere-se à inflamação da mama que pode ou não estar associada a infeção.

Classificação

  • Mastite lactacional (mais comum)
  • Mastite não lactacional:
    • Mastite periductal :
      • Inflamação dos ductos mamários subareolares
      • Diferente da ectasia ductal mamária, que envolve dilatação ductal e afeta principalmente mulheres na pós-menopausa
    • Mastite granulomatosa idiopática (MGI): massa mamária periférica com sinais inflamatórios

Epidemiologia

  • Mastite lactacional:
    • Afeta até 10% das mães que amamentam
    • Mais comum nos primeiros 3 meses de aleitamento
  • Mastite não lactacional:
    • Mastite periductal:
      • Mais comum em mulheres jovens
      • Associada ao tabagismo
    • MGI:
      • Rara
      • Mais comum em mulheres jovens e multíparas
      • Pode ocorrer em mulheres nulíparas e homens
      • Nos Estados Unidos, associada à etnia hispânica

Etiologia e Fisiopatologia

Mastite lactacional

  • Associa-se mais frequentemente a uma infeção estafilocócica
  • Uma drenagem inadequada do leite provoca estase e crescimento de microorganismos.
  • Patogénios:
    • São introduzidos nos ductos lactíferos durante a amamentação (o leite materno não é estéril)
    • Geralmente provêm da pele da mãe ou da boca/nariz do lactente
    • Agentes infecciosos mais comuns:
      • Staphylococcus aureus (o mais comum); pode ser um S. aureus resistente à meticilina (MRSA, pela sigla em inglês)
      • Streptococcus do Grupo A ou B
      • Escherichia coli
      • Corynebacterium
      • Bacteroides
  • A drenagem inadequada do leite ou o ingurgitamento podem resultar de:
    • Excesso de leite
    • Alimentação/bombeamento pouco frequentes
    • Diversificação alimentar precocemente
    • Bloqueio parcial do ducto
  • Fatores de risco adicionais:
    • Fissuras/escoriações mamilares
    • Doença da mãe ou do lactente
    • Stress e fadiga materna
    • Imunodepressão materna:
      • Vírus da imunodeficiência humana (VIH)/síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA)
      • Diabetes mellitus
      • Cancro

Mastite não lactacional

Mastite periductal:

  • Inflamação dos ductos subareolares
  • Associada ao tabagismo
  • A etiologia exata é desconhecida; possibilidades incluem:
    • Tabagismo, que causa lesões nos ductos subareolares diretamente ou por hipóxia localizada
    • Metaplasia escamosa associada à mastite → bloqueio parcial do ducto
    • Organismos patogénicos; isolados em 60%–85% dos casos
    • Os patogénios incluem:
      • Staphylococci (mais comum)
      • Enterococci
      • Bacteroides
      • Proteus

MGI:

  • Massa mamária periférica com sinais inflamatórios
  • Geralmente unilateral
  • Não se associa a cancro da mama
  • A etiologia é desconhecida.
  • Associada a Corynebacterium (embora não esteja claro que seja causador)

Apresentação Clínica

Geral

  • Uma mastite apresenta-se com edema e eritema da área afetada.
  • Podem desenvolver-se abcessos, que se apresentam como massas dolorosas e flutuantes.

Mastite lactacional

  • Edema, eritema e calor
  • Geralmente unilateral
  • Sintomas sistémicos de infeção:
    • Febre/arrepios
    • Fadiga/mal-estar geral
    • Mialgias (dores musculares)
  • Dor durante a amamentação
  • Adenopatia regional (gânglios linfáticos dolorosos e aumentados)
  • Massa flutuante e dolorosa (abcesso em 3%–11% dos casos)
Mastite lactacional

A mastite lactacional apresenta-se como uma mama edemaciada e eritematosa.

Imagem : “atlasofclinicals00bock” pelo Internet Archive Book Images. Licença: Public Domain

Mastite periductal

  • Inflamação periareolar
  • Secreção mamilar
  • Massa flutuante e dolorosa (abcesso); pode romper e drenar na borda da aréola
  • Drenagem de fístula cutânea (por um abcesso crónico/recorrente)

MGI

  • Massa mamária periférica com sinais inflamatórios
  • Também podem desenvolver:
    • Múltiplas áreas de infeção periférica
    • Vários abcessos pequenos
    • Úlceras da pele sobrejacente
  • Muitas vezes mimetiza o cancro da mama:
    • Pele sobrejacente em casca de laranja
    • Adenopatia axilar
    • Retração do mamilo
Igm da mama direita

Mastite granulomatosa idiopática (status pós-biópsia incisional da mama)

Imagem : “IGM of the right breast” pelo Dept. of Radiation Oncology, Johns Hopkins University School of Medicine, Baltimore, MD 21231, USA. Licença: CC BY 2.0

Diagnóstico

Mulheres a amamentar

  • O diagnóstico é estabelecido com base na apresentação clínica.
  • Investigação de apoio ao diagnóstico:
    • Coloração de Gram e cultura do leite:
      • Podem ajudar a identificar os organismos causadores
      • Apenas necessários nos casos refratários ao tratamento
    • Hemocultura: no caso de infeção grave progressiva/sinais de sépsis
    • Ecografia:
      • Para pesquisar a presença de abcesso → aparece como uma massa preenchida por líquido
      • Se houver uma massa no exame objetivo
      • Se não houver melhoria clínica após 48-72 horas de antibioterapia empírica
Abscesso na ultrassonografia no diagnóstico de mastite

Imagem ecográfica de um abcesso mamário:
A: complexo, com limites mal definidos
B: de aspeto homogéneo, com limites bem definidos

Imagem : Abscess” pelo Antônio Arildo Reginaldo de Holanda et al. Licença: CC BY 4.0

Mulheres que não estão a amamentar

Mastite periductal:

  • O diagnóstico baseia-se na apresentação clínica.
  • A ecografia pode ser realizada para excluir a presença de abcesso.

MGI:

  • Apresentação clínica: pode mimetizar o cancro da mama
  • Avaliação laboratorial:
    • Coloração de Gram e cultura da secreção mamilar
    • Prolactina: pode estar ↑ na MGI
  • Imagiologia:
    • Ecografia:
      • Massa sólida
      • Também podem observar-se abcessos únicos ou múltiplos
    • Mamografia: pode não ser capaz de diferenciar de doença maligna
  • Biópsia por agulha grossa (BAG):
    • Biopsar massas suspeitas encontradas na avaliação por ecografia
    • Realizar coloração de Gram, cultura e avaliação por histopatologia.
    • Achados na MGI:
      • Inflamação granulomatosa não caseosa e não necrosante
      • Negativa para bacilos álcool-ácido resistentes ou fungos
      • Nas culturas pode crescer a Corynebacterium.

Tratamento

Mastite lactacional

  • Tratamento de suporte:
    • Analgésicos (anti-inflamatórios não esteroides, paracetamol)
    • Compressas frias
    • Esvaziamento frequente e completo da mama através de:
      • Amamentação
      • Extração com bomba
      • Extração manual
  • Antibióticos:
    • Não MRSA:
      • Penicilinas antiestafilocócicas: dicloxacilina
      • Cefalosporinas: cefalexina
      • Eritromicina (hipersensibilidade aos beta-lactâmicos)
    • MRSA:
      • Clindamicina
      • Trimetoprim-sulfametoxazol (evitar em mães a amamentar lactentes com < 1 mês)
      • A vancomicina intravenosa pode ser necessária na apresentação grave/séptica
  • Tratamento cirúrgico: incisão e drenagem dos abcessos associados

Mastite não lactacional

Mastite periductal:

  • Muitas vezes um problema crónico
  • Antibióticos:
    • Amoxicilina-ácido clavulânico (1ª linha)
    • Trimetoprim-sulfametoxazol se existe possibilidade de MRSA
    • A duração do tratamento é geralmente de 5-7 dias
  • Abcesso:
    • Incisão e drenagem
    • Aspiração por agulha
    • Recorre em até 50% dos casos
  • Fístulas e abcessos recorrentes:
    • Excisão cirúrgica dos ductos envolvidos
    • Abrir ou remover o trajeto fistuloso

MGI:

  • Geralmente autolimitada e com resolução espontânea, mas pode levar até 20 meses
  • Se necessário, tratar as infeções secundárias com antibióticos e drenar os abcessos:
    • Empiricamente, podem ser administrados os mesmos antibióticos utilizados na mastite periductal
    • Ajustar os antibióticos com base na cultura e suscetibilidade.
    • Doxiciclina para a Corynebacterium
  • MGI persistente e refratária: Podem utilizar-se corticoides e metotrexato.

Diagnóstico Diferencial

  • Cancro da mama inflamatório: uma neoplasia da mama rara, agressiva e de crescimento rápido, caracterizada por eritema e edema. À apresentação, quase todas as mulheres têm envolvimento ganglionar e até ⅓ têm metástases à distância. Deve suspeitar-se do diagnóstico em mulheres com uma inflamação rapidamente progressiva e sem melhoria com os antibióticos. A imagiologia mamária diagnóstica com mamografia e ecografia, juntamente com a BAG podem confirmar o diagnóstico. O tratamento envolve cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
  • Abcesso mamário: acumulação de conteúdo purulento na glândula mamária, geralmente associado à mastite. Apresenta-se como uma massa unilateral e flutuante numa mama dolorosa, eritematosa e edemaciada. O tratamento é com incisão e drenagem.
  • Galactocelo: coleção quística de líquido geralmente causada por obstrução num ducto lactífero. Os galactocelos apresentam-se como uma massa firme e palpável na região subareolar e pode observar-se um nível líquido-gorduroso clássico na imagiologia. Ao contrário da mastite lactacional, os galactocelos não estão associadas a sintomas sistémicos, como febre, mal-estar ou mialgias. O diagnóstico baseia-se na história clínica e na aspiração, com obtenção de um líquido leitoso. Estas lesões não requerem excisão.
  • Ectasia ductal mamária: dilatação dos ductos subareolares associada a fibrose e secreção mamilar espessa e cremosa. Anteriormente era considerada como parte do mesmo síndrome que inclui a mastite periductal, no entanto, é atualmente considerada um fenómeno relacionado com a idade, sem inflamação ou infeção significativas associadas. A ectasia ocorre geralmente em mulheres na pós-menopausa, enquanto a mastite periductal ocorre tipicamente em mulheres mais jovens, especialmente naquelas que fumam.

Referências

  1. Al-Khaffaf, B., Knox, F., & Bundred, N. J. (2008). Idiopathic granulomatous mastitis: a 25-year experience. Journal of the American College of Surgeons, 206(2), 269–273. https://doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2007.07.041 
  2. Beckmann C.R.B., Ling, F.W., et al. (Eds.). (2010). Obstetrics and gynecology (6th ed.). Lippincott Williams & Wilkins.
  3. Dixon, M., & Louis-Jacques, A. (2023). Lactational mastitis. UpToDate. Retrieved March 28, 2025, from https://www.uptodate.com/contents/lactational-mastitis
  4. Dixon, M., & Pariser, K. M. (2022). Nonlactational mastitis in adults. UpToDate. Retrieved March 28, 2025, from https://www.uptodate.com/contents/nonlactational-mastitis-in-adults
  5. Schoenfeld, E. M., & McKay, M. P. (2010). Mastitis and methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA): the calm before the storm? Journal of Emergency Medicine, 38(4), e31–e34. https://doi.org/10.1016/j.jemermed.2008.11.021

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