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Intoxicação por Monóxido de Carbono

O monóxido de carbono (CO) é um gás inodoro, incolor, insípido e não irritante formado pela combustão de hidrocarbonetos (por exemplo, incêndios, tubos de escape dos automóveis, aquecedores a gás). O monóxido de carbono tem maior afinidade  para a hemoglobina do que o oxigénio, formando assim a carboxihemoglobina (COHb). Níveis elevados de COHb levam a hipóxia tecidual e lesão cerebral. Os sintomas de intoxicação por CO incluem cefaleias, náusea, fraqueza, toracalgia, dispneia, convulsões, coma e até morte. A oxigenoterapia é fundamental para o tratamento da intoxicação por CO.

Última atualização: Jul 11, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Etiologia

  • Inalação de fumos relacionados com fogo:
    • Causa mais comum de intoxicação por monóxido de carbono (CO)
    • A intoxicação por CO é a causa mais comum de morte relacionada com o fogo nos Estados Unidos.
  • Outras fontes de CO incluem os seguintes, sobretudo em áreas mal ventiladas:
    • Aquecedores a gás nas residências
    • Obstrução das condutas de ar do aquecimento doméstico
    • Fogões a lenha
    • Tubos de escape dos veículos motorizados (pode estar associado a tentativa de suicídio)
    • Canos de água extensos ou fumo de narguilé
  • Mais comum nos meses de inverno devido ao aumento do uso de dispositivos de aquecimento
  • Geralmente afeta vários membros da família que apresentam sintomas semelhantes.

Fisiopatologia

  • O CO tem uma afinidade pela hemoglobina cerca de 240 vezes superior ao oxigénio, provocando uma deslocação do oxigénio da hemoglobina a nível pulmonar.
  • O CO liga-se à hemoglobina, formando a carboxihemoglobina (COHb) e provocando uma alteração na configuração da hemoglobina que impede a libertação de oxigénio nos tecidos periféricos.
  • Provoca uma deslocação para a esquerda na curva oxigénio-hemoglobina
  • Inibe a fosforilação oxidativa a nível mitocondrial, levando à respiração anaeróbia e morte celular
  • O CO também se liga à mioglobina cardíaca, levando a depressão miocárdica, hipotensão e arritmias.
  • O CO induz lesão de reoxigenação e formação de radicais livres de oxigénio no sistema nervoso.

Apresentação Clínica

Os sintomas da intoxicação por CO são variados e inespecíficos.

A gravidade da apresentação clínica da intoxicação por CO depende da quantidade de CO no ar inalado, da duração da exposição e do estado geral de saúde do indivíduo afetado.

Indivíduos com intoxicação ligeira a moderada

  • Cefaleias (o sintoma de apresentação mais comum)
  • Mal-estar
  • Náuseas/vómitos
  • Tonturas
  • Julgamento alterado e dificuldade de concentração
  • Confusão
  • Dispneia

Indivíduos com intoxicação grave

  • Sintomas neurológicos:
    • Convulsões
    • Síncope
    • Alteração do estado mental
    • Perda de consciência e/ou coma
  • Sintomas cardiovasculares:
    • Toracalgia e dispneia (devido a enfarte agudo do miocárdio)
    • Palpitações e arritmias
    • Hipotensão
  • Sintomas respiratórios:
    • Dispneia
    • Edema pulmonar
    • Insuficiência respiratória
    • Lesões concomitantes da via aérea devido à inalação de fumos (em casos de incêndios domésticos)
  • Síndrome neuropsiquiátrica tardia: ocorre em 30% dos pacientes, geralmente nos primeiros 30 dias, mas às vezes até 240 dias após a exposição
    • Demência
    • Alterações da personalidade
    • Dificuldades cognitivas e de aprendizagem
    • Psicose
    • Distúrbios do movimento (por exemplo, parkinsonismo, paralisia, coreia)
Symptoms of carbon monoxide poisoning

Sintomas da intoxicação por monóxido de carbono

Imagem por Lecturio.

Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico

  • A suspeita clínica é um fator chave para estabelecer o diagnóstico de intoxicação por CO.
  • A grande variedade e inespecificidade dos sintomas levam erros de diagnóstico frequentes, sobretudo na ausência de exposição evidente.
  • A história de exposição ao CO é essencial, mas nem sempre evidente: devido à falta de odor, cor e sabor do gás, os indivíduos podem não estar cientes da sua exposição.
  • Procedimento:
    • A gasimetria arterial mostra níveis elevados de carboxiemoglobina (> 3% em não fumadores, > 10% em fumadores).
    • A oximetria de pulso não é útil e pode ser normal uma vez que não consegue diferenciar entre COHb e oxiemoglobina.
    • Eletrocardiograma (ECG) e/ou enzimas cardíacas para descartar isquemia miocárdica
    • Exame da via aérea para avaliar lesão por inalação de fumo

Tratamento

  • Tratamento inicial com oxigénio 100% de alto fluxo: A oxigenoterapia deve começar imediatamente se a suspeita clínica for elevada.
  • Considerar oxigénio hiperbárico nas seguintes situações:
    • Falha no tratamento inicial
    • Nível de CO > 25% sem sintomas
    • Nível de CO > 15% em pacientes grávidas com sofrimento fetal
    • Perda de consciência
    • Convulsão
    • Acidose metabólica grave (pH < 7,1)
    • Evidência de isquemia de órgão-alvo (por exemplo, alterações no ECG, dor torácica, alteração do estado mental)
  • Considerar intubação e ventilação mecânica nos pacientes com compromisso grave.

Diagnóstico Diferencial

  • Insuficiência respiratória: ocorre quando há oxigenação inadequada do sangue ou ventilação/eliminação inadequada de CO ambas. Pode ser uma situação aguda que se desenvolve ao longo de horas ou uma situação crónica que demora meses a anos. O tratamento envolve a correção da causa subjacente, administração de oxigénio e, se necessário, ventilação mecânica.
  • Intoxicação por cianeto: O cianeto de hidrogénio (HCN) é um líquido incolor, extremamente venenoso e inflamável utilizado em várias indústrias e produtos, incluindo indústria da borracha, plástico e tintas domésticas. Podem surgir complicações fatais decorrentes da intoxicação por cianeto que ocorre mps incêndios em espaços fechados aquando da queima dos plásticos. A exposição é por inalação, dérmica ou intestinal. Os sintomas desenvolvem-se em segundos a minutos e envolvem alterações cardiovasculares, respiratórias e neurológicas. O tratamento inclui tiossulfato de sódio, nitritos e hidroxocobalamina.
  • Síndrome de dificuldade respiratória aguda (SDRA): reação inflamatória grave pulmonar que se caracteriza pela presença de infiltrados pulmonares devido à acumulação de líquido alveolar. A síndrome de resposta inflamatória sistémica e a sépsis são as principais causas de SDRA. O principal achado é a insuficiência respiratória. A radiografia de tórax habitualmente revela infiltrados pulmonares bilaterais difusos (“opacidades em borboleta”).
  • Toxicidade do álcool: O alcoolismo corresponde a um nível de consumo de álcool que excede o padrão sociocultural. É marcado por dependência mental e física com um desejo irresistível de álcool e tolerância ao mesmo. A intoxicação alcoólica grave apresenta-se com náuseas, vómitos, alterações do discurso e articulação, amnésia, delírio, letargia, depressão respiratória, convulsões, coma e até morte.
  • Meningite: infeção das meninges, membranas protetoras em volta do cérebro, geralmente provocada por Streptococcus pneumoniae ou Haemophilus influenzae. Apresenta-se com febre, rigidez de nuca e cefaleia. O diagnóstico é por punção lombar para avaliação cerebroespinhal (LCR). O tratamento consiste na administração rápida de antibióticos.
  • Toxicidade dos opióides: Os opióides são depressores do sistema nervoso central utilizados na prática médica como analgésicos potentes, sendo frequente o seu abuso devido aos efeitos eufóricos. As características da intoxicação por opióides incluem sonolência, depressão respiratória e pupilas punctiformes, podendo ser controladas com naloxona. Os pacientes podem desenvolver sintomas de abstinência (bocejos, lacrimejo, coriza, piloereção, cólicas abdominais) cujo tratamento pode ser feito com metadona ou buprenorfina.

Referências

  1. Clardy, P.F., Manaker, S., & Perry, H. Carbon monoxide poisoning. UpToDate. Retrieved January 24, 2021, from
  2. https://www.uptodate.com/contents/carbon-monoxide-poisoning
  3. O’Malley, G.F. & O’Malley, R. (2020). Carbon Monoxide Poisoning. MSD Manuals. https://www.msdmanuals.com/professional/injuries-poisoning/poisoning/carbon-monoxide-poisoning
  4. Rose, J. J., Wang, L., Xu, Q., McTiernan, C. F., Shiva, S., Tejero, J., & Gladwin, M. T. (2017). Carbon Monoxide Poisoning: Pathogenesis, Management, and Future Directions of Therapy. American journal of respiratory and critical care medicine, 195(5), 596–606. https://doi.org/10.1164/rccm.201606-1275CI
  5. Wu, P. E., & Juurlink, D. N. (2014). Carbon monoxide poisoning. CMAJ : Canadian Medical Association journal = journal de l’Association medicale canadienne, 186(8), 611. https://doi.org/10.1503/cmaj.130972
  6. Gozubuyuk, A. A., Dag, H., Kacar, A., Karakurt, Y., & Arica, V. (2017). Epidemiology, pathophysiology, clinical evaluation, and treatment of carbon monoxide poisoning in child, infant, and fetus. Northern clinics of Istanbul, 4(1), 100–107. https://doi.org/10.14744/nci.2017.49368

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