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Infeção pelo Vírus Zika

O vírus Zika pertence ao género Flavivirus e é transmitido principalmente por mosquitos da espécie Aedes aegypti, podendo também ser transmitido sexualmente e por via transplacentária. Embora a maioria dos doentes infetados seja assintomática, alguns podem apresentar febre baixa, um exantema cutâneo pruriginoso e conjuntivite. A síndrome congénita do vírus Zika é a complicação mais grave da infeção por este vírus, na qual a infeção fetal transplacentária se manifesta por defeitos oculares, microcefalia, espasticidade e convulsões. O diagnóstico é feito por RT-PCR ou serologia. Como não existe um tratamento definitivo para a infeção pelo vírus Zika, o tratamento é principalmente de suporte. A prevenção inclui o controlo da população de mosquitos, utilizar repelentes de insetos, bem como roupas protetoras.

Última atualização: May 23, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Classificação

Classificação do fluxograma de vírus de rna

Identificação dos vírus de RNA:
Os vírus podem ser classificados de várias formas. A maioria dos vírus terá, no entanto, um genoma formado por DNA ou por RNA. Os vírus com um genoma de RNA podem ser melhor caracterizados por um RNA de cadeia simples ou dupla. Os vírus com invólucro são cobertos por uma fina camada de membrana celular (geralmente retirada da célula hospedeira). Se o invólucro estiver ausente, os vírus são chamados de vírus “nus”. Os vírus com genomas de cadeia simples são considerados vírus de “sentido positivo” se o genoma for usado diretamente como RNA mensageiro (mRNA), que é traduzido para proteínas. Os vírus de “sentido negativo” de cadeia simples usam a RNA polimerase dependente de RNA, uma enzima vírica, para transcrever o seu genoma em RNA mensageiro.

Imagem de Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Características Gerais e Epidemiologia

Características Gerais

  • Género: Flavivirus
  • Também classificado como um arbovírus porque é transmitido por um artrópode.
  • Estrutura:
    • Sentido positivo
    • RNA de cadeia simples linear
    • Com invólucro
    • Cápside icosaédrica
Imagem microscópica eletrônica de transmissão do vírus zika

Imagem de microscopia eletrónica de transmissão do vírus Zika:
Um membro da família Flaviviridae, cultivado em células de cultura LLC-MK2. As partículas víricas têm 40nm de diâmetro e apresentam um invólucro externo e um núcleo interno denso. Notar também as vesículas com uma membrana lisa, reconhecidas como o complexo de replicação desta família de vírus.

Imagem: “22059” do CDC. Licença: Domínio Público

Epidemiologia

  • Identificado pela primeira vez no Uganda em 1947
  • Agora encontra-se amplamente distribuído nas regiões tropicais e subtropicais da:
    • Ásia
    • África
    • Micronésia
    • América Central e do Sul
  • Foram recentemente reportados surtos locais nos Estados Unidos.
Mapa mundial do risco do vírus zika (2016)

Mapa-múndi da distribuição do vírus Zika (2016)

Imagem: “CDC map of Zika virus distribution as of 15 January 2016” do CDC. Licença: Domínio Público

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Patogénese

Reservatórios

  • Humanos
  • Primatas não humanos

Transmissão

  • Transmitido habitualmente pelos mosquitos Aedes aegypti
  • Pode ocorrer transmissão transplacentária se as grávidas forem infetadas.
  • A transmissão sexual é possível
Alimentação do aedes aegypti

Aedes aegypti a alimentar-se da pele humana

Imagem: “Aedes aegypti bloodfeeding CDC Gathany” de James Gathany. Licença: Domínio Público

Fatores de risco do hospedeiro

  • Viagem recente para áreas endémicas (áreas tropicais e subtropicais)
  • Relação sexual com um indivíduo atualmente ou recentemente infetado

Fisiopatologia

  • O mosquito A. aegypti funciona como vetor:
    • O vírus Zika replica-se no intestino médio do mosquito.
    • Após a replicação, o vírus aloja-se nas glândulas salivares do mosquito.
  • O mosquito pica um hospedeiro humano, inoculando o vírus nos queratinócitos.
  • O vírus desloca-se para os gânglios linfáticos antes de ocorrer disseminação sistémica.
  • Na síndrome congénita do vírus Zika, este infeta as células progenitoras neurais do feto.

Apresentação Clínica

Infeção pelo vírus Zika em adultos

  • Período de incubação: 3-14 dias
  • A maioria dos doentes permanece assintomático após o período de incubação.
  • Se sintomáticos, os achados são inespecíficos:
    • Cefaleias
    • Artralgias
    • Mialgias
    • Febre
    • Exantema pruriginoso
    • Conjuntivite não exsudativa
  • Potenciais complicações:
    • Síndrome de Guillain-Barré
    • Meningoencefalite
    • Mielite transversa

Síndrome congénita do vírus Zika

  • É a complicação mais preocupante da infeção pelo vírus Zika
  • O vírus Zika infeta as células neuroprogenitoras do SNC.
  • Os achados incluem:
    • Calcificações subcorticais
    • Microcefalia
    • Ventriculomegalia
    • Defeitos oculares
    • Espasticidade
    • Convulsões

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Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico

  • Estudos diagnósticos específicos consoante o tempo desde a infeção:
    • 0 a 14 dias após a infeção: PCR de amostras de sangue ou de urina para detetar o RNA do vírus Zika
    • > 14 dias após a infeção: serologia (para anticorpos contra Zika)
  • Alterações laboratoriais inespecíficas:
    • Leucopenia
    • Trombocitopenia
    • PCR e velocidade de sedimentação (VS) elevadas
  • Realizar PCR ou serologias para descartar coinfeção pelo vírus da dengue ou da febre amarela.

Tratamento

  • Não há tratamentos curativos disponíveis.
  • Tratamento sintomático:
    • Fluidoterapia oral ou IV para manter uma hidratação adequada
    • Paracetamol para diminuir a febre e as artralgias
  • Notificação obrigatória.

Comparação entre Espécies

Tabela: Comparação entre espécies
Vírus Zika Vírus do Nilo Ocidental Vírus da dengue
Características
  • Com invólucro
  • Icosaédrico
  • (+) ssRNA
  • Com invólucro
  • Icosaédrico
  • (+) ssRNA
  • Com invólucro
  • Icosaédrico
  • (+) ssRNA
  • 4 serotipos diferentes
Transmissão
  • Mosquitos Aedes
  • Transplacentária
  • Sexual
Mosquitos Culex Mosquitos Aedes
Clínica
  • Febre
  • Cefaleias
  • Exantema
  • Mialgias
  • Conjuntivite
  • Febre
  • Cefaleias
  • Exantema
  • Mialgias
  • Encefalite
  • Meningite
  • Febre
  • Cefaleias
  • Dor “quebra-ossos”
  • Exantema
  • Hemorragia
  • Choque
Diagnóstico
  • Clínica
  • História de viagens
  • Serologia
  • PCR – reação em cadeia da polimerase
  • Clínica
  • História de viagens
  • Serologia
  • PCR
  • Clínica
  • História de viagens
  • Culturas de células
  • ELISA
  • RT-PCR
  • Serologia
Tratamento Tratamento sintomático
Prevenção
  • Controlo de mosquitos
  • Proteção pessoal com repelentes de insetos e roupa protetora
  • Controlo de mosquitos
  • Proteção pessoal com repelentes de insetos e roupa protetora
  • Controlo de mosquitos
  • Vacina

Diagnóstico Diferencial

As seguintes doenças constituem diagnósticos diferenciais da síndrome congénita do vírus Zika:

  • Toxoplasmose congénita: infeção congénita do grupo TORCHES causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. A toxoplasmose é habitualmente transmitida pela ingestão de carne de porco mal cozinhada, mas também pode ser transmitida pelo contato com fezes de gato. A toxoplasmose congénita apresenta-se com a tríade de coriorretinite, hidrocefalia e calcificações intracranianas difusas (em vez de subcorticais). O diagnóstico é feito através da serologia. O tratamento faz-se com pirimetamina-sulfadiazina.
  • Infeção congénita por citomegalovírus: infecção congénita do grupo TORCHES causada pelo citomegalovírus, também conhecido como herpesvírus humano 5 (HHV-5). O citomegalovírus pode ser transmitido pela urina, sangue, saliva, relação sexual e transplante de órgãos. O citomegalovírus congénito manifesta-se por hipoacúsia, convulsões, exantema cutâneo em “muffin de mirtilo” e calcificações periventriculares (em vez de subcorticais). O diagnóstico é feito por serologia ou PCR. Para o tratamento utiliza-se ganciclovir ou valganciclovir.
  • Infeção congénita por herpes: infeção congénita do grupo TORCHES causada pelo vírus herpes simplex (HSV) 2. O vírus do herpes simples é transmitido por via transvaginal da mãe infetada para o feto quando este contacta com lesões no canal do parto. A infeção congénita por herpes manifesta-se por vesículas na pele e mucosas semelhantes às observadas nos adultos. Porém, também pode ser disseminada e envolver múltiplos órgãos. O diagnóstico é confirmado por PCR e o tratamento faz-se com aciclovir.

Referências

  1. LaBeaud, A.D. (2021). Zika virus infection: An overview. UpToDate. https://www.uptodate.com/contents/Zika-virus-infection-an-overview
  2. Nielsen-Saines, K. (2021). Congenital Zika virus infection: Clinical features, evaluation, and management of the neonate. UpToDate. https://www.uptodate.com/contents/congenital-Zika-virus-infection-clinical-features-evaluation-and-management-of-the-neonate
  3. Navalkele, B.D. (2020). Zika virus: Background, pathophysiology, epidemiology. Medscape. https://emedicine.medscape.com/article/2500035-overview
  4. Vouga M, et al. (2018). Updated Zika virus recommendations are needed. Lancet. 392(10150), 818–819. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30146329/
  5. Moreira-Soto, A., et al. (2018). Exhaustive TORCH pathogen diagnostics corroborate Zika virus etiology of congenital malformations in Northeastern Brazil. mSphere, 3(4) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30089647/
  6. Shehu, N.Y., et al. (2018). Pathogenesis, diagnostic challenges and treatment of Zika virus disease in resource-limited settings. Niger Postgrad Med J. 25(2), 67–72. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30027916/

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