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Galactosemia

A galactosemia é uma doença causada por defeitos no metabolismo da galactose. A galactosemia é uma condição herdada, autossómica recessiva, que resulta num processamento inadequado da galactose e em níveis elevados do monossacarídeo no sangue. A doença rara apresenta-se frequentemente em bebés com sintomas de letargia, náuseas, vómitos, diarreia e icterícia. Podem ocorrer complicações neurológicas sérias, como deficiências motoras (por exemplo, ataxia) e na fala. O diagnóstico é feito através de testes de sangue, que detetam a ausência ou o nível baixo das enzimas necessárias para processar a galactose. O tratamento consiste em evitar a lactose e a galactose na alimentação.

Última atualização: Feb 25, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Descrição Geral

Definição

A galactosemia é um erro autossómico recessivo e inato do metabolismo dos carboidratos, que resulta na incapacidade do organismo de metabolizar a galactose em glicose.

Classificação

  • Tipo I (clássico):
    • Forma mais comum e severa
    • Deficiência de galactose-1-fosfato uridiltransferase
    • Apresenta-se dias após o nascimento, com letargia, má progressão estaturo-ponderal, icterícia e outras características de lesão hepática
  • Tipo II:
    • Deficiência de galactose cinase
    • Tipo leve (com sintomas limitados ou inexistentes)
  • Tipo III:
    • Deficiência em galactose-6-fosfato epimerase
    • A apresentação varia de doença leve a grave; pode incluir cataratas, atraso no desenvolvimento e doença renal.

Etiologia

A galactosemia é uma doenla hereditária causada por uma mutação genética, que leva à deficiência enzimática.

  • Tipo I: O gene GALT (cromossoma 9p13) codifica para galactose-1-fosfato uridiltransferase, convertendo galactose-1-fosfato em UDP-galactose
  • Tipo II: o gene GALK1 (cromossoma 17q24) codifica para a galactocinase, que converte galactose em galactose-1-fosfato
  • Tipo III: o gene GALE (cromossoma 1p36-p35) codifica para a UDP-galactose-4-epimerase, que converte UDP-galactose em UDP-glucose.

A patologia é autossómica recessiva: Cada criança tem 25% de probabilidade de herdar a doença se ambos os pais estão afetados.

Epidemiologia

  • Prevalência de galactosemia tipo I: 1 em cada 30.000-60.000 nados vivos
  • Prevalência de galactosemia tipo II e tipo III: menos de 1 em cada 100.000 nados vivos
  • A prevalência varia:
    • Geograficamente:
      • 1 em cada 30.000 na Europa
      • 1 em cada 1.000.000 no Japão
    • Por etnia:
      • Mais prevalente na população “Irish Traveller” (prevalência: 1 em cada 480)
Galactose (projeção de haworth)

Uma estrutura do monossacarídeo galactose (projeção de Haworth):
Os pacientes com galactosemia são incapazes de degradar a galactose. A glicose e a galactose têm a mesma fórmula química, mas diferem na localização do grupo hidroxil 1.

Imagem: “Beta-D-Galactopyranose” by NEUROtiker. Licença: Public Domain

Apresentação Clínica

Os sintomas podem aparecer dias a semanas após o nascimento.

  • Constitucionais:
    • Peso decrescente ou dificuldade em ganhar peso
    • Má progressão estaturo-ponderal
    • Letargia
  • Gastrointestinais:
    • Anorexia
    • Náuseas e vómitos
    • Diarreia
    • Hepatomegalia e esplenomegalia
    • Ascite
  • Renais: insuficiência renal
  • Neurológicos:
    • Convulsões
    • Irritabilidade
    • Atraso no desenvolvimento
    • Hipotonia
    • Perda auditiva neurossensorial
  • Oculares: cataratas
Bebé com galactosemia

Um bebé com galactosemia:
Como se observa na imagem, a galactosemia tem vários sinais e sintomas clínicos. Podem ocorrer efeitos secundários neurológicos, renais, hepáticos e oculares. Os sintomas aparecem cedo e são frequentemente aparentes no 1.º mês de vida.

Imagem de Lecturio.

Diagnóstico

Rastreio

  • Os testes de rastreio em recém-nascidos são comum em várias regiões.
  • A amniocentese ou a biópsia das vilosidades coriónicas são aconselhadas para famílias com histórico de galactosemia.

Teste de galactosemia

O teste deve ser realizado em todos os bebés que apresentem sintomas.

  • Teste de sangue ou urina: verifica as enzimas necessárias para processar a galactose
  • Galactose-1-fosfato elevado em hemácias
  • Baixa atividade enzimática da GALT = teste positivo

Tratamento e Complicações

Tratamento

  • Evitar lactose e galactose ao longo da vida:
    • Leite de soja em pó
    • Leite em pó sem lactose
    • Evitar laticínios
  • Suplementos de cálcio
  • Terapia da fala para pacientes com deficiências linguísticas
  • Terapia hormonal para pacientes com a puberdade atrasada
  • O aconselhamento genético é considerado

Complicações

  • Insuficiência ovárica prematura
  • Deficiências neurológicas permanentes (por exemplo, deficiência na fala)
  • Diminuição da densidade óssea com aumento do risco de fraturas

Diagnóstico Diferencial

  • Intolerância à lactose: uma patologia causada por uma incapacidade de processar lactose. Os sintomas ocorrem após a ingestão de lactose. Os pacientes apresentam queixas gastrointestinais como dor abdominal, diarreia, flatulência e náuseas. O diagnóstico é baseado no historial clínico. O tratamento envolve a remoção da lactose da alimentação. A suplementação com lactase pode ser oferecida a pacientes que continuam a consumir produtos com lactose. Ao contrário da intolerância à lactose, nenhum suplemento está disponível para pacientes com galactosemia. A galactosemia pode originar graves deficiências neurológicas e renais, no entanto, a apresentação clínica é mais leve na intolerância à lactose.
  • Atresia biliar: condição causada por fibrose e destruição das vias biliares. A atresia biliar é uma patologia rara e ligeiramente mais comum nas mulheres. Nos primeiros 2 meses de vida, as crianças apresentam icterícia progressiva, fezes brancas, urina com cor de caramelo e hepatoesplenomegalia. A biopsia hepática é necessária para o diagnóstico definitivo e a modalidade de tratamento definitiva é a cirurgia. Ao contrário da galactosemia, a apresentação com deficiências neurológicas é incomum em crianças.
  • Hemocromatose: uma doença autossómica recessiva que causa uma grave sobrecarga de ferro. A doença é causada por mutações genéticas que levam a uma baixa produção de hepcidina e consequente aumento da absorção de ferro. A tríade clássica de sintomas inclui cirrose, diabetes, e aumento da pigmentação cutânea. Os pacientes são diagnosticados através de uma combinação de estudos do ferro, testes genéticos (que mostram mutações genéticas conhecidas) e biópsia (quando a abordagem inicial é não diagnóstica). Os pacientes necessitam de flebotomia, quelação de ferro e restrição alimentar para o tratamento. Ao contrário da galactosemia, a hemocromatose geralmente apresenta-se mais tarde na vida (5.ª ou 6.ª década). A hemocromatose juvenil é incomum, mas pode-se apresentar na 2.ª década de vida.

Referências

  1. Sutton, V.R. (2021). Galactosemia: Clinical features and diagnosis. UpToDate. Retrieved April 15, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/galactosemia-clinical-features-and-diagnosis
  2. Powell, K.K., et al. (2009). Long-term speech and language developmental issues among children with Duarte Galactosemia. Genetics in Medicine. 11(12), 874–9. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19904210
  3. Coelho, A.I., Rubio-Gozalbo, M.E., Vicente, J.B., Rivera, I. (2017). Sweet and sour: an update on classic galactosemia. Journal of Inherited Metabolic Disease. 40(3), 325–42. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28281081/

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