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Estômago: Anatomia

O estômago é um saco muscular, na porção superior esquerda do abdómen, que desempenha um papel crítico na digestão. O estômago desenvolve-se a partir do intestino anterior e conecta o esófago ao duodeno. Estruturalmente, assume a forma de um J e apresenta uma curvatura maior e menor. De forma geral, é dividido nas regiões: cárdia, fundo, corpo e piloro. Ao nível microscópico, a parede do estômago tem várias camadas, incluindo a mucosa, a submucosa, a muscular e a serosa. O estômago está repleto de glândulas que secretam uma variedade de substâncias envolvidas no processo digestivo. O suprimento arterial é sobretudo a partir de vasos originados do tronco celíaco.

Última atualização: Jan 15, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Descrição Geral

O estômago é um saco muscular na parte superior do abdómen, que desempenha um papel crítico na digestão.

Funções do estômago

  • Armazenamento de alimentos
  • Digestão:
    • Decompõe mecanicamente os alimentos
    • Mistura alimentos com secreções gástricas, para produzir o quimo
  • Esvaziamento lento/controlado do quimo no intestino delgado
  • Secreção de:
    • Ácido clorídrico (HCl):
      • Ativa as enzimas digestivas
      • Disrompe o tecido conjuntivo dos alimentos
      • Destrói bactérias e outros agentes patogénicos
    • Pepsinogénio: convertido em pepsina pelo HCl, que digere proteínas
    • Muco: protege as células gástricas do HCl
    • Fator intrínseco: essencial para a absorção da vitamina B12
    • Gastrina: estimula a secreção de HCl e muco
    • Grelina (o “hormona da fome”): estimula o apetite e promove o armazenamento de gordura

Desenvolvimento do estômago

  • Desenvolve-se a partir do intestino
  • Começa como um tubo longitudinal
  • A parede dorsal cresce mais rápido que a sua parede ventral → o saco expande-se posteriormente e para a esquerda → desenvolve a forma de um C
  • Gira ao longo do seu eixo longitudinal na sua posição final
  • Tem um mesogástro dorsal e ventral (mesentério inicial que liga o intestino anterior primitivo à parede posterior do corpo):
    • Mesogástrio dorsal → omento maior
    • Mesogástrio ventral → omento menor

Anatomia Geral

Características gerais

  • Órgão semelhante a um saco, em forma de C
  • Volume interno:
    • Aproximadamente 50 mL quando vazio
    • Até 4 L quando cheio

Partes do estômago e marcos anatómicos

  • Cárdia:
    • Entrada do estômago
    • Adjacente ao esfíncter esofágico inferior
  • Fundo: região em forma de cúpula, localizada no ponto mais alto do estômago, acima da abertura cardíaca
  • Corpo:
    • Parte principal do estômago
    • Estende-se do fundo ao piloro
    • Limitado pelas curvaturas menor e maior
    • Contém dobras grossas denominadas rugas
  • Piloro (também denominado antro):
    • Conecta-se ao duodeno através do esfíncter pilórico
    • Consiste num antro pilórico mais largo e num canal pilórico mais estreito
  • Curvatura menor:
    • Curvatura côncava ao longo do lado medial do estômago
    • Estende-se da borda direita do esófago até à borda superior do piloro
  • Maior curvatura:
    • Curvatura convexa ao longo do lado lateral do estômago
    • Estende-se da borda esquerda do fundo até a borda inferior do piloro
  • Incisura cardíaca: ângulo criado entre o esófago e o fundo
  • Incisura angular: entalhe na curvatura menor, na região pilórica
  • Lúmen: espaço dentro das paredes do estômago
Componentes anatómicos do estômago

Componentes anatómicos do estômago

Imagem por BioDigital, editada por Lecturio

Localização

  • Quadrante superior esquerdo da cavidade peritoneal
  • Conectado ao:
    • Esófago na sua extremidade proximal
    • Duodeno na sua extremidade distal

Relações anatómicas

O estômago está em contato direto com vários outros órgãos, incluindo:

  • Cúpula diafragmática → fundo e curvatura maior
  • Lobo esquerdo do fígado → lado direito e ventral do estômago
  • Baço → metade posterior esquerda do estômago
  • Cauda do pâncreas → lado dorsal do estômago
  • Cólon transverso → superfícies posterior e inferior do corpo e piloro
  • Rim esquerdo e glândula adrenal → superfície posterior do corpo gástrico
Stomach in situ and the relations to its neighboring structures

Estômago in situ e as relações com as estruturas vizinhas
Imagem por BioDigital, editada por Lecturio

Anatomia Microscópica

Camadas da parede do estômago

  • Mucosa:
    • Consiste em 3 subcamadas:
      • Epitélio colunar simples (revestimento mais interno)
      • Lâmina própria
      • Muscular mucosa
    • Fossas gástricas:
      • Depressões, na mucosa, que descem até às glândulas gástricas, dentro da lâmina própria
      • Abrem no lúmen
    • Encontra-se em dobras, denominadas rugas, quando o estômago está vazio
    • As rugas esticam e achatam quando o estômago está cheio.
  • Submucosa:
    • Contém o plexo nervoso submucoso (plexo Meissner), que controla a muscular mucosa
    • Composta por tecido conjuntivo
  • Muscular externa:
    • Possui 3 camadas:
      • Camada oblíqua (mais interna)
      • Camada circular (meio)
      • Camada longitudinal (externa)
    • Contém (e controlada pelo) o plexo nervoso mioentérico (plexo de Auerbach) entre as camadas longitudinal e circular
    • Importante para a motilidade e digestão mecânica
  • Serosa: camada externa de tecido conjuntivo

Glândulas gástricas

Características gerais:

  • Maioriariamente glândulas exócrinas (secretam produtos num espaço luminal, em vez da corrente sanguínea)
  • Localizadas inferiormente às fossas gástricas, dentro da mucosa gástrica
  • Múltiplas glândulas abrem-se numa única fossa gástrica (que se abre no lúmen do estômago).
  • Região do pescoço: área onde as glândulas gástricas se abrem nas fossas gástricas

Tipos de glândulas:

  • Glândulas cardíacas e pilóricas:
    • Localizadas na região do cárdia gástrico e na região pilórica, respetivamente
    • Secretam muco
  • Glândulas gástricas:
    • Glândulas no fundo e no corpo gástricos
    • Contêm vários tipos de células → vários produtos de secreção

Tipos de células dentro das glândulas:

Compreendem (da superfície à profundidade):

  • Células mucosas superficiais:
    • Revestem as fossas gástricas
    • Células colunares simples
    • Surgem em cor clara na coloração de H&E
    • Secretam um muco insolúvel:
      • Forma uma barreira protetora contra o ambiente ácido do estômago
      • Concentra o bicarbonato no muco
  • Células mucosas do pescoço:
    • Localizadas no colo das glândulas, onde se unem às fossas gástricas
    • Secretam um muco solúvel
    • Núcleos de coloração mais escura do que as células mucosas da superfície
  • Células-tronco:
    • Encontradas entre as fossas e a entrada das glândulas
    • Produzem novas células para substituir as células mucosas da superfície nas fossetas e as células glandulares inferiormente
    • As células epiteliais do estômago são substituídas a cada 3-6 dias.
  • Células parietais:
    • Localizadas na região média das glândulas
    • Eosinofílicas (coloração rosa em H&E)
    • Secretam HCl e fator intrínseco
  • Células principais:
    • Células glandulares mais numerosas
    • Localizadas nas bases das glândulas
    • Basofílicas (coloração azul em H&E)
    • Secretam pepsinogénio e lípase gástrica
  • Células enteroendócrinas:
    • Localizadas nas bases das glândulas
    • Produzem vários tipos de hormonas

Neurovasculatura

Suprimento de sangue arterial

  • O suprimento arterial é proveniente do tronco celíaco.
  • Os vasos formam 2 ansas anastomóticas ao longo das curvaturas menor e maior.
  • Arco vascular da curvatura menor:
    • Artéria gástrica esquerda: diretamente a partir do tronco celíaco
    • Artéria gástrica direita: com origem na artéria hepática (um ramo do tronco celíaco)
  • Arco vascular da curvatura maior:
    • Artéria gastroepiploica esquerda: ramo da artéria esplénica (que é um ramo do tronco celíaco)
    • Artéria gastroepiploica direita: ramos da artéria gastroduodenal (um ramo da artéria hepática)
    • Nota: As artérias gastroepiploicas esquerda e direita também são conhecidas como artérias gastro-omentais.
  • Artérias gástricas curtas:
    • Originam-se da artéria esplénica terminal e da artéria gastroepiploica esquerda
    • Suprem o fundo do estômago
Suprimento arterial do estômago

Imagem a mostrar o suprimento de sangue do estômago

Imagem por BioDigital, editada por Lecturio

Drenagem venosa

  • Por veias homónimas, que acompanham as artérias
  • Curvatura menor: veias gástricas direita e esquerda → drenam para a veia porta
  • Maior curvatura:
    • Veia gastroepiploica esquerda e veias gástricas curtas → drenam para a veia esplénica
    • Veia gastroepiploica direita → drena para a veia mesentérica superior
Drenagem venosa do estômago

Drenagem venosa do estômago

Imagem por BioDigital, editada por Lecturio

Drenagem linfática

Os vasos linfáticos que drenam o estômago estão dispostos numa rede complexa.

  • Os vasos linfáticos dentro da mucosa e da submucosa acumulam linfa.
  • Drenam para os gânglios linfáticos perigástricos circundantes imediatos:
    • Gânglios linfáticos paracardíacos direito e esquerdo
    • Gânglios linfáticos suprapilóricos e infrapilóricos
  • Os gânglios linfáticos perigástricos drenam para os gânglios linfáticos e vasos que correm ao longo da vasculatura que supre o estômago:
    • Artéria gástrica esquerda
    • Artéria hepática comum
    • Vasos celíacos
    • Artéria esplénica
  • Por fim, drenam para os gânglios linfáticos para-aórticos

Inervação

O estômago é inervado pelo sistema nervoso autónomo.

  • Inervação parassimpática: troncos anterior e posterior do nervo vago (estimulatório)
  • Inervação simpática: nervo esplâncnico maior (inibe a atividade digestiva do estômago)
Inervação do estômago

Inervação do estômago

Imagem por BioDigital, editada por Lecturio

Relevância Clínica

  • Gastrite aguda: inflamação associada à lesão da mucosa gástrica. As causas mais comuns de gastrite aguda incluem infeção por Helicobacter pylori e reações imunomediadas, embora o álcool, fármacos (como AINEs) e isquemia também possam ser causadores; frequentemente a etiologia é desconhecida. Os sinais e sintomas clínicos incluem vómitos, desconforto/dor abdominal e azia. O melhor exame diagnóstico é a endoscopia com biópsia da mucosa gástrica.
  • Úlcera gástrica: defeito da mucosa gástrica, estendendo-se até à sua camada muscular, mais frequentemente na curvatura menor e antro do estômago. A maioria das úlceras gástricas são causadas por infeção por H. pylori. Os sintomas mais comuns são a dor epigástrica que agrava com a alimentação, plenitude epigástrica, saciedade precoce, intolerância a alimentos gordurosos, náuseas e vómitos ocasionais. O diagnóstico é confirmado com endoscopia.
  • Neoplasia gástrica: neoplasia do estômago. O adenocarcinoma é o tipo mais comum, mas outros tipos incluem o linfoma, tumores estromais e tumores carcinoides GI. O cancro gástrico, geralmente, apresenta-se com perda de peso, disfagia, dor abdominal vaga, náuseas e saciedade precoce. A endoscopia digestiva alta com biópsia é o exame diagnóstico de eleição.
  • Estenose pilórica: caracterizada por hipertrofia e hiperplasia do esfíncter pilórico nos primeiros meses de vida. A estenose pilórica é a causa mais comum de obstrução do trato de saída gástrico em lactentes. A apresentação clínica inclui vómitos pós-prandiais não biliares e em jato (muitas vezes descritos como vómitos em “projétil”); pode ser palpável uma massa em forma de azeitona no epigástrio.

Referências

  1. Le, T., Bhushan, V., Sochat, M., et al. (Eds.) (2021). First Aid for the USMLE Step 1, 31st ed., pp. 371–372. McGraw-Hill Education.
  2. Vakil, N.B. (2020). Peptic ulcer disease: Clinical manifestations and diagnosis. UpToDate. Retrieved August 15, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/peptic-ulcer-disease-clinical-manifestations-and-diagnosis
  3. Kapoor, V.K. (2017). Stomach anatomy. Medscape. Retrieved August 15, 2021, from https://emedicine.medscape.com/article/1899301-overview#a2
  4. Hebbard, P. (2021). Partial gastrectomy and gastrointestinal reconstruction. UpToDate. Retrieved August 16, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/partial-gastrectomy-and-gastrointestinal-reconstruction 
  5. Lirosi, M. C., Biondi, A., Ricci, R. (2017). Surgical anatomy of gastric lymphatic drainage. Translational Gastroenterology and Hepatology 2(3):14. Retrieved August 18, 2021, from https://doi.org/10.21037/tgh.2016.12.06

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