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Escabiose

A escabiose (ou sarna) é uma infestação da pele pelo ácaro Sarcoptes scabiei, apresentando-se frequentemente com prurido intenso, sulcos lineares característicos e pápulas eritematosas, particularmente nas pregas interdigitais e na face anterior (face dos músculos flexores) dos pulsos. O contacto direto e prolongado pessoa-pessoa é o maior fator de risco para a transmissão. O diagnóstico é frequentemente clínico, mas pode ser confirmado pelo exame microscópico de amostras de raspagem de pele ou por dermatoscopia. O tratamento inclui a aplicação de creme de permetrina tanto para o paciente como contactos pessoais próximos (coabitantes e parceiros sexuais), para além da limpeza minuciosa da roupa de cama e vestuário.

Última atualização: Oct 19, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Características Gerais da Escabiose

Características básicas da escabiose

  • Ácaro de 8 patas
  • Cor castanho-esbranquiçada
  • Corpo redondo
Ácaro da escabiose

Ácaro Sarcoptes adulto retirado da raspagem da pele de um cadáver de lince dos Himalaias

Imagem: “Adult Sarcoptes mite taken from the skin scraping of the dead Himalayan lynx” by Department of Zoology, Mirpur University of Science & Technology (MUST), Mirpur Azad Jammu & Kashmir, Pakistan. Licença: CC BY 4.0

Espécies clinicamente relevantes

Sarcoptes scabei (var. himinis) causa escabiose humana.

Epidemiologia

  • > 300 milhões de casos reportados em todo o mundo
  • Uma infestação relativamente comum que pode afetar indivíduos de qualquer idade ou estatuto socioeconómico.
  • A maior incidência ocorre em países com pobreza significativa.
  • Grupos mais vulneráveis:
    • Crianças pequenas
    • Idosos
    • Imunocomprometidos

Patogénese

Reservatório

Os humanos são o reservatório principal de S. scabei.

Transmissão

  • Direta: transmissão pessoa a pessoa durante contacto pele a pele prolongado, geralemnte entre membros da família ou parceiros sexuais; o contacto casual da pele tem pouca probabilidade de resultar em infeção
  • Ambiental: a escabiose crostosa pode ser transmitida via fómitos (cachecois, chapéus, cama, etc.)

Fatores de risco

  • Mais comum durante momentos de sobrepopulação, incluindo:
    • Desastres naturais
    • Guerra
  • A escabiose pode ser transmitida com facilidade em cenários institucionais, tais como:
    • Instituições psiquiátricas
    • Lares
    • Centros de dia
  • Em indivíduos com compromisso da imunidade celular, há um risco elevado de desenvolvimento de escabiose hiperqueratótica/crostosa

Ciclo de vida

  • Após o acasalamento, os ácaros fêmeas enterram-se no estrato córneo.
  • Colocam 2-3 ovos por dia antes de morrer (o seu tempo de vida é de aproximadamente 4-6 semanas)
  • As larvas eclodem em 3-4 dias e atingem a idade adulta na toca.
  • Carga dos ácaros
    • Baixa na escabiose clássica (10-15 ácaros)
    • Elevada na escabiose crostosa (até 2 milhões de ácaros)
  • Os ácaros podem sobreviver sem hospedeiro durante aproximadamente 24-36 horas; assim, pode ocorrer transmissão através de fómitos.
Ciclo de vida da escabiose

Os 4 estádios do ciclo de vida do S. scabiei: ovo, larva, ninfa e adulto

1: As fêmeas depositam 2-3 ovos por dia enquanto se enterram debaixo da pele.
2: Os ovos são ovais, de 0,10-0,15 mm de comprimento, e eclodem em 3-4 dias.
3: Após a eclosão dos ovos, as larvas migram para a superfície da pele e enterram-se no estrato córneo intacto, para construir tocas quase invisíveis e curtas chamadas bolsas de moldagem.
4: As ninfas resultantes têm 4 pares de patas.
5: O acasalamento ocorre após o macho ativo penetrar na bolsa de moldagem da fêmea adulta.

Imagem por Lecturio.

Fisiopatologia

A infeção pode ser:

  • Infeção inicial:
    • A sensibilização ocorre ao longo de 4 a 6 semanas.
    • Este atraso no início dos sintomas ocorre devido a uma reação de hipersensibilidade de tipo tardio.
  • Reinfestação: ocorre se o doente já estiver sensibilizado, portanto o prurido inicia-se dentro de 1-3 dias.

Apresentação Clínica

Características principais

  • Prurido noturno grave
  • Distribuição característica de erupções cutâneas
  • Áreas frequentemente envolvidas:
    • Pregas interdigitais
    • Face flexora dos pulsos
    • Pregas axilares
    • Face extensora dos cotovelos e joelhos
    • Órgãos genitais masculinos
    • Pele periarolar (especialmente em mulheres)
    • Pele periumbilical
    • Cintura
    • Regiões inferiores das nádegas e coxas adjacentes
    • Regiões laterais e posteriores dos pés
  • Áreas normalmente poupadas na escabiose clássica: cabeça (exceto em crianças pequenas) e costas
  • Coçar pode resultar em:
    • Escoriações
    • Crostas
    • Eczema
    • As sobreinfeções bacterianas da pele podem ocorrer como complicação.
Distribution of scabies

Distribuição da escabiose

Imagem por Lecturio.

Escabiose clássica

  • Prurido, geralmente com agravamento à noite.
    • Reação de hipersensibilidade tardia aos ácaros e a fezes e ovos dos ácaros
    • Na infestação primária, os sintomas começam em 3-6 semanas.
    • Em indivíduos previamente infetados, os sintomas começam em 1-3 dias.
  • Achados cutâneos:
    • Múltiplas pápulas pequenas e eritematosas que apresentam escoriações frequentemente
    • A distribuição está raramente localizada a uma única área.
    • As tocas (2-15 mm; linhas finas, cinzentas ou castanhas) não são frequentemente visíveis devido a escoriações ou a infeção secundária.
    • Também podem estar presentes pápulas pequenas, vesículas, pústulas e, raramente, bolhas.
  • Escabiose nodular:
    • Uma manifestação menos comum da escabiose clássica
    • Apresenta-se com pápulas firmes, eritematosas e pruriginosas com diâmetro 5–6 mm
    • Locais mais comuns incluem: pregas axilares, virilhas, genitália e região nadegueira
    • Pode representar uma reação de hipersensibilidade focalmente aumentada

Escabiose crostosa

  • Também chamada escabiose crustosa ou escabiose norueguesa:
    • Ocorre em condições que comprometem a imunidade celular (SIDA, terapêutica citostática, leucemia) e com glucocorticoides tópicos a longo prazo; também observada em idosos e em doentes com síndrome de Down
    • Infestação maciça de ácaros
    • Placas eritematosas mal definidas que desenvolvem escamas proeminentes de forma rápida
    • As escamas podem tornar-se verrucosas; também podem aparecer crostas e fissuras..
    • Ocorre mais proeminentemente no escalpe, nas mãos e nos pés 
    • Muitas vezes as unhas são espessadas, descoloradas e distróficas.
  • O prurido pode ser ligeiro ou ausente.

Diagnóstico

O diagnóstico é confirmado através da deteção dos ácaros da escabiose, ovos ou matéria fecal (cíbalas) através do exame microscópico. No entanto, o diagnóstico pode ser feito clinicamente, baseado na história clínica e nos achados do exame físico.

  • História clínica e exame objetivo
    • Prurido generalizado, com agravamento à noite e poupa a cabeça e as costas.
    • Lesões pruriginosas características e sua distribuição
    • Outros membros do agregado familiar ou contactos sexuais com sintomas semelhantes
  • Preparações para observação ao microscópio
    • Raspagem: Aplicar óleo mineral na pele e raspar vigorosamente a superfície com uma lâmina de bisturi número 15. Adicionar hidróxido de potássio (KOH) se apresentar escabiose crostosa, e depois observar ao microscópio.
    • Teste da fita adesiva: Utilizar fita transparente forte (fita para empacotar), remover rapidamente e depois aplicar numa lâmina e observar ao microscópio.
    • Na escabiose clássica há uma contagem baixa de ácaros, pelo que uma preparação negativa não exclui a infeção. Sensibilidade de preparações de escabiose: 40%–90%; especificidade: 100%
  • Teste de tinta nas cavidades:
    • Aplica-se tinta azul ou preta numa lesão suspeita.
    • Utiliza-se álcool para remover a tinta de superfície.
    • Uma linha característica em ziguezague que atravessa e se afasta da lesão indica uma toca de ácaro.
  • Exame dermoscópico:
    • Sinal da asa delta: uma forma triangular escura que representa a cabeça do ácaro dentro de uma toca.
    • É menos específico do que os preparados para a escabiose.
  • Exames laboratoriais: Os exames laboratoriais sanguíneos não estão indicados. No entanto, tem sido relatada eosinofilia.

Ocasionalmente, a escabiose pode ser diagnosticada erradamente como dermatite atópica. Isto acontece frequentemente devido ao aparecimento das pápulas eritematosas. Os pacientes que forem mal diagnosticados terão alívio inicial dos sintomas com glicocorticoides tópicos; no entanto, este tratamento não tratará a causa subjacente (isto é, a infestação por ácaros).

Foto de perto de toca da escabiose

Foto de perto de uma toca de escabiose. A grande mancha escamosa à esquerda é devido aos arranhões. O ácaro da escabiose viajou em direção ao canto superior direito e pode ser visto no final da toca.

Imagem: “Close-up photo of a scabies burrow” por Michael Geary. Licença: Public Domain

Tratamento

Abordagem geral

Os 2 pilares de um tratamento de sucesso na escabiose:

  • Medidas higiénicas
  • Medicação e adesão terapêutica

Medidas de higiene

Descontaminar leitos, toalhas e roupa via:

  • Lavagem em água quente
  • Lavagem a seco
  • Selar num saco de plástico durante ≥ 72 horas

Medicação

  • Tratamento de primeira linha em adultos:
    • Escabiose clássica: permetrina tópica 5%
    • Escabiose crostosa: permetrina tópica a 5% e ivermectina oral
  • Tratamento de primeira linha em crianças: Administração de permetrina tópica e antibioterapia (se as lesões secundárias da escabiose ficarem infetadas)
  • A segunda aplicação de permetrina 1-2 semanas depois pode ser necessária para eliminar os ácaros.
  • Os nódulos que persistem após a erradicação dos ácaros podem ser tratados com corticosteroides potentes tópicos ou injeções intralesionais de corticosteroides.
  • Prurido
    • Pode aumentar após a introdução de um agente escabicida.
    • Os anti-histamínicos orais como o cloridrato de hidroxizina ou a difenidramina ajudam no prurido severo.

Prevenção

  • Mudar e lavar roupa, roupa de cama e toalhas diariamente
  • Aplicação de permetrina tópica nos contactos familiares e pessoais próximos, incluindo coabitantes ou pessoas com contacto prolongado de pele com pele nas 6 semanas anteriores.
  • Limpeza e aspiração minuciosa dos quartos utilizados pelo(s) indivíduo(s) afetado(s)
  • Aqueles com escabiose clássica podem regressar à escola ou ao trabalho após fazer o tratamento adequado.

Complicações

  • Infeções bacterianas secundárias da pele, incluindo impetigo, ectima e furunculose
  • Questões psicológicas, incluindo constrangimento e ilusão de parasitose

Diagnóstico Diferencial

  • Dermatite atópica: às vezes chamada de eczema alérgico; doença cutânea inflamatória pruriginosa crónica que ocorre mais frequentemetne em crianças, mas também em adultos. Muitas vezes associado a IgE elevado e a uma história pessoal ou familiar de atopia
  • Picadas de insetos: É importante excluir as picadas de insetos como etiologia subjacente. Ter em consideração a história clínica e o exame físico do paciente, o início dos sintomas e a afeção de contactos próximo.
  • Dermatite herpetiforme: erupção cutânea autoimune associada à sensibilidade ao glúten. Os pacientes afetados desenvolvem tipicamente pápulas e vesículas inflamatórias intensamente pruriginosas nos antebraços, joelhos, couro cabeludo ou nádegas. A biopsia de pele apresenta depósitos granulares de IgA nas papilas dérmicas.
  • Penfigoide bolhoso: distúrbio autoimune bulhoso, geralmente observado em adultos mais velhos. Associado a um pródromos de lesões cutâneas pruriginosas, semelhante à urticária, seguidas de bolhas tensas sobre uma base eritematosa urticária. A biópsia de pele mostra deposição linear de IgG e/ou C3 ao longo da membrana basal.

References

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  2. Flinders, D.C., De Schweinitz, P. (2004). Pediculosis and scabies. American Family Physician 69(2):341–348. https://www.aafp.org/afp/2004/0115/p341.html
  3. Kiraly, B., Pippit, K. (2019). Lice and scabies: treatment update. American Family Physician 99(10):635–642. https://www.aafp.org/afp/2019/0515/p635.html
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  6. Goldstein, B., Goldstein, A. (2021) Scabies: management. UpToDate. Retrieved May 31, 2022, from https://www.uptodate.com/contents/scabies-management
  7. Salavastru, C. M., Chosidow, O., Boffa, M. J., Janier, M., Tiplica, G. S. (2017). European guideline for the management of scabies. Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology 31(8):1248–1253. https://doi.org/10.1111/jdv.14351

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