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Doenças das Glândulas Salivares

As doenças das glândulas salivares incluem sialodenose, sialoadenite, sialolitíase e neoplasias. A sialoadenose é uma hipertrofia crónica, bilateral, não inflamatória das glândulas salivares. A sialoadenite resulta da inflamação ou infeção das glândulas, e a sialolitíase resulta da formação de cálculos nas glândulas ou ductos. As neoplasias da glândula salivar podem ser benignas ou malignas. Todas estas patologias manifestam-se através do aumento da glândula salivar. Existem outros fatores clínicos que ajudam a diferenciar essas patologias, tais como a simetria, presença de dor, patologias associadas e fatores de risco e crescimento ou estabilidade. O diagnóstico é muitas vezes clínico, embora possa ser necessário estudo de imagem ou biópsia. O tratamento varia de acordo com a patologia.

Última atualização: May 4, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Descrição Geral

Principais glândulas salivares

  • Glândulas parótidas
  • Glândulas Submandibulares
  • Glândulas sublinguais
Localização das principais glândulas salivares e dos seus ductos

Diagrama que mostra a localização das principais glândulas salivares e os seus ductos

Imagem: “2408 Salivary Glands” por OpenStax College. Licença: CC BY 3.0

Fisiologia

As principais glândulas salivares produzem > 95% da saliva de uma pessoa.

  • Segregado pelas células acinares
  • Concentração de iões modificadas pelas células ductais
  • Composição:
    • 99,5% de água
    • Eletrólitos
    • Muco
    • Glicoproteínas
    • Enzimas
    • Compostos antibacterianos
  • Função:
    • Lubrifica os alimentos para ajudar no processo de deglutição
    • Inicia a digestão de hidrocarbonatos e lípidos
    • Defesa imunológica contra micróbios na cavidade oral
    • Protege a mucosa oral e os dentes
    • Ajuda no sentido do paladar
Movimento iónico entre as células acinares e as células ductais

Diagrama que demonstra as diferenças no movimento iónico entre as células acinares (responsáveis pela secreção) e as células ductais (responsáveis pela reabsorção)

Imagem de Lecturio.

Terminologia para as condições patológicas

Uma vez que sialoadenose, sialoadenite e sialoitíase são nomes semelhantes, a compreensão do sufixo pode ajudar a diferenciar o processo subjacente.

  • “-ose”: aumento ou condição patológica
  • “-ite”: inflamação ou infecção
  • “-litíase”: formação de cálculos

Vídeos recomendados

Sialoadenose

Definição

A sialoadenose (sialose) é uma hipertrofia crónica, benigna e não inflamatória das glândulas salivares.

Epidemiologia

  • Causa mais comum de tumefação das glândulas salivares
  • Incidência e prevalência são desconhecidas
  • Homens = mulheres

Etiologia

  • Induzido por drogas:
    • Ácido valpróico
    • Tiouracilo
    • Anti-hipertensivos
  • Nutricional:
    • Carências vitamínicas e desnutrição
    • Bulimia
  • Patologia endócrina/metabólica:
    • Diabetes
    • Hipotiroidismo
    • Obesidade
  • Outras patologias médicas:
    • Síndrome de Sjögren
    • Cirrose
    • Alcoolismo

Fisiopatologia

  • A causa da hipertrofia é desconhecida.
  • Processo potencial: acumulação de grânulos secretores em células acinares → aumento acinar → infiltração de gordura nas glândulas salivares

Apresentação clínica

Os pacientes apresentam-se com glândulas salivares aumentadas com as seguintes características:

  • Frequentemente bilateral
  • Simétrico
  • Sem flutuação de tamanho ou aumento progressivo
  • Consistência mole
  • Indolor
Tumefação da glândula parótida bilateral devido à sialadenose

Tumefação da glândula parótida bilateral devido à sialadenose (sialose)

Imagem: “Buccal alterations in diabetes mellitus” por Negrato CA, Tarzia O. License: CC BY 2.0

Diagnóstico

  • Suspeita-se com base na história e no exame físico
  • Ecografia:
    • Aumento difuso das glândulas salivares
    • Outras anomalias devem ser excluídas

Abordagem

O tratamento passa por abordar a patologia médica subjacente.

Sialoadenite

Definição

Sialoadenite é uma inflamação ou infeção das glândulas salivares.

Epidemiologia

  • A incidência exata é desconhecida.
  • Sem predileção por raça ou sexo
  • Tende a ocorrer em pacientes mais velhos, cronicamente doentes e desidratados

Etiologia

  • Causas infecciosas (mais comuns):
    • Viral:
      • Papeira
      • Vírus Epstein-Barr
      • Parainfluenza
      • Adenovírus
      • Enterovirus
      • Parvovírus
      • HHV-6
    • Bacteriana:
      • Staphylococcus aureus
      • Streptococcus viridans
      • Haemophilus influenzae
      • Streptococcus pyogenes
      • Escherichia coli
  • Causas iatrogénicas:
    • Tratamento por radiação
    • Exposição a radioiodo ou contraste
  • Induzido por drogas:
    • Clozapina
    • Fenilbutazona
  • Parotidite recorrente juvenil

Fatores de risco

  • Idade > 50 anos
  • VIH
  • Xerostomia
  • Desidratação
  • Anorexia ou bulimia
  • Síndrome de Sjögren
  • Sialolitíase

Fisiopatologia

  • Bacteriana: obstrução ductal ou hiposecreção salivar → contaminação bacteriana ascendente → infeção secundária
  • Radiação ou induzida por iodo: inflamação ou dano ao parênquima glandular → edema agudo → pode ou não estar associado ao bloqueio ductal

Apresentação clínica

  • Tumefação aguda da glândula salivar:
    • Normalmente unilateral
    • A glândula parótida é a que está envolvida mais frequentemente (parotidite)
    • Dor e tumefação com as refeições
    • Firme e difusamente dolorosa
  • Eritema e edema sobrepostos
  • O exsudado purulento pode, por vezes, ser massajado a partir da abertura do ductos.
  • Febre e calafrios

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico. Pode-se realizar estudo se o diagnóstico for incerto ou para determinar uma etiologia:

  • Coloração de Gram e cultura de exsudado purulento da glândula (se possível)
  • PCR ou serologia para o vírus da papeira
  • Imagem com TC, ecografia ou ressonância magnética para identificar:
    • Cálculos no ducto
    • Abcesso
    • Inflamação da glândula

Abordagem

Medidas gerais:

  • Hidratação
  • Boa higiene oral
  • Compressas quentes
  • Massagem da glândula
  • Sialagogos (↑ fluxo salivar):
    • Pastilha elástica
    • Gotas de limão

Para infecção bacteriana:

  • Antibióticos iniciais:
    • Adquirido pela comunidade:
      • Ampicilina-sulbactam
      • Cefuroxima mais metronidazol
      • Nafcilina mais ceftriaxona (ou levofloxacina) mais metronidazol (ou clindamicina)
    • Adquirida no hospital ou imunodepremido: vancomicina mais qualquer uma das seguintes:
      • Cefepime mais metronidazol
      • Carbapenem
      • Piperacilina-tazobactam
  • Drenagem do abcesso

Sialolitíase

Definição

Sialolitíase é a formação de cálculos dentro das glândulas ou ductos salivares.

Epidemiologia

  • Incidência estimada: 0,3-1 em 10.000 pessoas
  • Homens > mulheres
  • Faixa etária: 30-60 anos
  • Cerca de 80% das pedras ocorrem nas glândulas submandibulares.

Etiologia

  • Estagnação do fluxo salivar:
    • Estenose anatómica do ducto
    • Inflamação
    • Desidratação
    • Anorexia
    • Alergias
    • Medicamentos (por exemplo, anticolinérgicos)
  • ↑ Cálcio salivar

Fisiopatologia

  • A patogénese da formação de cálculos não é bem compreendida.
  • Cálculos podem obstruir condutas → ↑ pressão dentro da glândula → dor e tumefação

Apresentação clínica

  • Tumefação glandular
  • Pode ou não ter dor e desconforto associados
  • A dor é pior com a alimentação.
  • A palpação digital pode revelar a presença de cálculos.
Cálculo da glândula salivar (sialolitíase)

Cálculo da glândula salivar (sialolitíase)

Imagem: “Salivary gland stone removed” de Peternickson. Licença: CC0 1.0

Diagnóstico

  • Normalmente é um diagnóstico clínico
  • A presença de uma pedra pode ser confirmada com:
    • Raio-x
    • Ecografia
    • TC
    • Sialografia (injeta-se corante radiopaco no ducto para visualização na radiografia)
Raio-x demonstrando uma opacidade maciça consistente com sialolitíase

Raio-X demonstrando uma opacidade maciça (seta) consistente com sialolitíase

Imagem: “Massive Submandibular Sialolith: Complete Radiographic Registration and Biochemical Analysis through X-Ray Diffraction” por Franco, A., et al. Licença: CC BY 3.0

Abordagem

  • Abordagem conservadora:
    • Hidratação
    • Compressas quentes
    • Massagem da glândula
    • Analgesia com AINE’s
    • Sialogogos
  • As pedras próximas ao orifício do ducto podem ser removidas com expressão manual.
  • Outros métodos:
    • Sialoendoscopia
    • Litotricia extracorporal por ondas de choque
    • Litotricia por laser
    • Recuperação com cestos
  • Se não for possível remover a obstrução, pode ser necessária a excisão cirúrgica.

Neoplasias da Glândula Salivar

Epidemiologia

  • Os tumores das glândulas salivares são raros.
  • Incidência: aproximadamente 5,5 casos por 100.000 pessoas por ano nos Estados Unidos
  • Representam 6%–8% de todos os tumores da cabeça e pescoço
  • Idade:
    • Benigno: > 40 anos de idade
    • Maligno: > 60 anos de idade
  • Sexo:
    • Benigno: mulheres > homens
    • Maligno: homens = mulheres
  • A glândula parótida é o local mais comum (80%–85% dos casos).

Classificação

  • Neoplasias benignas (maioria):
    • Adenoma pleomórfico (mais comum)
    • Tumor de Warthin (também conhecido como cistadenoma linfomatoso papilar)
    • Mioepitelioma
    • Linfadenoma
    • Adenoma sebáceo
    • Adenoma de células basais
    • Adenoma canalicular
    • Oncocitoma
    • Cistadenoma
    • Sialoadenoma papilífero
    • Papiloma Ductal
  • Neoplasias malignas:
    • Carcinoma Mucoepidermoide (mais comum)
    • Carcinoma adenoide cístico
    • Carcinoma de células acinares
    • Carcinoma ex adenoma pleomórfico (transformação maligna do adenoma pleomórfico)
    • Adenocarcinoma polimórfico de baixo grau
    • Carcinoma do ducto salivar
    • Carcinoma espinocelular primário

Fatores de risco

Os factores de risco para tumores salivares malignos são os seguintes:

  • Exposição a radiação ionizante
  • Exposições ambientais:
    • Fabricação de Borracha
    • Compostos de níquel
    • Pessoal de salões de cabeleireiro/esteticista
  • Infecções virais:
    • Vírus Epstein-Barr
    • VIH

Apresentação clínica

  • Apresentação baseada nas glândulas envolvidas:
    • Glândulas salivares principais: massa ou tumefação indolor
    • Glândulas salivares minor:
      • Massa submucosa
      • Ulceração Mucosa
  • Os tumores malignos caracterizam-se por:
    • Crescimento rápido
    • Firme
    • Nodular
    • Pode estar aderente ao tecido adjacente
    • Envolvimento dos nervos faciais:
      • Dor persistente
      • Assimetria da mímica facial
      • Paralisia facial total
    • Associados a linfadenopatia cervical
  • Dependendo da localização, as neoplasias podem levar a:
    • Disfagia ou odinofagia
    • Obstrução nasal ou das vias respiratórias
    • Rouquidão

Diagnóstico

  • A biópsia por aspiração de agulha fina estabelece o diagnóstico.
  • Ecografia:
    • Normalmente um teste inicial para distinguir as características da massa
    • Útil na orientação da biópsia
  • A TC ou a RM podem ser usadas para definir a extensão do tumor:
    • Avaliar a localização
    • Detectar invasão local
    • Identificar doença metastática
A tc de tecidos moles do pescoço demonstra uma massa realçada

A TC de tecidos moles do pescoço demonstra uma massa realçada (seta branca) dentro da glândula parótida esquerda. Não se observam gânglios linfáticos aumentados ou coleções anormais de líquidos.

Imagem: “An unusual initial presentation of mantle cell lymphoma arising from the lymphoid stroma of warthin tumor” por Arcega RS, Feinstein AJ, Bhuta S, Blackwell KE, Rao NP, Pullarkat ST. Licença: CC BY 4.0

Abordagem

  • Excisão cirúrgica completa:
    • Tratamento de escolha para todas as neoplasias das glândulas salivares
    • Complicações:
      • Lesão do nervo facial (complicação precoce mais comum)
      • Síndrome de Frey: sudação e ruborização gustativa devido à regeneração anormal das fibras nervosas parassimpáticas
  • A radioterapia adjuvante pode ser usada para neoplasias malignas.

Diagnóstico Diferencial

  • Cisto de fenda branquial: defeito congénito resultante da obliteração incompleta das fendas branquiais durante o desenvolvimento embrionário. O cisto branquial pode causar uma pequena massa indolor no pescoço que pode ficar infetada, resultando em dor e inflamação. O diagnóstico é tipicamente clínico, e pode-se considerar a excisão.
  • Linfadenopatia: aumento palpável dos gânglios linfáticos, que pode resultar de uma série de etiologias, incluindo infeção e malignidade. Se houver a suspeita de malignidade ou achados preocupantes ao exame físico, deve ser feita uma avaliação laboratorial, esfregaço de sangue periférico, biópsia ou pesquisa de infecção. O tratamento e dirigido à etiologia subjacente.
  • Abcesso dentário: infeção odontogénica que surge frequentemente devido a cáries dentárias. Pacientes com abcesso dentário podem ter dores de dentes graves, eritema facial e febre. O diagnóstico é feito com exame físico e imagem. O tratamento inclui a drenagem do abcesso, antibióticos e a remoção do dente infetado.
  • Celulite: infeção comum causada por bactérias que afetam a derme e o tecido subcutâneo da pele. A celulite pode ocorrer em qualquer lugar, incluindo o rosto ou o pescoço. A infeção apresenta-se como uma área eritematosa, edemaciada, quente e dolorosa. O diagnóstico é geralmente clínico, e o tratamento envolve antibióticos.
  • Linfoma de Hodgkin: malignidade dos linfócitos B com origem nos nódulos linfáticos. A doença manifesta-se por linfadenopatia (mais frequentemente envolvendo o pescoço), suores noturnos, perda de peso, febre e, potencialmente, esplenomegalia e hepatomegalia. Os testes diagnósticos incluem a análise histológica dos gânglios linfáticos, análises de sangue e imagem. O tratamento inclui quimioterapia e radioterapia.

Referências

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