Disfunção Sexual Feminina

A disfunção sexual feminina representa uma variedade de distúrbios em qualquer parte do ciclo de resposta sexual, incluindo distúrbios de desejo, de excitação, orgásmicos e de dor. O distúrbio pode resultar de stress e conflitos interpessoais, bem como de doença física ou uso de medicamentos/substâncias. Estes distúrbios causam uma angústia significativa para a paciente e respetivo parceiro. As opções de tratamento incluem psicoterapia, fisioterapia e farmacoterapia.

Última atualização: Feb 16, 2025

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Ciclo de Resposta Sexual Feminina

A disfunção sexual (em homens ou mulheres) surge de problemas que envolvem qualquer fase do ciclo de resposta sexual.

O ciclo de resposta sexual feminina não é linear e é mais complexo do que a resposta sexual masculina, com fatores adicionais, como a intimidade emocional.

Modelo biopsicossocial da sexualidade feminina (4 fatores)

  1. Biológico (saúde física, neurobiologia, função endócrina)
  2. Psicológico (ansiedade de desempenho, depressão)
  3. Sociocultural (educação e normas culturais)
  4. Interpessoal (qualidade do relacionamento, stressores)
Modelo de sexualidade feminina

Um modelo de sexualidade feminina. Um problema que, consistentemente, prejudica a excitação sexual ou o funcionamento em qualquer ponto deste ciclo pode causar disfunção sexual.

Imagem de Lecturio.

Estruturas cerebrais envolvidas

  • Hipocampo
  • Hipotálamo
  • Sistema límbico
  • Área pré-ótica medial

Neurotransmissores envolvidos

  • Acetilcolina
  • Dopamina
  • Epinefrina/norepinefrina
  • Óxido nítrico
  • Opioides endógenos (endorfinas)
  • Serotonina
  • Peptídeo intestinal vasoativo

Vias neuronais envolvidas

  • Estimulação do clítoris → sinais transmitidos para a medula espinhal através do nervo pudendo
  • Estimulação da vagina → os sinais são transmitidos para a medula espinhal através do nervo pélvico, bem como o nvervo pudendo ehipogástrico
  • Mediador primário: sistema reflexo da medula espinhal (sob controlo inibitório do tronco cerebral, especialmente o núcleo paragigantocelular(na medula ventral))
  • A ativação do sistema nervoso simpático no sexo feminino facilita a resposta sexual (ao contrário do sexo masculino).

Efeitos hormonais

  • Sob controlo de estrogénios e andrógenos
  • A diminuição do desejo e da excitação estão relacionados com uma diminuição do estradiol.
  • Os níveis de testosterona podem estar relacionados com o nível de libido.

Comparação entre as fases de resposta sexual masculina/feminina

Estadio da resposta sexual Mudanças no sexo feminino Mudanças no sexo masculino Mudanças em ambos
Desejo
  • Motivação ou interesse na actividade sexual
  • Expresso por fantasias sexuais
Emoção/Excitação
  • Começa com a fantasia ou com o contacto físico
  • Lubrificação vaginal
  • Ereção do clitóris
  • Edema labial
  • Elevação do útero na pélvis (“tenting”)
  • Começa com a fantasia ou com o contacto físico
  • Ereção e aumento testicular
  • Ruborização
  • Ereção dos mamilos
  • Alterações hemodinâmicas (aumento do ritmo respiratório, pulso e pressão sanguínea)
Orgasmo Contrações vaginais e uterinas
  • Compressão do saco escrotal
  • Secreção de algumas gotas de líquido seminal
  • Ejaculação
  • Expressões faciais
  • Libertação de tensão
  • Ligeira turvação da consciência
  • Contrações involuntárias do esfíncter anal
  • Aumento agudo da pressão arterial e do pulso
Resolução As mulheres têm pouco ou nenhum período refratário. Os homens têm um período refratário que dura de minutos a horas, durante o qual não conseguem repetir o orgasmo.
  • Os músculos relaxam.
  • O estado cardiovascular volta ao estado basal.
  • Os órgãos sexuais voltam ao estado basal.

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Etiologia

Doença física

  • Doenças cardiovasculares
  • Doenças crónicas (diabetes mellitus, doenças autoimunes)
  • Deficiência neurológica
  • Malignidades
  • Anomalias urológicas ou ginecológicas
  • Deficiência de estrogénios (levando à secura vaginal; visto em pacientes em menopausa ou com insuficiência ovárica prematura)
  • Outras condições que afetam direta ou indiretamente a função sexual:
    • Amenorreia
    • Bulimia
    • Puerpério

Medicamentos ou outras formas de terapêutica

  • Medicamentos psiquiátricos (antipsicóticos, antidepressivos, estabilizadores do humor, etc.)
  • Medicamentos cardiovasculares (beta-bloqueantes, digoxina, bloqueadores dos canais de cálcio)
  • Medicamentos anti-histamínicos e anticolinérgicos
  • Contracetivos orais
  • Antiandrogénicos
  • Anticonvulsivantes

Fatores psicológicos e culturais

  • Stress e conflitos interpessoais (por exemplo, infidelidade)
  • Ansiedade
  • Perturbação depressiva major (PDM)
  • Abuso de substâncias
  • Antecedentes pessoais de abuso (tanto sexual como físico)

Diagnóstico

Excluir causas anatómicas/fisiológicas

Antes de se ponderar como diagnóstico um distúrbio psiquiátrico, devem ser excluídas as causas anatómicas ou fisiológicas através de análises laboratoriais ou imagiologia.

  • Avaliação laboratorial:
    • Pedir um hemograma completo para excluir anemia.
    • Dosear as várias hormonas envolvidas direta ou indiretamente na função sexual (hormona estimulante da tiroide (TSH), prolactina, dehidroepiandrosterona (DHEA), estrogénio, progesterona e níveis de testosterona) para exclusão de distúrbios da tiroide, além de deficiências hormonais e hiperprolactinemia.
    • Perfil lipídico (para exclusão de hiperlipidemia e doenças vasculares)
    • Provas de função hepática (para descartar disfunção hepática)
  • Exame vaginal com esfregaço cervical e uretral, e avaliação da sensibilidade ao toque cervical (para descartar doença inflamatória pélvica)
  • Ecografia transvaginal:
    • Biotesiometria: avaliação do estado neurológico pélvico
    • Perineometria: avaliação da musculatura do pavimento pélvico
    • Fotopletismografia vaginal: avaliação do fluxo sanguíneo genital
    • Vulvoscopia: avaliação da vulva e áreas circundantes

Critérios de diagnóstico

O diagnóstico da disfunção sexual feminina e dos seus tipos é realizado por observação clínica com base nos sintomas apresentados, na sua gravidade e duração.

  • O diagnóstico da disfunção sexual feminina e dos seus tipos é feito por observação clínica com base nos sintomas apresentados, sua gravidade e duração.
  • As seguintes patologias devem ser excluídas:
    • Outros distúrbios psiquiátricos
    • Problemas na relação ou outros fatores de stress
    • Efeitos do abuso de medicação/substâncias
  • É importante notar que os distúrbios específicos da disfunção sexual feminina muitas vezes se sobrepõem e coexistem.
Tabela: Características diagnósticas dos distúrbios de disfunção sexual feminina
Distúrbio do interesse/excitação sexual feminina Distúrbio orgásmico feminino Distúrbio genitopélvico doloroso ou da penetração (anteriormente designado por dispareunia e vaginismo)
  • Falta ou redução de interesse sexual/exctiação
  • ↓ interesse ou pensamentos sobre a atividade sexual
  • Nenhuma iniciação de atividade sexual
  • ↓ resposta ou interesse na intimidade sexual com o parceiro
  • ↓ prazer sexual durante o ato sexual
  • ↓ sensação genital/não genital durante a atividade sexual
  • Atraso marcado ou ausência de orgasmo
  • Diminuição da intensidade do orgasmo
  • Dor durante a penetração vaginal
  • Medo ou ansiedade de sentir dor durante a relação sexual
  • Contração dos músculos do pavimento pélvico durante a tentativa de penetração vaginal

Tratamento

Modalidades de tratamento utilizadas para todas as disfunções sexuais femininas

  • Terapia sexual:
    • Utiliza o conceito de unidade conjugal, e não o de indivíduo.
    • Os casais reúnem-se com um terapeuta para identificar e discutir os seus problemas sexuais.
    • O terapeuta recomenda exercícios sexuais para o casal tentar em casa.
    • Mais útil quando nenhuma outra psicopatologia está envolvida
  • Terapia Cognitiva Comportamental (TCC):
    • Aborda a disfunção sexual como um comportamento mal-adaptativo aprendido
    • Provoca a ansiedade dos pacientes e ajuda-os a alcançar uma melhor resposta
  • Hipnose:
    • Mais frequentemente utilizado em conjunto com outras terapias
    • Mais útil se apresentar ansiedade
  • Psicoterapia psicodinâmica:
    • Terapia individual a longo prazo
    • Concentra-se em sentimentos, relacionamentos passados (incluindo familiares), medos, fantasias, sonhos e problemas interpessoais que possam estar a contribuir para o distúrbio sexual.

Tratamentos específicos de distúrbios

  • Distúrbio de interesse sexual feminino/excitação:
    • As doses baixas de testosterona podem melhorar a libido nas mulheres, especialmente na pós-menopausa.
    • A reposição vaginal com baixa dose de estrogéniospode melhorar a secura e atrofia vaginal em mulheres na pós-menopausa.
    • Novos medicamentos:
      • Bremelanotide:
        • Agonista dos recetores de melanocortina
        • Administração subcutânea antes da atividade sexual prevista
      • Flibanserin:
        • Agonista do recetor 5-HT 1A e antagonista do recetor 5-HT 2A
        • Aumenta o desejo sexual
        • Pode causar hipotensão grave e síncope
  • Distúrbio orgásmico feminino:
    • Masturbação dirigida
    • Uso de fantasias e vibradores
  • Distúrbio genitopélvico doloroso ou da penetração:
    • Reabilitação do pavimento pélvico (dessensibilização gradual para conseguir ter relações sexuais)
      • Iniciar com técnicas de relaxamento muscular
      • Progredir para a massagem erótica
      • Finalmente, alcançar a relação sexual
    • Dilatadores de Hegar:
      • Instrumentos usados como adjuvantes na reabilitação do pavimento pélvico
      • Facilitam a ligação cérebro-corpo para diminuir a ansiedade e a dor em mulheres com síndromes de dor sexual
      • Usados em mulheres na pós-menopausa, sobreviventes de cancro e em distúrbios do pavimento pélvico

Diagnóstico Diferencial

As seguintes condições são diagnósticos diferenciais de disfunção sexual feminina:

  • Síndrome genitourinária da menopausa: Esta síndrome ocorre na menopausa devido à deficiência de estrogénio e provoca secura vulvar ou vaginal, prurido e dor nas relações sexuais. Está associada a alterações urinárias (frequência, urgência, incontinência). Os achados ao exame físico incluem entrada vaginal estreita, diminuição da elasticidade e palidez da vulva. O tratamento consiste principalmente em lubrificantes vaginais e estrogénio vaginal tópico.
  • Perturbação depressiva major (PDM): uma perturbação de humor marcada por humor depressivo, perturbação do sono, anedonia, sentimentos de culpa ou inutilidade, cansaço, concentração diminuída, mudança de peso ou apetite, lentificação ou agitação psicomotora e ideação suicida. Estes sintomas duram por ≥ 2 semanas. A diminuição da libido e da disfunção sexual pode ser um sinal de depressão subjacente.

Referências

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