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Craniofaringioma

Os craniofaringiomas são tumores intracranianos raros de epitélio escamoso, que apresentam uma estrutura sólida e/ou quística e que surgem dos remanescentes da bolsa de Rathke na região suprasselar. Os craniofaringiomas são tumores histologicamente benignos, mas têm tendência a invadir as estruturas adjacentes; assim, devem ser tratados como malignidades de baixo grau. Histologicamente, existem 2 tipos de tumores: o adamantinomatoso, mais comum em crianças; e o papilar, que surge mais frequentemente nos adultos. Ambos os tipos podem apresentar-se de forma variada, dependendo da localização e da extensão. Os sintomas incluem dores de cabeça, náuseas, vómitos, distúrbios visuais, disfunções endócrinas e problemas comportamentais. O diagnóstico é feito através de exames de imagem e histologia. Normalmente, o tratamento envolve excisão cirúrgica e radioterapia.

Última atualização: Jul 5, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Descrição Geral

Definição

Os craniofaringiomas são tumores raros de epitélio escamoso que se apresentam com uma estrutura sólida e/ou quística e que surgem dos restos da bolsa de Rathke ao longo do talo hipofisário, em linha desde a nasofaringe até ao diencéfalo (na região suprasselar).

Os craniofaringiomas são histologicamente benignos, mas têm um comportamento maligno visto que tendem a invadir as estruturas adjacentes e podem diminuir a esperança de vida. Assim sendo, e apesar da sua aparência histológica benigna, são considerados neoplasias de baixo grau.

Classificação dos tumores do sistema nervoso

Tabela: Classificação dos tumores do sistema nervoso
Categorias Tumores específicos
Tumores neuroepiteliais no SNC
  • Astrocitomas, incluindo glioblastoma multiforme
  • Oligodendroglioma
  • Ependimoma e tumores do plexo coroide
  • Meduloblastomas (tumores embrionários)
Tumores meníngeos
  • Meningiomas
  • Hemangioblastomas
Tumores da região selar
  • Craniofaringioma
  • Adenoma da hipófise
  • Pinealoma
Linfoma primário do SNC Linfoma primário do SNC
Metástases cerebrais (5x mais comum do que os tumores cerebrais primários) Que resultam frequentemente de:
  • Neoplasia do pulmão, da mama e do carcinoma de células renais
  • Melanoma
Tumores Periféricos
  • Schwannomas, incluindo o neurinoma do acústico
  • Neuroblastoma

Epidemiologia

  • Incidência: raros
    • Cerca de 2 casos por 1.000.000 de pessoas por ano
    • Constituem 1%–3% de todos os tumores cerebrais primários
  • Raça/etnia: mais frequente nos doentes com ascendência japonesa e africana
  • Género: incidência semelhante em homens e mulheres
  • Idade e subtipo: Observa-se uma distribuição etária bimodal.
    • Crianças:
      • O pico do diagnóstico é entre os 5-14 anos
      • Prevalência do subtipo adamantinomatoso
    • Adultos:
      • Pico do diagnóstico aos 50-75 anos
      • Mais frequente o subtipo papilar
  • Alta taxa de recidiva (50%)
  • Alta taxa de morbilidade
    • Cefaleias
    • Sintomas visuais
    • Distúrbios hormonais
    • Obesidade
    • Perturbações da saúde mental

Classificação

Existem 2 tipos primários de craniofaringiomas:

  • Do tipo adamantinomatoso:
    • Surgem a partir das células embrionárias do ducto craniofaríngeo
    • Estruturas sólidas ou quísticas preenchidas com um fluido castanho-escuro ou preto
    • A calcificação do tumor é comum.
  • Do tipo papilar:
    • Surgem das células da porção anterior da hipófise
    • Estruturas bem circunscritas, sólidas ou quísticas e preenchidas com um líquido amarelo viscoso.
    • A calcificação do tumor é rara.

Etiologia e Fisiopatologia

Os craniofaringiomas são tumores epiteliais escamosos que surgem ao longo do talo hipofisário na região suprasselar, junto ao quiasma ótico.

Etiologia

Duas hipóteses principais têm sido propostas para explicar a etiologia dos craniofaringiomas:

  • Teoria embriónica:
    • Postula que as células embrionárias da bolsa de Rathke e os restos do ducto craniofaríngeo são o local de origem
    • Etiologia provável no tipo adamantinomatoso , o mais comum em crianças
  • Teoria metaplásica:
    • Postula que as células escamosas residuais e maduras da hipófise anterior sofrem metaplasia.
    • A etiologia provável no tipo papilar, comum nos adultos

Mutações genéticas

  • Tipo adamantinomatoso: Mutações do gene CTNNB1 → mutações na proteína de β-catenina
    • Um fator de transcrição na via de sinalização Wnt
    • Envolvida na regulação do desenvolvimento embrionário, proliferação celular e adesão celular
  • Tipo papilar: ativação da mutação no oncogene BRAF V600E inibição da apoptose/ aumento da sobrevivência celular

Crescimento e extensão tumorais

  • Surgem no talo hipofisário na região suprasselar
  • Projetam-se no hipotálamo
  • Podem estender-se horizontalmente ao longo do trajeto com menor resistência, que pode ser anteriormente, posteriormente e/ou lateralmente:
    • Extensão anterior:
      • Cisterna pré-quiasmática
      • Espaços subfrontais
    • Extensão posterior:
      • Cisterna de pré-pontina
      • Cisterna interpeduncular
      • Ângulo ponto-cerebelar
      • 3º ventrículo
      • Fossa posterior
      • Foramen magnum
    • Extensão lateral: em direção aos espaços subtemporais
  • A apresentação clínica depende das áreas cerebrais afetadas. As áreas comummente afetadas incluem:
    • Hipófise anterior (e hormonas)
    • Quiasma ótico e/ou nervos óticos
    • 3º ventrículo (levando à hidrocefalia obstrutiva)

Apresentação Clínica

Os craniofaringiomas são tumores de crescimento lento; portanto, os sintomas surgem de forma insidiosa, geralmente após o tumor atingir um diâmetro > 3 cm. O início dos sintomas ocorre geralmente 1-2 anos após o desenvolvimento do tumor.

Sintomas gerais

  • Dor de cabeça:
    • Apresentação mais comum, presente em 50%‒80% dos casos
    • A apresentação é progressiva, monótona, contínua e posicional.
  • Letargia
  • Náuseas e/ou vómitos

Distúrbios visuais

Distúrbios visuais ocorrem em cerca de 40%‒65% dos doentes e incluem:

  • Hemianopsia bitemporal
  • Diplopia
  • Diminuição da acuidade visual
  • Constrição do campo visual

Disfunção endócrina

Algum grau de disfunção endócrina é comum nos craniofaringiomas sendo observada em cerca de 65%-90% dos doentes. Podem surgir défices nos níveis da hormona de crescimento (GH), das gonadotropinas, da hormona estimulante da tiroide (TSH) e da adrenocorticotrópica (ACTH).

  • Défices de GH:
    • Em doentes jovens: falha no crescimento e atraso da puberdade
    • Em adultos: obesidade, fadiga
  • Hipotiroidismo (↓ TSH em cerca de 40% dos doentes):
    • Ganho de peso/obesidade
    • Intolerância ao frio
    • Obstipação
    • Fadiga
    • Amenorreia nas mulheres
    • Impotência nos homens
  • Disfunção adrenal (↓ ACTH em cerca de 25% dos doentes):
    • Hipotensão ortostática
    • Hipoglicémia
    • Hipercalémia
    • Fadiga
    • Arritmias cardíacas
  • Diabetes insipidus (↓ hormona antidiurética em cerca de 20% dos doentes):
    • Polidipsia
    • Poliúria
  • Pan-hipopituitarismo: leva a uma combinação das manifestações clínicas detalhadas acima

Disfunções cognitivas e problemas comportamentais

As disfunções cognitivas e os problemas comportamentais podem dever-se a impactos no tálamo, hipotálamo e lobos frontais.

  • Hiperfagia
  • Anorexia
  • Retardamento psicomotor
  • Imaturidade emocional
  • Apatia
  • Défices de memória a curto prazo
  • Incontinência

Sinais de aumento da pressão intracraniana (PIC)

O aumento da pressão intracraniana pode ocorrer devido à hidrocefalia obstrutiva e os sinais/sintomas podem incluir:

  • Papiledema
  • Diplopia
  • Náuseas/vómitos
  • Cefaleias

Diagnóstico

O diagnóstico dos craniofaringiomas deve ser multidisciplinar, com a contribuição de especialistas em endocrinologia, neurologia, neuroftalmologia e neurocirurgia.

Imagiologia

O diagnóstico dos craniofaringiomas faz-se através do uso de técnicas de imagem, especificamente RM e TAC, que revelam quistos na região selar /suprasselar (nota: a calcificação é rara no tipo papilar). Os tumores podem ter componentes sólidos e quísticos.

  • Ressonância magnética com e sem contraste:
    • Técninca gold standard
    • Oferece melhor informação acerca da localização do tumor e da sua associação a estruturas envolventes
    • Os tumores realçam com contraste
    • Extensão:
      • Componentes quísticos tipicamente estendem-se anterior e/ou lateralmente e podem envolver componentes sólidos.
      • Componentes sólidos tipicamente estendem-se posterior e/ou lateralmente.
    • Imagens com ponderação T1:
      • Os quistos podem ter uma aparência variável dependendo do conteúdo proteico, hemáticou e/ou colesterol.
      • Os componentes sólidos aparecem isointensos
    • Imagens com ponderação T2:
      • Os quistos são hiperintensos.
      • As partes sólidas são heterogéneas e de isointensas a hipointensas.
  • TAC:
    • O melhor exame para detetar calcificações, pois são facilmente visíveis na TAC.
    • Os tumores realçam com o contraste.
    • Os quistos surgem como lesões hipointensas (assemelham-se à densidade do líquido do LCR).
    • As estruturas sólidas são isointensas.
Imagem de ressonância magnética de craniofaringioma

Ressonância magnética de craniofaringioma

Imagem por Roy Strowd, MD. Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Histologia

  • Do tipo adamantinomatoso:
    • Observam-se massas epiteliais reticulares.
    • Células escamosas dispostas de forma compacta
    • Pequenas células dispostas em paliçada
    • Uma zona reticular estrelada cercada por uma camada basal de células
    • “Queratina húmida”: nódulos de queratina que se assemelham com gordura (a queratina húmida agregada é o que calcifica)
  • Do tipo papilar:
    • Ilhas de metaplasia escamosa e de tecido fibrovascular vistas num estroma de tecido conjuntivo
    • Sem nódulos de queratina

Investigações adicionais

Caso não tenham sido feitos inicialmente, deve-se proceder à realização de:

  • Exame neurológico completo
  • Avaliação oftalmológica
  • Investigações endócrinas:
    • Níveis de TSH
    • Níveis de GH
    • Níveis das gonadotrofinas:
      • Hormona folículo-estimulante (FSH)
      • Hormona luteinizante (LH)
    • Prolactina
    • Níveis de cortisol de manhã e de noite
    • Eletrólitos séricos
    • Osmolalidade do soro e da urina

Tratamento e Prognóstico

Opções de primeira linha

A cirurgia está indicada na maioria dos casos, embora existam 2 opções para o tratamento de primeira linha:

  • Abordagem agressiva: resseção cirúrgica total
    • A ressecção total é a abordagem de tratamento preferida.
    • A ressecção cirúrgica total depende da localização e do tamanho do tumor.
    • Deve ser especialmente ponderada em crianças, devido aos riscos de lesão hipotalâmica e défices neurológicos que podem resultar de uma ressecção cirúrgica total
  • Abordagem conservadora: resseção subtotal + radioterapia
    • Esta opção é considerada com mais frequência por garantir uma boa qualidade de vida no pós-operatório
    • Indicações:
      • Tumor residual após a cirurgia
      • Recorrência do tumor
    • Opções de radioterapia:
      • Radiocirurgia estereotáxica
      • Radioterapia com modulação de intensidade de radiação
      • Radioterapia por feixe de protões

Tratamento dos quistos

Embora o tratamento cirúrgico normalmente seja necessário, existem mais opções disponíveis para redução do tamanho/efeito de massa dos quistos, incluindo:

  • Aspiração percutânea (especialmente se o quisto afetar a anatomia ótica)
  • Braquiterapia intracavitária
  • Quimioterapia intracavitária (pode libertar-se conteúdo de um quisto e resultar em neurotoxicidade grave)

Complicações

  • Os craniofaringiomas podem cursar com várias complicações:
    • Endócrinas
    • Neurológicas
    • Visuais
    • Vasculares
  • O tratamento deve ser multidisciplinar, para poderem ser resolvidas questões específicas de cada doente.

Prognóstico

  • O prognóstico dos craniofaringiomas depende da recidiva tumoral.
  • Recorrências frequentes estão geralmente associadas a um mau prognóstico.
  • Taxas de sobrevivência:
    • Aproximadamente 90% de taxa de sobrevivência em 2 anos
    • Aproximadamente 85% de taxa de sobrevivência em 5 anos
  • Sobrevivência a 5 anos com base na idade:
    • 93% nos doentes entre 1-14 anos
    • 88% em adolescentes e adultos jovens
    • 78% nos doentes > 40 anos

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Diagnóstico Diferencial

As condições abaixo mencionadas devem ser consideradas aquando do diagnóstico diferencial de craniofaringiomas. Estas situações apresentam-se de forma semelhante e podem ser distinguidas recorrendo a exames de imagem e histologia.

  • Adenomas pituitários: tumores benignos da hipófise, muitos dos quais produzem hormonas. O tipo mais comum é um prolactinoma, embora os adenomas possam produzir qualquer hormona da hipófise. A apresentação clínica pode incluir dor de cabeça, fadiga, hemianopia bitemporal e/ou diplopia, e achados associados a níveis hormonais elevados. Tanto o craniofaringioma como os adenomas pituitários estão localizados na sela turca, mas os adenomas raramente apresentam quistos ou calcificações.
  • Glioblastoma multiforme: astrocitoma de grau IV rapidamente progressivo que surge de astrocitos (células da glia do cérebro) e que se apresenta clinicamente com dores de cabeça, náuseas, sonolência, visão turva, mudanças de personalidade e convulsões. Os exames de imagem, a apresentação clínica e a biópsia constituem os pilares fundamentais para o diagnóstico. O tratamento inclui radioterapia, quimioterapia e excisão cirúrgica. O prognóstico é desfavorável mesmo com tratamento. Ao contrário do hemangioblastoma, o glioblastoma multiforme não está associado à doença de von Hippel-Lindau (VHL)
  • Hemangioblastoma: Os hemangioblastomas são tumores raros frequentemente associados à doença de von Hippel-Lindau (VHL), e geralmente afetam o cérebro, embora também possam envolver a medula espinhal ou a retina. Os sintomas podem incluir dor de cabeça e défices neurológicos dependendo da localização do tumor. Embora os hemangioblastomas possam ter componentes sólidos e quísticos, estes localizam-se normalmente no cerebelo ou medula espinhal e geralmente não calcificam.
  • Meningioma: tumor que surge nas meninges do cérebro ou da medula espinhal. Os meningiomas são normalmente assintomáticos, mas a sua apresentação clínica pode incluir dores de cabeça, convulsões e distúrbios visuais. O diagnóstico é feito por ressonância magnética e biópsia. Os casos assintomáticos são normalmente mantidos sob vigilância, enquanto os doentes sintomáticos são submetidos a cirurgia ou a radioterapia. Ao contrário dos craniofaringiomas, os meningiomas estão sempre perto das meninges e muitas vezes têm achados de fixação dural (por exemplo, sinal de cauda dural).

Referências

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  3. Johns Hopkins Medicine (2020). Craniopharyngioma. https://www.hopkinsmedicine.org/health/conditions-and-diseases/craniopharyngioma
  4. Mayo Clinic (2019). Brain tumor – Craniopharyngioma. https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/craniopharyngioma/cdc-20354175
  5. Lakis, N. (2021). Adamantinomatous craniopharyngioma. Pathology Outlines. Retrieved April 14, 2021, from https://www.pathologyoutlines.com/topic/cnstumoradamcraniopharyngioma.html
  6. Lakis, N. (2021). Papillary craniopharyngioma. Pathology Outlines. Retrieved April 14, 2021, from https://www.pathologyoutlines.com/topic/cnstumorpapcraniopharyngioma.html
  7. Kiliç, M., Can, S.M., Özdemir, B., Tanik, C. (2019). Management of craniopharyngioma. J Craniofac Surg. 30(2), e178–e183. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30640850/
  8. Müller, H.L., et al. (2019). Craniopharyngioma. Nat Rev Dis Primers. 5(1), 75. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31699993/
  9. Kassam, A.B., et al. (2008). Expanded endonasal approach, a fully endoscopic transnasal approach for the resection of midline suprasellar craniopharyngiomas: A new classification based on the infundibulum. J Neurosurg. 108(4), 715–728. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18377251/

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