Cleptomania e Piromania

A cleptomania e a piromania pertencem ao grupo das perturbações do controlo dos impulsos, caracterizado pela incapacidade de resistir a impulsos que podem ter resultados prejudicais. As pessoas que sofrem destas perturbações experimentam sensações de ansiedade crescente antes da ação. Uma vez concluída a ação, os doentes sentem alívio apesar das consequências potencialmente perigosas. O tratamento inclui psicoterapia e determinados fármacos.

Última atualização: Dec 17, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Introdução

Definição

As perturbações do controlo dos impulsos como a cleptomania e a piromania são condições psiquiátricas caracterizadas por desejos e comportamentos extremos e/ou prejudiciais. Estas perturbações cursam com prejuízos significativos na vida social e profissional do indivíduo.

Diagnósticos incluídos:

  • Perturbação explosiva intermitente
  • Perturbação do comportamento
  • Cleptomania
  • Piromania

Fases da impulsividade

O comportamento impulsivo é rápido, insensível e sem restrições. Há 5 fases:

  • Impulso crescente
  • Aumento da tensão interna
  • A ação realizada traz prazer.
  • Sensação de alívio após a ação
  • Sentimentos de culpa/remorsos são substituídos por sensações de prazer e de alívio.

Fisiopatologia

  • Pensa-se que surge devido a alterações em determinadas áreas do cérebro:
    • Sistema límbico: responsável pela memória e pelas emoções
    • Lóbulo frontal: responsável pela tomada de decisão
  • Níveis aumentados de testosterona (responsável pelos comportamentos agressivos)
  • Relação com as vias dopaminérgicas (que controla os sentimentos de prazer e de satisfação): doentes submetidos a terapia com agonistas dopaminérgicos apresentam risco acrescido de desenvolverem uma perturbação do controlo dos impulsos.

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Cleptomania

Definição

Cleptomania é o impulso para roubar sem necessidade (por exemplo, os itens roubados são grátis, não têm valor, o doente não precisa deles ou poderia pagá-los), acompanhado por uma sensação de alívio ou de relaxamento após o roubo.

  • Os roubos são involuntários e não planeados.
  • Os itens roubados são geralmente descartados ou nunca são usados.
  • Os sintomas ocorrem frequentemente em momentos de stress.
  • Devem ser excluídas as seguintes condições:
    • Perturbação de conduta
    • Episódio maníaco
    • Perturbação de personalidade antissocial.

Epidemiologia

  • Incidência de 0,3%–0.6% (em comparação com a prevalência de 11,3% de roubos em lojas nos Estados Unidos)
  • Maior incidência no sexo feminino numa proporção de 3:1
  • Coexiste frequentemente com outras perturbações de humor e ansiedade

Tratamento

Psicoterapia:

  • TCC: tratamento principal; ajuda os doentes a identificar os fatores desencadeadores e a lidar com eles
  • Psicoterapia orientada para o insight: dessensibilização sistemática e condicionamento da aversão

Fármacos:

  • Os antagonistas dos opioides (por exemplo, naltrexona) parecem modelar as vias dopaminérgicas
  • Antidepressivos (por exemplo, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (SSRIs) como a paroxetina) e estabilizadores do humor (por exemplo, o topiramato) podem estar indicados no tratamento de condições comórbidas.

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Piromania

Definição

A piromania é uma perturbação onde o doente provoca incêndios de forma recorrente, intencional e sem ganhos secundários (por exemplo, receber dinheiro de um seguro ou para vingança). O ato é precedido por sensações de tensão/ansiedade ao qual se segue um sentimento de alívio ou excitação após o incêndio ter sido ateado.

  • Os fogos são normalmente ateados em locais aleatórios.
  • Pode levar a consequências danosas, embora esse não seja o objetivo do doente.
  • Devem ser excluídas as seguintes condições:
    • Perturbação de conduta
    • Episódio maníaco
    • Perturbação de personalidade antissocial.

Epidemiologia

  • Homens > mulheres
  • > 40% menores de 18 anos
  • Condições comórbidas:
    • Deficiência intelectual leve
    • Perturbação de ansiedade
    • Depressão

Tratamento

Terapias comportamentais:

  • A TCC ajuda os doentes a compreender a tensão que precede o início do incêndio e a encontrar outras formas de a libertar.
  • A terapia familiar é indicada para os jovens infratores.
  • Infratores recorrentes podem precisar de supervisão ou mesmo de encarceramento.

Fármacos:

  • Nenhum tratamento aprovado pela FDA
  • Pode incluir SSRIs e potencialmente fármacos estabilizadores do humor

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Diagnóstico Diferencial

  • Doença bipolar: doença psiquiátrica caracterizada por períodos de depressão e mania/hipomania. Parte da sintomatologia da condição inclui o impulso para procurar prazer ou se envolver em atividades perigosas, independentemente das consequências. Uma história clínica detalhada é fundamental para excluir episódios maníacos antes que cleptomania ou piromania possam ser diagnosticadas.
  • Perturbação de conduta: condição caracterizada por comportamento recorrente onde os doentes não cumprem com os direitos básicos dos outros por mais de 1 ano. Esta perturbação difere dos comportamentos de roubo/provocação de incêndio da cleptomania e da piromania, já que estes não tem o intuito de causar danos pessoais. Doentes com cleptomania ou piromania experimentam impulsos incontroláveis antes das suas ações.

Referências

  1. Sadock, B.J., Sadock, V.A., & Ruiz, P. (2014). Kaplan and Sadock’s synopsis of psychiatry: Behavioral sciences/clinical psychiatry (11th ed.). Chapter 19, Disruptive, Impulse-control, and Conduct disorders, pages 611-615. Philadelphia, PA: Lippincott Williams and Wilkins.
  2. Leppink, E. (2017). Kleptomania, pyromania, and disruptive disorders. DeckerMed Medicine.
  3. Dell’Osso, B., Altamura, A.C., Allen, A., Marazziti, D., & Hollander, E. (2007). Epidemiologic and clinical updates on impulse control disorders: a critical review. Eur Arch Psychiatry Clin Neurosci. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16960655/
  4. Billieux, J., Fineberg, N.A., King, D.L., & Rumpf, H.J. (2024). Disorders due to addictive behaviors and impulse control disorders. In G.M. Reed, P.L.J. Ritchie, A. Maercker, & T.J. Rebello (Eds.), A psychological approach to diagnosis: Using the ICD-11 as a framework (pp. 289–309). American Psychological Association. https://doi.org/10.1037/0000392-016

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