Acne Vulgar

A acne vulgar, também conhecida como acne, é uma patologia comum das unidades pilossebáceas que atinge adolescentes e adultos jovens. Esta condição ocorre devido a hiperqueratinização folicular, produção excessiva de sebo, colonização folicular por Cutibacterium acnes e inflamação. A acne pode apresentar-se com comedões abertos ou fechados, pápulas, pústulas, nódulos ou quistos. O diagnóstico é baseado no exame objetivo. O tratamento depende da gravidade e inclui cuidados com a pele, tratamentos tópicos, antibióticos e retinoides.

Última atualização: Apr 10, 2025

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Epidemiologia

  • A doença de pele mais comum nos Estados Unidos
  • Afeta cerca de 80% das pessoas em algum momento da vida:
    • Ocorre frequentemente na pré-adolescência, mas pode desenvolver-se na idade adulta
    • Geralmente desaparece na 4.ª década, mas pode persistir em alguns pacientes
    • 20% dos pacientes desenvolverão acne grave e cicatrizes.
  • Demografia:
    • Os rapazes são mais frequentemente afetados na adolescência.
    • As mulheres são mais propensas a desenvolver acne na idade adulta.
    • Os indivíduos de ascendência asiática e africana geralmente apresentam mais acne grave.
    • Os caucasianos apresentam mais frequentemente acne ligeira.

Etiologia

  • Predisposição genética (hereditariedade: 50%–90%)
  • Cutibacterium acnes (anteriormente conhecida como Propionibacterium acnes)
  • Fatores agravantes:
    • Variação hormonal:
      • Durante a puberdade ou o ciclo menstrual
      • Gravidez
      • Hiperplasia suprarrenal congénita
      • Síndrome do ovário poliquístico
    • Oclusão mecânica:
      • Soutien com aro
      • Bandoletes e fitas para o cabelo
      • Ombreiras
    • Cosméticos
    • Stress
    • Fármacos:
      • Lítio
      • Esteróides
      • Anticonvulsivantes
    • Dieta:
      • Laticínios (devido aos componentes hormonais no leite)
      • Alimentos com alto índice glicémico

Fisiopatologia

A acne vulgar é uma patologia da unidade pilossebácea (que inclui o folículo piloso e a glândula sebácea) que se caracteriza por 4 fatores patogénicos:

  • Hiperqueratinização folicular: coesão dos corneócitos → obstrução hiperqueratótica no folículo superior, provocando a retenção de sebo e formação de microcomedão
  • Produção excessiva de sebo:
    • Os andrógenios ↑ produção de sebo
    • O sebo acumula-se com a queratina → formação de comedão
  • Colonização de folículos por C. acnes:
    • O sebo atua como nutriente e meio de crescimento para C. acnes.
    • C. acnes produz enzimas que degradam a queratina e estimulam a inflamação.
  • Inflamação:
    • C. acnes desencadeia uma resposta imune inata → libertação de citocinas pró-inflamatórias → ativação de neutrófilos → inflamação perifolicular ligeira→ desenvolvimento de pápula ou pústula inflamatória
    • Neutrófilos e C. acnes libertam enzimas → rutura folicular na derme → uma resposta inflamatória mais acentuada e profunda → desenvolvimento de nódulo inflamatório (também conhecido como quisto)
Patogênese da acne vulgar ilustrada

Patogénese da acne vulgar:
Imagem representativa dos fatores patogénicos que promovem o desenvolvimento de comedão, pústula e nódulo. A obstrução do folículo por corneócitos resulta na acumulação de sebo. A colonização por C. acnes desencadeia uma resposta inflamatória, que pode levar à rutura folicular.

Imagem por Lecturio.

Vídeos recomendados

Apresentação Clínica

Classificação e apresentação das lesões acneicas

Acne não inflamatória (comedões):

  • Obstrução hiperqueratótica composta por corneócitos na porção inferior do infundíbulo folicular
  • Comedões abertos:
    • Conhecidos como “pontos negros”
    • Dilatação e obstrução do orifício folicular na superfície da pele
    • Contém material queratótico de cor castanha ou preta (devido à oxidação de ácidos gordos)
    • < 5 mm
  • Comedões fechados:
    • Conhecidos como “pontos brancos”
    • A obstrução ocorre no orifício folicular abaixo da superfície da pele.
    • Pápulas de cor da pele, branca ou cinzenta
    • Pele com textura suave
    • < 5 mm
    • Lesão precursora da acne inflamatória

Acne inflamatória:

  • Acne pápulo-pustulosa:
    • < 5 mm
    • Pápulas ou pústulas superficiais
    • Com inflamação
  • Acne nodular:
    • Com dor
    • Com inflamação
    • Muito mais profunda

Localização comum

  • Face
  • Pescoço
  • Parte superior do tórax
  • Costas
  • Ombros

Sequelas

  • Hiperpigmentação pós-inflamatória:
    • No local de uma lesão ativa ou em resolução
    • Aumento do risco em pessoas com tom de pele mais escuro
    • Pode persistir por meses
    • Resolução espontânea
  • Cicatriz:
    • Mais comum na acne inflamatória
    • Tipos:
      • Atrófica (cicatriz “ice pick” ou “boxcar“)
      • Hipertrófica
      • Quelóide
Cicatrizes atróficas de acne

Cicatrizes atróficas de acne em paciente com acne vulgar grave

Imagem: “Novel Technology in the Treatment of Acne Scars: The Matrix-tunable Radiofrequency Technology” por Ramesh M, Gopal M, Kumar S, Talwar A. Licença: CC BY 2.0

Variantes graves

As seguintes variantes são formas raras de acne que atingem mais frequentemente rapazes adolescentes e homens.

  • Acne fulminante:
    • Nódulos extensos, inflamatórios e dolorosos
    • Placas friáveis com:
      • Erosões
      • Úlceras
      • Crostas hemorrágicas
    • Geralmente ocorre no tronco
    • Pode estar associada a sinais e sintomas sistémicos:
      • Febre
      • Mal-estar
      • Artralgias
      • Esplenomegalia
      • Eritema nodoso
  • Acne conglobata:
    • Podem ser observados agregados de comedões abertos.
    • Coalescência de nódulos com formação de trajetos fistulosos (lesões extensas, flutuantes e lineares).
    • Pode ocorrer drenagem de conteúdo fétido
    • Com dor
    • Formação de cicatrizes extensas e irregulares.
    • Aumento da gravidade ao longo do tempo
    • Localizações mais comuns:
      • Costas
      • Tórax
      • Nádegas

Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico e baseado no exame físico. Não é necessária nenhuma análise laboratorial ou biópsia cutânea.

Aconselhamento do paciente

  • Cuidados com a pele:
    • Utilizar produtos de limpeza cutâneos adequados.
    • Utilizar cosméticos não comedogénicos e produtos cutâneos adequados.
    • Evitar mexer nas lesões ou esfregar a pele de forma agressiva.
  • Educação do paciente:
    • A acne vulgar é uma doença de longa duração.
    • Geralmente a melhoria dos resultados requer algum tempo e exige consistência com o regime de tratamento.
    • A resposta ao tratamento é variável.

Tratamento médico para doença ligeira

Estes tratamentos estão indicados em todos os pacientes com doença inflamatória, para prevenir o desenvolvimento de sequelas e complicações.

  • Retinóides tópicos:
    • Normalizam a hiperproliferação folicular e minimizam a inflamação
    • Também ajudam na hiperpigmentação pós-inflamatória
    • Opções:
      • Tretinoína
      • Adapaleno
      • Tazaroteno
  • Peróxido de benzoílo tópico:
    • Possui propriedades antibacterianas
  • Antibióticos tópicos:
    • Não utilizar em monoterapia pela resistência aos antibióticos
    • Opções:
      • Clindamicina
      • Minociclina
      • Eritromicina
  • Ácido salicílico:
    • Pode ser utilizado como alternativa aos retinóides tópicos
    • Apresenta como alvo a hiperproliferação folicular e a descamação anormal
  • Ácido azelaico:
    • Também pode ser utilizado como alternativa aos retinóides tópicos
    • Comedolítico, anti-inflamatório e apresenta propriedades antibacterianas
    • Também ajuda na hiperpigmentação pós-inflamatória

Tratamento médico para doença moderada e grave

Além das medidas acima mencionadas, podem ser adicionados os seguintes tratamentos:

  • Contracetivos orais e/ou espironolactona:
    • Em mulheres
    • Reduzem os efeitos androgénicos para diminuir a produção de sebo
  • Antibióticos orais:
    • Utilizar se paciente não for candidato a outros tratamentos sistémicos
    • Opções:
      • Tetraciclinas (antibiótico preferido)
      • Cefalosporinas
      • Macrólidos
      • Penicilinas
      • Trimetoprim-sulfametoxazol (TMP-SMX)
  • Isotretinoína:
    • Tem como alvo todos os 4 fatores patogénicos
    • Indicada para acne grave ou resistente (incluindo acne fulminante e acne conglobata)
    • Requer monitorização apertada pelo risco de:
      • Dislipidemia
      • Aumento das transaminases
      • Alterações da visão
      • Efeitos teratogénicos
    • Os pacientes devem utilizar 2 métodos contracetivos durante o tratamento e até 1 mês após o fim do mesmo.

Complicações e Prognóstico

Complicações

  • Impacto psicossocial devido à aparência da pele atingida pela acne:
    • Baixa autoestima
    • Ansiedade e depressão
  • Foliculite:
    • Pode desenvolver-se com o uso prolongado de antibióticos tópicos
    • Resulta frequentemente de microrganismos gram negativos
  • Doença de Morbihan:
    • Rara
    • Edema de tecidos moles e eritema da face
  • Pode ocorrer acne fulminans com o uso de isotretinoína (apesar de também ser um tratamento para esta condição).

Prognóstico

  • A acne vulgar é uma doença de longa duração.
  • A maioria dos casos acabará por desaparecer espontaneamente.
  • Em alguns pacientes, a acne pode persistir durante a vida adulta.
  • Globalmente, o prognóstico é bom com o tratamento.

Diagnóstico Diferencial

  • Rosácea: uma doença inflamatória crónica da pele associada a hiperreatividade capilar, geralmente observada em mulheres de meia-idade. Os pacientes apresentam eritema facial, telangiectasias, pápulas, pústulas e alterações fimatosas. A ausência de comedões distingue a rosácea da acne vulgar. O diagnóstico é clínico e a abordagem envolve a evicção de desencadeantes, cuidados de rotina com a pele, antibióticos tópicos e/ou orais e tratamentos com laser ou cirúrgicos.
  • Foliculite: uma condição comum da pele caracterizada por inflamação dos folículos pilosos devido a um agente infecioso (mais frequentemente por Staphylococcus aureus). Os pacientes apresentam prurido, pústulas foliculares e pápulas eritematosas. Não apresenta comedões. O diagnóstico é clínico. Geralmente o tratamento é de suporte, mas pode ser necessário o uso de antibióticos tópicos ou orais para os casos graves.
  • Hidradenite supurativa: uma doença inflamatória crónica do folículo piloso e estruturas associadas. Esta condição provoca a oclusão e rutura folicular que, por sua vez, causa abcessos, trajetos fistulosos e cicatrizes. Geralmente atinge as regiões axilar, inguinal e inframamária. O diagnóstico é clínico. O tratamento é baseado na gravidade e pode incluir antibióticos tópicos ou orais, corticosteroides intralesionais, retinóides orais, desbridamento ou excisão cirúrgica e fármacos imunossupressores.
  • Queratose pilar: uma condição comum que provoca pápulas foliculares pequenas e pontiagudas nas superfícies extensoras dos braços ou coxas secundárias à queratinização. Pode estar presente eritema. O diagnóstico é clínico. Não é necessário tratamento, mas podem ser utilizados ácido salicílico e retinóides.
  • Dermatite perioral: uma condição que provoca erupção eritematosa pápulo-pustulosa que se inicia nas pregas nasolabiais e progride perioralmente. Não estão presentes comedões. O diagnóstico é clínico. A abordagem envolve a evicção de agentes desencadeantes (como corticosteroides ou flúor) e antibióticos tópicos ou orais.
  • Hiperplasia sebácea: uma condição comum provocada pelo aumento das glândulas sebáceas. Pacientes com história de “pele oleosa” podem desenvolver pápulas umbilicadas, da cor da pele ou amareladas, que geralmente atingem a testa, o nariz e as maçãs do rosto. O diagnóstico é clínico, embora a biópsia possa ser realizada para excluir carcinoma basocelular (devido à sua aparência semelhante). Não é necessário tratamento, mas podem ser realizadas dermoabrasão, tratamento com laser, isotretinoína ou remoção cirúrgica por razões estéticas.

Referências

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  2. Thiboutot, D., Zaenglein, A. (2025). Pathogenesis, clinical manifestations, and diagnosis of acne vulgaris. In Ofori, A.O. (Ed.). UpToDate. Retrieved April 8, 2025, from https://www.uptodate.com/contents/pathogenesis-clinical-manifestations-and-diagnosis-of-acne-vulgaris
  3. Graber, E. (2025). Acne vulgaris: Overview of management. In Ofori, A.O. (Ed.). UpToDate. Retrieved April 8, 2025, from https://www.uptodate.com/contents/acne-vulgaris-overview-of-management
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  5. Rao, J., and Chen, J. (2020). Acne vulgaris. In James, W.D. (Ed.). Medscape. Retrieved April 8, 2025, from https://emedicine.medscape.com/article/1069804-overview
  6. Sutaria, A.H., Masood, S., and Schlessinger, J. (2023). Acne vulgaris. StatPearls. Retrieved April 8, 2025, from https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459173/
  7. Zito, P.M., and Badri, T. (2025). Acne fulminans. StatPearls. Retrieved April 8, 2025, from https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459326/
  8. Hafis, W., and Badri, T. (2023). Acne conglobata. StatPearls. Retrieved April 8, 2025, from https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459219/

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