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Acne Vulgar

A acne vulgar, também conhecida como acne, é uma patologia comum das unidades pilossebáceas que atinge adolescentes e adultos jovens. Esta condição ocorre devido a hiperqueratinização folicular, produção excessiva de sebo, colonização folicular por Cutibacterium acnes e inflamação. A acne pode apresentar-se com comedões abertos ou fechados, pápulas, pústulas, nódulos ou quistos. O diagnóstico é baseado no exame objetivo. O tratamento depende da gravidade e inclui cuidados com a pele, tratamentos tópicos, antibióticos e retinoides.

Última atualização: Jun 20, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Descrição Geral

Epidemiologia

  • A doença de pele mais comum nos Estados Unidos
  • Afeta cerca de 80% das pessoas em algum momento da vida:
    • Ocorre frequentemente na pré-adolescência, mas pode desenvolver-se na idade adulta
    • Geralmente desaparece na 4.ª década, mas pode persistir em alguns pacientes
    • 20% dos pacientes desenvolverão acne grave e cicatrizes.
  • Demografia:
    • Os rapazes são mais frequentemente afetados na adolescência.
    • As mulheres são mais propensas a desenvolver acne na idade adulta.
    • Os indivíduos de ascendência asiática e africana geralmente apresentam mais acne grave.
    • Os caucasianos apresentam mais frequentemente acne ligeira.

Etiologia

  • Predisposição genética (hereditariedade: 50%–90%)
  • Cutibacterium acnes (anteriormente conhecida como Propionibacterium acnes)
  • Fatores agravantes:
    • Variação hormonal:
      • Durante a puberdade ou o ciclo menstrual
      • Gravidez
      • Hiperplasia suprarrenal congénita
      • Síndrome do ovário poliquístico
    • Oclusão mecânica:
      • Soutien com aro
      • Bandoletes e fitas para o cabelo
      • Ombreiras
    • Cosméticos
    • Stress
    • Fármacos:
      • Lítio
      • Esteróides
      • Anticonvulsivantes
    • Dieta:
      • Laticínios (devido aos componentes hormonais no leite)
      • Alimentos com alto índice glicémico

Fisiopatologia

A acne vulgar é uma patologia da unidade pilossebácea (que inclui o folículo piloso e a glândula sebácea) que se caracteriza por 4 fatores patogénicos:

  • Hiperqueratinização folicular: coesão dos corneócitos → obstrução hiperqueratótica no folículo superior, provocando a retenção de sebo e formação de microcomedão
  • Produção excessiva de sebo:
    • Os andrógenios ↑ produção de sebo
    • O sebo acumula-se com a queratina → formação de comedão
  • Colonização de folículos por C. acnes:
    • O sebo atua como nutriente e meio de crescimento para C. acnes.
    • C. acnes produz enzimas que degradam a queratina e estimulam a inflamação.
  • Inflamação:
    • C. acnes desencadeia uma resposta imune inata → libertação de citocinas pró-inflamatórias → ativação de neutrófilos → inflamação perifolicular ligeira→ desenvolvimento de pápula ou pústula inflamatória
    • Neutrófilos e C. acnes libertam enzimas → rutura folicular na derme → uma resposta inflamatória mais acentuada e profunda → desenvolvimento de nódulo inflamatório (também conhecido como quisto)
Patogênese da acne vulgar ilustrada

Patogénese da acne vulgar:
Imagem representativa dos fatores patogénicos que promovem o desenvolvimento de comedão, pústula e nódulo. A obstrução do folículo por corneócitos resulta na acumulação de sebo. A colonização por C. acnes desencadeia uma resposta inflamatória, que pode levar à rutura folicular.

Imagem por Lecturio.

Vídeos recomendados

Apresentação Clínica

Classificação e apresentação das lesões acneicas

Acne não inflamatória (comedões):

  • Obstrução hiperqueratótica composta por corneócitos na porção inferior do infundíbulo folicular
  • Comedões abertos:
    • Conhecidos como “pontos negros”
    • Dilatação e obstrução do orifício folicular na superfície da pele
    • Contém material queratótico de cor castanha ou preta (devido à oxidação de ácidos gordos)
    • < 5 mm
  • Comedões fechados:
    • Conhecidos como “pontos brancos”
    • A obstrução ocorre no orifício folicular abaixo da superfície da pele.
    • Pápulas de cor da pele, branca ou cinzenta
    • Pele com textura suave
    • < 5 mm
    • Lesão precursora da acne inflamatória

Acne inflamatória:

  • Acne pápulo-pustulosa:
    • < 5 mm
    • Pápulas ou pústulas superficiais
    • Com inflamação
  • Acne nodular:
    • Com dor
    • Com inflamação
    • Muito mais profunda

Localização comum

  • Face
  • Pescoço
  • Parte superior do tórax
  • Costas
  • Ombros

Sequelas

  • Hiperpigmentação pós-inflamatória:
    • No local de uma lesão ativa ou em resolução
    • Aumento do risco em pessoas com tom de pele mais escuro
    • Pode persistir por meses
    • Resolução espontânea
  • Cicatriz:
    • Mais comum na acne inflamatória
    • Tipos:
      • Atrófica (cicatriz “ice pick” ou “boxcar“)
      • Hipertrófica
      • Quelóide
Cicatrizes atróficas de acne

Cicatrizes atróficas de acne em paciente com acne vulgar grave

Imagem: “Novel Technology in the Treatment of Acne Scars: The Matrix-tunable Radiofrequency Technology” por Ramesh M, Gopal M, Kumar S, Talwar A. Licença: CC BY 2.0

Variantes graves

As seguintes variantes são formas raras de acne que atingem mais frequentemente rapazes adolescentes e homens.

  • Acne fulminante:
    • Nódulos extensos, inflamatórios e dolorosos
    • Placas friáveis com:
      • Erosões
      • Úlceras
      • Crostas hemorrágicas
    • Geralmente ocorre no tronco
    • Pode estar associada a sinais e sintomas sistémicos:
      • Febre
      • Mal-estar
      • Artralgias
      • Esplenomegalia
      • Eritema nodoso
  • Acne conglobata:
    • Podem ser observados agregados de comedões abertos.
    • Coalescência de nódulos com formação de trajetos fistulosos (lesões extensas, flutuantes e lineares).
    • Pode ocorrer drenagem de conteúdo fétido
    • Com dor
    • Formação de cicatrizes extensas e irregulares.
    • Aumento da gravidade ao longo do tempo
    • Localizações mais comuns:
      • Costas
      • Tórax
      • Nádegas

Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico e baseado no exame físico. Não é necessária nenhuma análise laboratorial ou biópsia cutânea.

Aconselhamento do paciente

  • Cuidados com a pele:
    • Utilizar produtos de limpeza cutâneos adequados.
    • Utilizar cosméticos não comedogénicos e produtos cutâneos adequados.
    • Evitar mexer nas lesões ou esfregar a pele de forma agressiva.
  • Educação do paciente:
    • A acne vulgar é uma doença de longa duração.
    • Geralmente a melhoria dos resultados requer algum tempo e exige consistência com o regime de tratamento.
    • A resposta ao tratamento é variável.

Tratamento médico para doença ligeira

Estes tratamentos estão indicados em todos os pacientes com doença inflamatória, para prevenir o desenvolvimento de sequelas e complicações.

  • Retinóides tópicos:
    • Normalizam a hiperproliferação folicular e minimizam a inflamação
    • Também ajudam na hiperpigmentação pós-inflamatória
    • Opções:
      • Tretinoína
      • Adapaleno
      • Tazaroteno
  • Peróxido de benzoílo tópico:
    • Possui propriedades antibacterianas
    • Não deve ser utilizado em simultâneo com os retinóides tópicos
  • Antibióticos tópicos:
    • Não utilizar em monoterapia pela resistência aos antibióticos
    • Opções:
      • Clindamicina
      • Minociclina
      • Eritromicina
  • Ácido salicílico:
    • Pode ser utilizado como alternativa aos retinóides tópicos
    • Apresenta como alvo a hiperproliferação folicular e a descamação anormal
  • Ácido azelaico:
    • Também pode ser utilizado como alternativa aos retinóides tópicos
    • Comedolítico, anti-inflamatório e apresenta propriedades antibacterianas
    • Também ajuda na hiperpigmentação pós-inflamatória

Tratamento médico para doença moderada e grave

Além das medidas acima mencionadas, podem ser adicionados os seguintes tratamentos:

  • Contracetivos orais e/ou espironolactona:
    • Em mulheres
    • Reduzem os efeitos androgénicos para diminuir a produção de sebo
  • Antibióticos orais:
    • Utilizar se paciente não for candidato a outros tratamentos sistémicos
    • Opções:
      • Tetraciclinas (antibiótico preferido)
      • Cefalosporinas
      • Macrólidos
      • Penicilinas
      • Trimetoprim-sulfametoxazol (TMP-SMX)
  • Isotretinoína:
    • Tem como alvo todos os 4 fatores patogénicos
    • Indicada para acne grave ou resistente (incluindo acne fulminante e acne conglobata)
    • Requer monitorização apertada pelo risco de:
      • Dislipidemia
      • Aumento das transaminases
      • Alterações da visão
      • Efeitos teratogénicos
    • Os pacientes devem utilizar 2 métodos contracetivos durante o tratamento e até 1 mês após o fim do mesmo.

Complicações e Prognóstico

Complicações

  • Impacto psicossocial devido à aparência da pele atingida pela acne:
    • Baixa autoestima
    • Ansiedade e depressão
  • Foliculite:
    • Pode desenvolver-se com o uso prolongado de antibióticos tópicos
    • Resulta frequentemente de microrganismos gram negativos
  • Doença de Morbihan:
    • Rara
    • Edema de tecidos moles e eritema da face
  • Pode ocorrer acne fulminans com o uso de isotretinoína (apesar de também ser um tratamento para esta condição).

Prognóstico

  • A acne vulgar é uma doença de longa duração.
  • A maioria dos casos acabará por desaparecer espontaneamente.
  • Em alguns pacientes, a acne pode persistir durante a vida adulta.
  • Globalmente, o prognóstico é bom com o tratamento.

Diagnóstico Diferencial

  • Rosácea: uma doença inflamatória crónica da pele associada a hiperreatividade capilar, geralmente observada em mulheres de meia-idade. Os pacientes apresentam eritema facial, telangiectasias, pápulas, pústulas e alterações fimatosas. A ausência de comedões distingue a rosácea da acne vulgar. O diagnóstico é clínico e a abordagem envolve a evicção de desencadeantes, cuidados de rotina com a pele, antibióticos tópicos e/ou orais e tratamentos com laser ou cirúrgicos.
  • Foliculite: uma condição comum da pele caracterizada por inflamação dos folículos pilosos devido a um agente infecioso (mais frequentemente por Staphylococcus aureus). Os pacientes apresentam prurido, pústulas foliculares e pápulas eritematosas. Não apresenta comedões. O diagnóstico é clínico. Geralmente o tratamento é de suporte, mas pode ser necessário o uso de antibióticos tópicos ou orais para os casos graves.
  • Hidradenite supurativa: uma doença inflamatória crónica do folículo piloso e estruturas associadas. Esta condição provoca a oclusão e rutura folicular que, por sua vez, causa abcessos, trajetos fistulosos e cicatrizes. Geralmente atinge as regiões axilar, inguinal e inframamária. O diagnóstico é clínico. O tratamento é baseado na gravidade e pode incluir antibióticos tópicos ou orais, corticosteroides intralesionais, retinóides orais, desbridamento ou excisão cirúrgica e fármacos imunossupressores.
  • Queratose pilar: uma condição comum que provoca pápulas foliculares pequenas e pontiagudas nas superfícies extensoras dos braços ou coxas secundárias à queratinização. Pode estar presente eritema. O diagnóstico é clínico. Não é necessário tratamento, mas podem ser utilizados ácido salicílico e retinóides.
  • Dermatite perioral: uma condição que provoca erupção eritematosa pápulo-pustulosa que se inicia nas pregas nasolabiais e progride perioralmente. Não estão presentes comedões. O diagnóstico é clínico. A abordagem envolve a evicção de agentes desencadeantes (como corticosteroides ou flúor) e antibióticos tópicos ou orais.
  • Hiperplasia sebácea: uma condição comum provocada pelo aumento das glândulas sebáceas. Pacientes com história de “pele oleosa” podem desenvolver pápulas umbilicadas, da cor da pele ou amareladas, que geralmente atingem a testa, o nariz e as maçãs do rosto. O diagnóstico é clínico, embora a biópsia possa ser realizada para excluir carcinoma basocelular (devido à sua aparência semelhante). Não é necessário tratamento, mas podem ser realizadas dermoabrasão, tratamento com laser, isotretinoína ou remoção cirúrgica por razões estéticas.

Referências

  1. Thiboutot, D., Zaenglein, A. (2019). Pathogenesis, clinical manifestations, and diagnosis of acne vulgaris. In Ofori, A.O. (Ed.). UpToDate. Retrieved February 23, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/pathogenesis-clinical-manifestations-and-diagnosis-of-acne-vulgaris
  2. Graber, E. (2021). Acne vulgaris: Overview of management. In Ofori, A.O. (Ed.). UpToDate. Retrieved February 23, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/acne-vulgaris-overview-of-management 
  3. Keri, J.E. (2020). Acne vulgaris. MSD Manual Professional Version. Retrieved March 2, 2021, from https://www.merckmanuals.com/professional/dermatologic-disorders/acne-and-related-disorders/acne-vulgaris
  4. Rao, J., and Chen, J. (2020). Acne vulgaris. In James, W.D. (Ed.). Medscape. Retrieved March 2, 2021, from https://emedicine.medscape.com/article/1069804-overview
  5. Sutaria, A.H., Masood, S., and Schlessinger, J. (2020). Acne vulgaris. StatPearls. Retrieved March 2, 2021, from https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459173/
  6. Zito, P.M., and Badri, T. (2020). Acne fulminans. StatPearls. Retrieved March 2, 2021, from https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459326/
  7. Hafis, W., and Badri, T. (2020). Acne conglobata. StatPearls. Retrieved March 2, 2021, from https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459219/

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